CONTA DOR...

...E'....conta dor mesmo, '' ele'' era contador , mas nunca me deixou na saudade, na dor da saudade, e eu sei como doi uma saudade de amor, doi muito, muito, e fica pingando, gota a gota como se fosse um conta gota...plim, plim, uma , duas, e cada gota pode representar um dia da nossa vida, minha e dele e para quem nao acredita em destino, leia esta, quem sabe passa a acreditar...conta gota, uma, duas, plim, plim..e conta a dor que cada gota provoca, milhares!!!e la' vou eu no tunel do tempo em busca do passado, nao tao remoto ainda, e foi assim:-

"" Eu tinha dezesseis anos, depois do colegio ia para a loja de minha mae, hoje a loja e' minha, minha mae se aposentou e eu assumi e estava eu por ali, ajudando a nao fazer nada e minha mae atarefada atendendo fregueses e entrou dona Maria e seus dois filhos gemeos, Claudio e Paulo...tinham deis anos, mas pareciam que tinham menos, Claudio era loirinho, magrinho e Paulo era moreno, mais encorpadinho e eu achando que eles teriam seis ou sete anos e ficaram por ali, correndo, mexendo e de repente Paulo caiu, machucou, chorou e eu fui acudir, carreguei no colo, curei o dodoi, beijei, limpei e ele ficou grudado em mim...e dei atencao tambem para Claudio, vi que tinha ficado com ciumes, tadinho!!! e dona Maria tinha vindo buscar roupas que minha mae tinha costurado para ela, ela estava de mudanca da cidade, foi morar longe, nunca mais a vi e nem ninguem da familia dela. Eu era seis anos mais velha que os dois gemeos.

Dezesseis anos depois, eu agora tinha trinta e dois e o contador, seo Nestor, que fazia a contabilidade da loja desde o inicio, se aposentou, vendeu o escritorio e me comunicou que a partir do mes seguinte seria um novo contador que passaria para apanhar os papeis ou entao viria a Neusa mesmo, ela era antiga funcionaria do seo Nestor e eu dizendo tudo bem e me esqueci destes detalhes...

Uma tarde, quase seis horas, eu ja' preparando a loja para fechar e entra um '' bruta moreno lindo, nao muito alto nao, talvez 1,70 no maximo, meio gordinho, mas com uma cara de bebe chorao lindao, uns olhos castanhos, um cabelo preto espesso e um olhar de enlouquecer e a boca entao??? Deliciosa!! calca , camisa e sapato social, sem gravata e uma pasta na mao...Amelia?..eu eu ouvindo uma voz de coro de anjos...

Sim? sou eu

Sou o novo contador, meu nome e' Paulo, prazer e me estendeu a mao e eu peguei, apertei firme mas com pernas bambas...

Prazer Paulo, quer sentar? e indiquei a cadeira, e ele sentou e eu tambem e ele dizendo que veio pessoalmente a primeira vez, para que eu conhecesse, soubesse quem ele era, e estava fazendo isto com todos os antigos clientes do seo Nestor , agradeci e fui pegando a pasta de documentos , entreguei 'a ele e demos mais uns dedos de prosa, falamos de contabilidade e ele me dizendo que ia verificar tudo da minha loja e me comunicaria....despediu e se foi e eu fiquei nas nuvens, pendurada de ponta cabeca, que se fico de pe', na posicao certa, cairia das nuvems...e para nao cair, ja' fiquei caida mesmo, e babando, muito, muito e nao vi alianca nenhuma na mao dele e tentanto adivinhar:- 26...28...ou 30?...nao consegui, desisti, fui embora pra casa, e na hora de dormir pedi...me de '' ele'', nao sonhei, tive pesadelos com outros, que horror!!!

Durante um mes nao mais o vi. Veio de novo com um balancete na mao, me explicando tudo e eu so' querendo saber da parte do leao, quanto teria que pagar para este leao faminto e prefeitura, estado, bla bla bla...e ele me explicava tudo, eu nada entendia, sabia apenas que tinha que fazer cheques e pagar, o resto, era o resto e assim foram varias vezes durante uns seis meses e eu sofrendo de '' afogamento de chana aguda'' e so' no desejo me molhava, nao passava, nao sarava...credo, pensava, que coisa!!!

