UM INTERESSANTE E ENGANOSO CONTO DE AMOR

Sedutora, após ter labutado com as costuras, tomado o seu banho demorado e, suavemente, espalhado na pele a alfazema do campo, Joaninha postou-se, uma vez mais, ao final da tarde, sobre a velha cancela de seu pequeno sítio, da qual vislumbrava, com incontida melancolia, o desmantelo do sol sertanejo, para ela provocador das mais ternas recordações daquele que afinal foi a sua verdadeira e única paixão na vida: Rubinho da Viola.

Muito festivo e de clima mais ameno do que a quentura invariavelmente presente na maioria dos outros meses do ano, o mês de junho nos sertões iniciava-se, em boa parte das localidades, com as alegres alvoradas, comandadas pelo toque singular dos pífaros, pela marcação da tradicional zabumba, pelo repique frenético das caixas e pelo repetido pipocar dos fogos. Celebrava-se, desde o primeiro dia, o dito santo casamenteiro, o Santo Antônio, e a bucólica e tão aprazível Belo Monte, na entrada da qual ficava o sítio de Joaninha, recebia os visitantes advindos das mais distantes paragens.

No cortejo de alegria e fé, que contagiava aos moradores da pacata localidade, destacavam-se, chegados ali após longas e animadas caminhadas, os fervorosos pagadores de promessas, a gente humilde das roças, alguns doentes e aleijados mais contritos e, em especial, os sempre orgulhosos e saudosos filhos das poucas famílias de recursos ali existentes, mais inteirados das mudanças e dos modismos das cidades desenvolvidas, trazidos pelos caminhões de aluguel. Alguns poucos, porque materialmente melhor aquinhoados, desciam do trem fumarento na bucólica Estação Trabubu, vindos da capital, a velha e atraente Cidade da Bahia, a Salvador de todos os santos e festas.

Compenetrados e paparicados, traziam intrigantes notícias daquela cidade poeticamente cantada em face de seu casario barroco, de suas íngremes ladeiras e majestosas igrejas, de seus becos misteriosos e densos coqueirais, a cidade-fortaleza, o primeiro e faustoso implante ultramarino português edificado em terras de sua imensa colônia, acolhido pelas águas azuis e tão transparentes de sua profunda baía, que afinal lhe dava beleza e sustendo. À primeira vista dos navegantes, insinuava-se como um imenso presépio. No seu movimentado porto ancoravam embarcações de muitas bandeiras e, num passado ainda recente, ali chegavam, estropiados e desprovidos de qualquer defesa, padecidos pelos horrores vivenciados nos porões dos tumbeiros, os negros traficados em diversos portos africanos, período em que a pele humana era cobiçada mercadoria, pois grande era a procura e caras as ofertas!

Aqueles jovens sertanejos partiam entusiasmados, mas, ao mesmo tempo, muito preocupados com as obrigações de se dedicar, com esmero, aos estudos mais qualificados, pois severa a exigência dos pais para que bem representassem, através de um comportamento altivo, o seu rincão sertanejo. Cônscios dos preconceitos que enfrentariam e das dificuldades atinentes ao aprendizado educacional da cidade grande, ainda assim, orgulhosos eles levavam na bagagem um saber singular, marcado apaixonadamente pelo sentimento de pertença a sua terra e a sua rica cultura, além dos afetos inegociáveis por suas famílias.

Naquele inesquecível junho de 1946, ano indelevelmente pontuado por freqüentes turbulências no cenário político do país, porque muito vivas ainda as mazelas decorrentes do período ditatorial varguista, as notícias que Verinha e Verônica trouxeram para Joaninha não foram, por certo, as desejadas. As mocinhas eram, além de gêmeas, notadamente bonitas e muito unidas, e estudavam na capital, recomendadas pelo pai, o austero fazendeiro Hélio Macambira, ao seu mais velho irmão, magistrado de ilibada reputação, o insigne Doutor Oscar Macambira, morador do histórico outeiro da Graça.

Segundo o relato das fiéis e ansiosas amigas, Rubinho, o indomável sedutor e que das cantorias auferia as suas freqüentes conquistas, estava, talvez pela primeira vez, apaixonado por uma moça obviamente desavisada, nascida em rico berço, soteropolitana e cinco anos mais velha do que ele. O arrebatamento do esperto cantador deu-se justamente na badalada festa em que a jovem completara os seus 25 anos. Rubinho - delataram as gêmeas - teria sido o convidado especial e na oportunidade produzira, através do seu canto, o intencional encanto que então seduziu ao coração da aniversariante. Ambos, tomados de uma abrupta paixão, logo assumiram o relacionamento, ignorando, com impensável ousadia, as reprovações do pai da moça, Doutor Américo Viana, um velho e conservador político baiano, então deputado na capital federal.

Duplo desgosto para Joaninha, pois, além da indesejada notícia, a informação subseqüente de que o novo e apaixonado casal chegaria a Belo Monte, no terceiro dia da trezena de Santo Antônio, concorreu, logicamente, para o agravamento de sua tristeza. Quanta desdita para quem lidava com uma ausência tão querida!

Rubinho era mesmo exímio tocador de viola e portador de uma lábia inegavelmente sedutora. Quando de sua partida de Belo Monte com destino a capital, para, através da música, ganhar fama e fazer parte, segundo as suas pretensões, do chamado mundo artístico baiano, ele já havia flertado, algumas vezes, com a meiga Joaninha, roubando-lhe, inclusive, nas duas últimas tentativas, dois ardentes beijos. Após o gesto, prometeu casório tão logo as suas condições materiais assim o permitissem. A promessa era, sem dúvida, muito romântica: obtendo trabalho, e por conseqüência fama e dinheiro, voltaria de imediato a Belo Monte e roubaria a sua “eterna” e clandestina amante, arrancando-a corajosamente das garras de seu velho pai, o que – gabava-se Rubinho sob delírios e convencimentos insuspeitados - causaria imensa inveja às diversas meninas da pobre localidade sertaneja. Enredo, certamente, para um inesquecível conto de amor!

Assim, vencidas as três primeiras noites da Trezena, a angústia apoderou-se, sem freios, do peito de Joaninha, resultando em incômodas insônias, pois já imaginava como seria doloroso testemunhar o seu apaixonado Rubinho atrelado aos braços de outra mulher, ainda mais sendo a concorrente tão rica e, conforme o preocupante relato das próprias amigas alcoviteiras, bonita e bastante melosa.

Joaninha, assim como a maioria das mocinhas bem educadas das pequenas localidades sertanejas, fiéis aprendizes dos rígidos dogmas católicos, sonhava com o seu príncipe encantado, o qual, sob chuvas de pétalas e de arroz, com ela desceria de braços dados as escadarias da igreja. Feliz e por todas as concorrentes invejada, exibiria o tradicional vestuário indicador da pureza feminina. Lívida, perante o sacerdote e aos mais nobres residentes do lugar, confirmaria a realização dos seus sublimes desejos. Filhos amados, as devidas prendas para com o novo lar e a inviolável fidelidade conjugal seriam os seus próximos e imprescindíveis comprometimentos. Portanto, há de se considerar que o desmanche de tão caros desejos e de tão ditosos sonhos só poderia mesmo resultar numa angústia difícil de ser brevemente curada!

Era, de fato, muito dengosa a tal da Ana Beatriz Viana, pois que nascida em berço de ouro e sendo a única filha do casal soteropolitano, conquistava, através de seus acessos bem representados de menina carente e ciumenta, todos os seus desejos e vontades, inclusive o de viajar apenas com a insegura companhia de uma já caduca tia encalhada, e a do folgado pretendente, apesar da exigência paterna para que ambas, tia e sobrinha, bem longe do namorado, se hospedassem na única e precária pensão existente em Belo Monte. Para a época, no que pese a condição estipulada, era mesmo uma permissividade pouco testemunhada.

A chegada dos filhos belomontenses para os regalos dos treze dias de festa - onde o profano, ao final das noites, substituía o sagrado - causou, como sempre, grande alvoroço na pequena localidade. De Juazeiro da Bahia, sítio mais desenvolvido e dadivosamente banhado pelo majestoso Rio São Francisco, onde muito farreavam e vendiam suas quinquilharias, chegaram Zé de Firmino, o alcunhado “Firmino Pai das Treitas”, tirado a “filósofo sexual” e contumaz freqüentador das putas da “Casa de Zefa”; Tonho do Fole, desde criança bom tocador de sanfona; e Mané Cuiúda, incorrigível fofoqueiro e cínico contador de lorotas as mais cômicas e, por isso mesmo, os seus longos “causos” eram sempre prestigiados por concorrida audiência. Outros, que não integravam a plêiade farrista, também chegavam ansiosos para retomar o saudável convívio dos seus amigos de infância e com estes reviver os prazeres do Belo Monte adorado.