Um dia ,que la' se iam quase sete meses, ele veio e eu ja' estava fechando a loja, falamos de contabilidade, de notas, de pagamentos e ele me convidou, de sopetao:- toma um chop comigo?

Se for so' um chop nao, agora se for dois ou mais chops sim, disse eu rapida e rasteira e la' fomos nos, ele me seguiu, guardei meu carro na garagem, subi no carro dele e fomos para Jundiai tomar nossos chopssssss....delicioso, espumante chopsssss com tira gosto de todo jeito que eu pedia ele mandava vir...fiquei alegre, um pouco alta, mas me contive e ele bebeu bem tambem...e como diz o ditado:- boca de bebado nao tem dono, comecamos a falar, soltar nossas vidas e ele me falando de passado, eu tambem, ele dizendo nomes, da mae, do pai, do irmao gemeo, Claudio, dona Maria e seu Jose...e eu no meu torpor Bacolino nem imaginando nada, e ele falando que tinha nascido aqui na minha cidade e que se mudou aos deis anos...e me deu um estalo e me lembrei perfeitamente , eu beijando os pezinhos dele, as maozinhas, curando o dodoi dele e acariando seu rostinho e do seu irmao e perguntei se ele lembrava de mim....nao, nunca te vi Amelia...e eu disse tudo, nao se lembrou...que pena!!!

Voltamos de Jundiai alegres, felizes, e ele me deixou no portao de casa, me deu um abraco, um beijo no rosto e se foi, eu fiquei ouvindo o ronco do carro dele indo embora...meu coracao foi com ele, ficou vazio meu peito, eu estava amando...tonta!!! sou assim mesmo, amo 'a toa, 'a toa....nasci assim, vou morrer assim, romantica!!

Uma sexta ele me liga, posso passar ai agora? eu disse sim

Veio, me chamou para tomar um refrigerante na pastelaria do Chino, fomos, e la' ele me convidou...vamos? para Lindoia, Aguas de Lindoia, agora?, voce pode? eu nao podia, mas fui, dei um jeito com Margo, ela entendeu, fechou a loja para mim...abriu no sabado e eu fui tomar agua que passarinho nao bebe...agua saborosa de Aguas de Lindoia...duas horas de viagem e '' nois'' la' no sossego, na paz, ele achou um hotel lindo, aconchegante e me perguntou :- dois quartos ou um...e eu respondendo:- um so', fica mais barato e ri...ele riu e pegou a chave do quarto mais lindo que ja' vi ser '' ninho de amor''...

Ohhhh homem bao sohhh!!! durante a viagem me contou tudo, o que podia, pedi a ele, nao me conte segredos, eu nao sou mulher de guardar segredos, porisso nao me conte, se me contar, na segunda nao resisto e ja' vou contando para Margo e ri, ele nao contou entao o que nao podia e eu que nao sou boba nem nada, tambem so' contei o que queria e podia, eu heim??? e eu pensando:- imagina? carreguei no colo e agora ele e' que vai me carregar no colo, forca ele tem, e muita, e' pesadao, eu sou falsa magra, mas tenho ossatura leve e nem que fosse pesadona eu pulava no colo dele e fazia ele me carregar, ahhh se fazia!!!...fazia nao, faco.