Sem perda de tempo, os três fogosos rapazes logo solicitaram ao velho Padre Antero a concessão do bem cuidado salão paroquial para realizar, segundo a tríade do barulho, um forrobodó respeitoso, em justa homenagem aos filhos que, em razão dos compromissos de trabalho e dos estudos, estavam distantes da amada cidadezinha, desejado para o último dia da Trezena. Legislavam, sem qualquer modéstia, em causa própria, homenageando-se, portanto, a si mesmos!

O espaço religioso requisitado era mesmo o local ideal para comes, bebes e sacudidelas de esqueletos. Ainda relutante, pois conhecia bem a diferença entre as intenções prometidas antes da festa e os seus reais resultados, Padre Antero, sem querer afugentar aos festeiros pedintes – pois que haviam prometido boas doações para os leilões que aconteciam ao final das noites, após as rezas e procissões – cedeu o espaço mediante duas indesejáveis condições: “sem bebida alcoólica e com término inegociável às 24 horas”. Feito o pacto, ambas as condições não seriam, como de fato não foram, respeitadas.

Os jovens de Belo Monte, então sabedores da programação reservada para o final dos atos religiosos do dia 13, trataram de se arranjar com roupas novas e de conquistar as melhores companhias para se apresentar no evento, o que significava “fazer bonito” na prometida festa. Ganhavam os feirantes, os donos das acanhadas lojas, as costureiras e as manicures, pois ninguém, e em particular as salientes mocinhas, queria ser o mote de futuras chacotas ou de comentários desairosos. O cenário era pontuado de disputas, emoldurado pelas vãs vaidades.

Chegado o apaixonado casal à cidade, muitos foram os olhos surpresos não somente pelo fato do astuto galanteador Rubinho estar realmente enrabichado, portanto de compromisso sério com uma namorada, mas, também, pela expressiva beleza da moça visitante. Os movimentos incubados e nervosos das mãos dos marmanjos, alcunhados, com a maliciosa expressão “cinco para um”, delirantemente aconteceram logo nos primeiros dias, nos mais diversos esconderijos, caseiros ou não! É que o rostinho belíssimo, de boneca sapeca, que a mocinha da capital exibiu, tão compenetrada, ao descer do trem na estação, e também o balanceio do seu traseiro arredondado, dir-se-ia escultural, plantado, com rara perfeição, sobre grossas e roliças coxas, causaram verdadeiro desequilíbrio nos sentidos alheios! Assim, raiva e inveja nas meninas! Vis desejos e exageradas excitações nos sequiosos tarados de plantão!

O percurso da Estação Trabubu, passando pela Praça da Igreja Matriz até o decaído pensionato de Dona Eufrásia, foi notícia de primeira ordem e logicamente socializada por toda a cidade. E diante de tão inusitado rebuliço, ninguém, acaso houvesse alguma indagação a respeito, saberia descrever a velha tia que a acompanhava, de certo como incompetente vigilante. Chamava-se Dona Esmeralda, todavia identificada pela melosa sobrinha por “Tia Memé”. Todos, cegos para a velha, figuravam absortos ante a presença da mocinha espadaúda e, abobalhados, exclamavam: “que monumento de mulher!”.

Mané Cuiúda, despeitado e coçando irritantemente a sua desgrenhada barba, logo deu a sua sentença para o ocorrido: “chá de carçola com vil interesse pecuniário”. As putinhas, arregalando os seus olhos invejosos, rogaram a praga: “não passa de mês o colóquio”. Firmino Pai das Treitas, num tom melancólico após o trago numa “Quebra-Facão”, filosofou descrente: “menina bonitinha e muito mimada não apetece e nem convence nas treitas do amor”. Até o bêbado Jajão, metido à repentista depravado e que sempre perambulava buliçoso pelas imediações do açougue, lívido disparou: “óia que rabo indolente minha gente! Mexe faceiro e logo o meu pinto sente”. Ao que Dona Zefa, experiente cafetina e afinal iniciadora clandestina da vida sexual da maioria dos falantes ali tão contrariados e sedentos, retrucou soberana: “deixem de maldade e de dor de cotovelo. Entre paredes falam mais altos os mistérios do amor”. E a risada nervosa dos rapazes, acompanhada da reflexão preocupante das moçoilas, logo ecoaram e tomaram conta daquele ambiente etílico e prazeroso. Era um assunto por demais apetitoso numa cidade carente de boas novidades e gostosos agitos.

Por falar em agitos e fofocas, um parêntese para dois interessantes causos que a “velha-guarda” belomontense sempre faz questão de reavivar na memória dos seus conterrâneos mais jovens e, claro, de propagandeá-los também para os seus freqüentes visitantes. É que desde os tempos do mendigo “Doutor” - já que sempre coberto de panos brancos, no que pese o perceptível encardido de seu vestuário! - que o Belo Monte não aspirava a um ar tão contagiado por reles intrigas e fantasiosos deslumbramentos. Boa memória e bom humor quase sempre pontuaram os causos ditados pelos sábios narradores sertanejos.

Dizia-se que Doutor, à época de suas inquietantes traquinagens, apesar de suas vestes assombrosas e de seu hálito fedido e nauseante, invadia, durante o anonimato das madrugadas, as seletas alcovas das donzelas e, não se imagina como, as conquistava arrebatadamente, deixando, ao evadir-se saciado, minúscula cruz vermelha desenhada propositadamente em alguma parede mais oculta da residência visitada. Até hoje não se atina se o símbolo e a sua rubra cor, em consonância com o vestuário do meliante, respondem a um frustrado desejo de não ter sido um profissional da medicina, ou porque simplesmente significava a “morte” moral para as suas, como se dizia à boca pequena, seduzidas vítimas.

O fato é que as travessuras desse “mendigo-conquistador” muito atormentavam aos homens probos da cidade, em particular os que tinham, em suas resguardadas proles, belas jovens debutantes. Descoberto o sinistro e denunciante desenho, o acontecido tornava-se notícia imediata nas conversas que os rudes cachaceiros envidavam nas latadas da zona e nas barraquinhas da feira e, também, em assunto predileto da incontrolável fofocaria ensejada pelas mocinhas despeitadas. Socializado o grave delito, Doutor sutilmente desaparecia da localidade para surgir, tempos depois, quieto e desconfiado, como se realmente nada houvesse acontecido e muito menos ter ele qualquer culpa a reparar. O seu sumiço, é lógico, mais enriquecia aos burburinhos, creditando desditas às famílias das casas maculadas pela pecaminosa e indesejada cruz! Entretanto, após uma de suas noturnas e fantasiosas visitas, consumada, segundo os relatos dos antigos belomontenses, na vivenda do Promotor Juarez Cerrado, o mendigo Doutor desapareceu para nunca mais voltar. Simplesmente escafedeu-se!

O segundo causo remonta às peripécias protagonizadas pelo talentoso travesti alcunhado “Silvinha”, o qual, semelhante no gosto pela cor branca predominante do vestuário daquele rude mendigo da noite, surgia inopinadamente quando das primeiras horas da concorrida feira, vestido em longas batas e em saias alvíssimas, ambas pontuadas de bordados, torço na cabeça, toda maquiada, tendo os braços entulhados de extravagantes pulseiras e carregando incontáveis colares no seu pescoço grosso que lhe denunciava a masculinidade. Parecia uma legítima baiana vendedora do apetitoso acarajé, transportada para aqueles ares sertanejos, desfilando, indene, compenetrada dos seus atributos corporais!

Conquistada a audiência pela sua impagável presença, descrevia, sob ruidosas gargalhadas e sem quaisquer zelos, as suas visitas amorosas, vividas nos recônditos das noites do Belo Monte, delatando nomes - e esta era a parte mais aguardada de seu escancarado discurso! - como se saciada dos prazeres então vividos ou a se vingar de alguém que antes lhe houvesse feito alguma malvadeza. A última notícia acerca da esfuziante Silvinha depunha sobre a sua degradante mendicância pelas ruas da capital, esquálida e maltrapilha, padecendo, sem amparo, de grave enfermidade nos pulmões. Assim como o mendigo sedutor, jamais retornou ao Belo Monte.