Entramos no ninho de amor, fiquei parada olhando, e ele veio por tras me enlacou gostoso, me beijava o pescoso, delicosos beijos molhados e foi me virando devagar, devagarinho, eu eu languida, solta, leve e ele me tomando, me fazendo desejar mais ainda ele, o lindo Paulo, da boca deliciosa, dos olhos castanhos leais e fui me despindo e ele tambem, como um bailado, uma danca sem pressa, como no comeco da musica "" Bolero'', no ritmo do compasso batido de leve e que vai num ''crescendo, crescendo'', ate' a explosao final...que lindo o Bolero de Ravel, eu ouvia acreditam? e quando estavamos no jardim do edem, e vimos que estavamos sem o criador por perto, eu ofereci minha maca e a '' cobra'' dele comeu todinha, a minha maca, gulosa, nao deixou nem o cabinho da cobra pra fora...engoliu, inteira!!! a cobra se '' fudeu'' desta vez, quis bancar a esperta e se deu mal, mal nao, bem....acabou bem, uma , duas, como um conta gotas, o contador contava as fodas dadas, uma, duas e eu querendo mais, nem fome tinha, e um cheiro delicioso de sopa, de comida caseira enchia o ar...fomos jantar.

Ali mesmo no hotel, a senhora , um amor de velhinha, era a mae do proprietario, ela mesma ajudava na cozinha, que delicia de jantar...ouvimos musica, que tinha por ali, violerios e cantadores, demos uma volta pela cidade, cheia de turistas na praca, gente descansando da cidade grande, como nos dois, e foi ficando friozinho la' naquelas montanhas e voltamos de novo, a pe' para o hotel, paramos ainda em algumas lojinhas de artesantos e deixamos para amanha o que poderiamos fazer hoje, gastar, mas nossa pressa era

'' engatar'', de novo, e la' fomos nos....brincar de trenzinho!!!

E engatamos, desengatamos, e dormimos gostoso, bem abracadinhos que nem dois pombinhos, ou seria? passarinho?, mas pensando bem nem pombo nem passarinho dormem abracados, entao seria como dois cachorrinhos? tambem nao?, entao deixa pra la'.

Eu trinta e dois, quase trinta e treis....ele, vinte e seis, quase vinte e sete, solteiros os dois, o que ele feiz? me levou para conhecer a mae dele, dona Maria...eu ja' conhecia, ele dizia que nao e quando chega la', olha a cara da mulher, da minha '' futura'' sogra, de queixo caido e olhar atrevido, me apertando a mao e logo dizendo:- Amelia? voce?...quem diria? e eu pensando ca' com meus botoes:- ( quem diria o que? o que? quero saber? nunca soube!!!) e ela me perguntando de minha mae, me lembrando do dia que os gemeos cairam e eu acudi, me fazendo me sentir '' velha'' acabada, mas nao me senti mesmo, eu estava linda e charmosa para uma '' balzaquiana'' gostosa, se estava..e tinha irmas dela por la', a mae dela tambem e ficaram nas perguntas e eu dando respostas, me colocaram na roda e eu acabei dancando conforme a musica, da desconfianca com a maldade na alma, que coisa, que gente!!! e o pai dele nao, me abracou, perguntou do meu pai, disse que tinha falecido e ja' foi me oferendo vinho, o que aceitei de bom grado e Paulo tomou tambem, e almocamos gostoso , passei horas por la' e '' elas'' tiveram que me aceitar...a velha, a sabugosa, a rodada mais que pneu de taxi, a usada e abusada tinha agora apanhado na rede o Paulo, filhinho dela e sobrinho delas e neto dela...o pai dele nos deu os parabens e nos mandou viver a vida louca...que coisa '' loca''!!! e quando vi Claudio ele tambem nao me reconheceu, nao se lembrava de mim...nao faz mal, dizia eu, agora me conhecem, e Paulo melhor ainda, lindo Paulo

Amei tanto no comeco , e amo ainda, estamos juntos, ele la' eu ca'...vivemos assim, cada um no seu canto, e quando o '' canto'' do Sabia' do papo amarelo e' muito chorao, chora de saudade da '' Piriquita Flores'', um telefonema basta para que o Sabia' cante para sua amada Piriquita Flores a valsa do quero mais, e a valsa do adeus fica sempre sendo '' adiada'' para depois, depois, depois.....nos gostamos mesmo e' do Bolero, do Ravel, tam tam tam.....tancham tancham.....quer coisa mais movimentada?? quero nao, ja' basta.

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 29/04/2010
Código do texto: T2225921
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