Voltando a algaravia do momento, o fato é que Rubinho se manteve estranhamente afastado de suas folclóricas e costumeiras companhias, até dos seus mais diletos amigos, o que contribuiu para fomentar os comentários depreciativos e o desespero das mocinhas que, tal como a iludida Joaninha, estavam perplexas. Agitados, seus cúmplices parceiros matutavam por qual artifício poderiam resgatar o companheiro Rubinho do pecaminoso feitiço e da assustadora beleza daquele “diabo de moça de ouro”. Reflexivos, perguntavam-se: o que estaria realmente acontecendo e quem, com inteligência, poderia dar o primeiro passo para a salvação do sujeito agora engabelado?

Em meio à balbúrdia, até um concorrido “bolão” - espécie de desafio ou aposta para se acertar ou resolver alguma demanda ou palpite - foi ensaiado, em torno do qual surgiram estrambóticas receitas e inquietantes adivinhações, a exemplo da que Zé Venâncio apresentou com ousada desinibição, ele um costumeiro comentador das vidas alheias e proprietário, semi-analfabeto, da principal latada da feira: “pega uma carçola véia, unta toda na regada, bem onde repousa a perereca, de manteiga e tomate passado, pendura a bicha nojenta todas as madrugadas na porta do quarto do Cabra, durante três noites seguidas, rezando-se três pai-nosso e três ave- Maria, sem que o enfeitiçado perceba! É tiro e certo, pode tratar do arranjo”! Além de trabalhosa, muito perigosa tal simpatia!

Eulininha, uma putinha recente na cidade e que muitos suspiros ainda causava na rapaziada, querendo demonstrar experiência que, na verdade, não possuía, propôs com desmedida arrogância: “ora! pega esse moço, dá uns cocurutos nele, depois amarra o infeliz no umbuzeiro e dá uma beberagem de catuaba misturada com fel de paca, que ele logo logo enjoa da rapariga”!

Em meio a essa parolagem desregrada, aos comentários descabidos dos seus mais solidários amigos de gandaia, eis que Rubinho, para espanto de todos, inacreditavelmente bem vestido, usando até mangas compridas e calçado num sapato de velório, apareceu, como se numa miragem inimaginável, com os cabelos impecavelmente penteados e grudados por exagerada camada de óleo mal cheiroso, lembrando perfume vagabundo já vencido. Descendo, claramente desajeitado, braços dados a sua Ana Beatriz, a rua principal da cidade, a todos olhava com visível constrangimento, mal disfarçando um sorriso amarelado, destinando-se, para escárnio da rapaziada freqüente da espelunca do Zé Venâncio, à Igreja Matriz de Santo Antônio.

Era, sem dúvida, tanto uma aparição descabida quanto um percurso inopinado para quem somente conhecia os caminhos tortuosos dos bares e do bordel, ou às vezes, quando tomado de maior coragem ou levado pelo desregramento das doses etílicas, dos muros recônditos das casas de suas vítimas, em noites de pouca claridade. Muita carreira, tanto de cachorro quanto de irmãos zeladores, já fora vitimado o nosso pretenso cidadão almofadinha, outrora contumaz gandaieiro!

Penetrando à nave do imponente templo – por sinal muito estimado pelos moradores, pois que batizado, nos idos de 1890, pelo fervoroso peregrino cearense, Antônio Conselheiro, quando de sua aparição nos sertões de Canudos – o casal foi recebido pelo sacristão Léo, na verdade uma bichinha enjoada, magricela, conhecida pelos paparicos que disponibilizava aos garotos que freqüentavam as aulas semanais de catecismo e pelo “puxa-saquismo” irritante para com o Padre Antero, que, aliás, sempre o recriminava por isso.

Desmunhecando como nunca e curioso como de costume, sem tirar os seus olhos desejosos das partes baixas do violeiro ali caricaturado, o afetado sacristão logo indagou ao casal o que fazia ali, tão cedo, às dezesseis horas, na igreja, já que a missa apenas começaria as dezoito e o horário das confissões era tão somente disponibilizado pela manhã? Rubinho, recuperando, sem atinar, o seu velho jeito de moleque depravado, bateu de leve no traseiro do afeminado cidadão e o reprimiu com voz de falsete pilheriando delicado: “coooorre, sua bichinha louuuuca! Deixa de abuso e vá logo chamar o Padre Antero”. Ana Beatriz, inconformada ante aos modos, para ela, impensáveis de seu garboso sedutor, reclamou incontinenti: “O que se passa com você, Rubens? Que modos ousados são esses, ainda mais dentro da “Casa de Deus”? E que intimidades são essas?” Despertado pela reprimenda, Rubinho desculpou-se envergonhado, retomando a postura anterior, que afinal não lhe cabia bem, de rapaz polido e circunspecto. Fora traído pela naturalidade de suas costumeiras posturas!

O templo encantava pela majestade de sua nave, pela imponência de suas torres e, sobretudo, pelos belíssimos e rústicos desenhos feitos a bico de pena, os quais retratavam cenas da paixão de Cristo e alguns dos famosos ajuntamentos de fiéis sertanejos, tão concorridos na antiga região de Canudos, quando, ao final do século XIX, o citado peregrino reunia os “mal-aventurados” para a pregação de seus rígidos conselhos e entoação de lamuriosas ladainhas. Tais encontros, contam-nos os antigos belomontenses, aconteciam também na igreja, independentemente dos dramáticos combates então vivenciados nos dias da grande guerra. Era, inegavelmente, uma histórica edificação que suscitava pungentes recordações, inclusive por ter sido erguida pela fé e pelo suor dos chamados conselheristas e reedificada pelos seus descendentes imediatos.

Passado algum tempo, o Padre Antero apareceu. Vinha metido numa já surrada batina marrom e trazia o terço na mão direita, pois havia terminado, naquele instante, as suas orações vespertinas. Era seu costume inadiável, após o sagrado cochilo do farto almoço, orar aos seus santos de devoção. Abraçando, com perceptível desconforto, a Rubinho, perguntou-lhe meio desconfiado: “o que faz, aqui, meu caro rapaz, para minha grande surpresa? Caso seja a respeito do salão paroquial, saiba que os seus diletos comparsas de regalos já se anteciparam, não perderam tempo, pois afinal todos vocês só pensam mesmo em festa e cachaça!”

Rubinho, flagrantemente desconcertado, ensaiou com a voz trêmula: “não, Padre Antero, não se trata de um pedido, quer dizer, não é nada de tão extraordinário... Apenas prometi a minha amada Beatriz, quando partimos da capital, apresentá-la ao Senhor para que então comentasse um pouco, com muito zelo e simpatia, né, seu Padre, sobre o meu comportamento aqui nessa nossa tão pacata e querida Belo Monte, pois, viu seu Padre, preste bem atenção, ela já pensa em casar comigo e eu com ela. Portanto, Padre Antero, entendeu a minha boa intenção?”

Padre Antero, matreiro e com esmerada satisfação, como a se vingar de um passado comprometedor do inusitado visitante, desembestou a falar: “Ah! Nada de extraordinário, hein? Nossa pacata e querida cidade, né? Casamento, você? Boa intenção? Oh! Deus, meu pacato e querido Deus! Na verdade, prezado meliante, extraordinária é mesmo a visita que você tão somente hoje me faz, após 15 anos de meu devotado e sacrificante sacerdócio nessa cidade de romeiros! E quantos foram os conselhos que dei a você e aos seus embriagados amigos para que largassem do vício etílico e da vagabundagem diária!

Nesse momento, o arregalo dos olhos dos dois pombinhos descambou-se em dramática parelha! Sem dar espaços a réplicas, prosseguiu o padre no seu circunstante e vingativo sermão: “Ora, ora! Veja-me que surpresa! Rubinho da Viola falando em casamento! Quem apostaria em tal desatino, partindo a premissa de um desatinado contumaz que nem você? Acho que nem a sua tutora “Zefa da Zona”, que Deus lhe tenha misericórdia, acreditaria neste seu intento! E qual moça, cabra safado, levaria a sério tão absurda proposta, se não fosse - como aqui já testemunho - vivente do Belo Monte? Ademais, meu caro violeiro, como casar - o que sinceramente não creio que você deseje - se não possui nenhum dos sacramentos anteriores ao matrimônio, a exemplo do batismo, da primeira comunhão, ou até da crisma? Nunca sequer deu de joelhos neste templo e, provavelmente, desconhece um simples sinal da cruz! Ora! Faça-me uma boa garapa e não tome mais o meu precioso tempo!” Vociferando tais reprovações e cobranças, chacoalhando o terço, virou-se e, sem se despedir, inclusive da moça já em transe, retornou à sacristia, visivelmente aliviado.

Ana Beatriz, sem esboçar reação, já muito pálida, desmaiou. Léo soltou, por detrás do altar de onde bisbilhotava a prosa constrangedora, o seu histérico gritinho, chamando ainda mais a atenção dos abelhudos que, ainda ruborizados com a passagem majestosa daquela moça sem igual nas redondezas, estavam mais próximos e que rapidamente se postaram na entrada do templo. Rubinho, nervoso e sentindo um ódio incomensurável pelo padre delator, rogou ajuda aos circunstantes, no que foi logo correspondido. Levada para o consultório do Doutor Sena, um médico notívago na cidade, sempre cauteloso nos diagnósticos e receitas, e com fama de paquerador quando nos dias de folga, acolheu a jovem na sua maca e, tal qual a maioria dos homens de Belo Monte, não disfarçou a admiração por aquele corpinho ali tão indefeso e, para a sua imensa satisfação, carente de sua companhia e tratamento.

Aos poucos, após ter o pulso cuidadosamente massageado pelo interessado doutorzinho, sob os olhares recriminadores de Rubinho, conhecedor inigualável das maldades masculinas, Ana Beatriz foi recobrando os sentidos e, logo que refeita, exigiu do envergonhado namorado - e possivelmente ex-futuro marido - que a levasse para o pensionato. Ao sair do consultório, grande era a platéia que esperava o agora inditoso casal. As fofocas se multiplicaram e chegaram aos ouvidos de Joaninha, a ela transmitidas, com natural rapidez e acrescidas de pecaminosas invenções, pelas amigas gêmeas Verinha e Verônica.

Todavia, a reação de Joaninha causou contrariedade às fofoqueiras, pois estas esperavam da relegada e triste amiga uma imediata comemoração, pautada certamente num prazer de vingança, ou coisa parecida. Mas nada disso se deu. Ao contrário, ouvindo atenciosamente a história, em especial sobre o desabafo virulento do Padre Antero - o que afinal havia causado o mal estar na namorada invejada - Joaninha honestamente lamentou a desdita da moça, colocando-se em seu lugar, sentindo-se, agora, menos vítima e menos infeliz do que a enganada concorrente, pois a rica menina desamparada, ali distante de sua terra e de seus pais, padecia agora de um rude sofrimento. Solidária lamentou: “grande deve ter sido o susto da coitada. Maior e mais cruel a sua desilusão!”

Ainda na mesma noite em que se deu o imbróglio da igreja, retirou-se Ana Beatriz da cidade, agora tão somente acompanhada pela velha Tia Memé, que nada entendeu e muito reclamou por não poder acompanhar a Trezena de Santo Antônio como tanto desejava, deleitando-se naquela cidade para ela sagrada e merecidamente famosa em razão das belas celebrações religiosas. Alugando a um velho carro de feira, a menina, sob efeitos de calmantes, pagou dobrado ao condutor e solicitou transporte até a Vila de Queimadas, de onde partiria um trem cargueiro, na manhã seguinte, logo cedinho, para a capital.

Ana Beatriz, visitada pelos mais repulsivos sentimentos, escapou despercebida, tanto daqueles freqüentes olhares invejosos e tarados, quanto do assédio, agora indesejado, de seu ex-pretenso companheiro, pois Rubinho da Viola e os seus velhos amigos de farra apostaram que tudo se resolveria após uma noite de bom sono e de uma boa conversa ao raiar do dia, afinal duas coisas que os sertanejos muito estimam e preservam.

Na sua viagem de retorno, Ana Beatriz padeceu graves tormentos, secundados por choros compulsivos, tristeza que não foi testemunhada pela sua velha e nada solidária acompanhante, já que Dona Esmeralda, bafejando seus sonoros e incômodos roncos, que faziam ecos aos solavancos da velha máquina sob trilhos, mergulhara num profundo sono. Ao vislumbrar da janela do trem, solitária e de face contraída, jovens e pobres meninas ainda a brincar e a dançar nos humildes terreiros de suas casinhas coloridas, Ana sentiu inveja daquela gente ali residente, porque esbanjava, apesar da pobreza e simplicidade de suas vidas, uma alegria que ela jamais conheceu.

Conforme a imediata atitude tomada pela bela moça infeliz, equivocada foi a aposta dos amigos galhofeiros. Somente com o passar dos dias é que Rubinho da Viola, desesperado, compreenderia, de fato, a realidade de sua perda, fosse ela verdadeiramente dolorida ao seu coração, fosse apenas prejudicial a um vil investimento indiscutivelmente provedor de futuros benefícios. Não teve Rubinho, de início, a necessária coragem de retornar à capital, talvez porque as duas hipóteses de seu presente infortúnio fossem mesmo pertinentes, atordoando-lhes a consciência. Preferiu, durante longo período, o envio insistente de cartas recheadas de mimos e pedidos de perdão, que afinal nunca tiveram qualquer tipo de acolhida ou a mais simples satisfação de Ana Beatriz. Perdera, sem chance de perdão, a sua bela, rica e dengosa pretendente.

Os novos relatos que Verônica e Verinha, as infalíveis informantes, deram no ano seguinte a Joaninha, dos quais Rubinho nunca teria conhecimento, atestavam o casamento, a contragosto, da mimada Ana Beatriz com um aspirante do Exército Brasileiro, noivo escolhido pelo dedo autoritário de seu pai, o que afinal resultou na mudança da mocinha entristecida para a capital maravilhosa, a belíssima cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Sem esquecer os mínimos detalhes, as gêmeas também confirmavam que um bebê já havia sido providenciado e que receberia, inclusive, o nome do avô paterno.

Mas, voltando-se ao cenário dos festejos finais da aprazível Belo Monte, Rubinho, despertando de mais uma bebedeira irresponsável, julgando-se ainda pretendido por Joaninha, e como sempre mal aconselhado pelos seus infaustos comparsas de desbundes, todos incansáveis na arte da mentira e do desrespeito, foi bater, cinicamente, às cercas do Sítio Encantado, morada tranqüila e confortável da jovem resignada. Uma vez mais os vis conselhos dos seus parceiros haviam influenciado aos seus ouvidos. Mané Cuiúda, por exemplo, afirmava soberano: “Joaninha, como toda mulher desprezada, passa a desejar mais e deve mesmo estar ardendo em brasas nessa hora, só de pensar, caro Rubinho, que terá de volta os seus calorosos beijos de amante inveterado!”

Firmino Pai das Treitas, como sempre pernóstico, ditou, com antipático convencimento, seu “infalível” receituário: “chegue de mansinho, Cabra Véio, como nada quisesse, mas tudo querendo, aplique uma melosa lábia de amor, e vá logo acariciando ao seu cangote de donzela carente, e verá seus pelinhos arrepiarem e os biquinhos das mamas empinarem sem resguardo!” Ouvindo tais asneiras, todos na latada, sem exceção, perdiam-se em risadas histéricas, secundadas pelos desmedidos goles sorvidos dos fortes aguardentes. E nessa onda de álcool e insanidades iria novamente naufragar, sem cuidados, o nosso abandonado e irresponsável galanteador.

Estrelada e fria acometeu ao Belo Monte a última noite da Trezena. E justamente os donos daquela bem cuidada propriedade, o Sítio Encantado, eram os festejados noiteiros, os quais, seguindo a tradição do lugar, produziam e serviam as comidas e bebidas e contratavam a zabumba para, sob cerrado foguetório à hora sagrada da ave-maria, partirem, compassando cantos litúrgicos e louvações ao santo casamenteiro, para a igreja, num festivo cortejo, e na frente do qual, levado pelo chefe da família, sobressaía-se o vistoso estandarte de Santo Antônio. Diziam os mais velhos moradores que, em tempos passados, também a imagem do Conselheiro acompanhava o préstito, prática extinta por um pároco estrangeiro, ali chegado da Polônia, com aspecto de nazista frustrado e muito autoritário e que por lá não deixara saudades. Após a missa, também eram os noiteiros os que coordenavam o leilão final da Trezena de Santo Antônio, quando o forró tomava conta da latada especialmente acoplada à igreja, entretendo, sem consideração de idades, os devotados partícipes.

Um novo parêntese se faz necessário para um relato interessante acerca da religiosidade do povo sertanejo: décadas passadas, lá pelo início dos anos de 1900, uma das mais fervorosas beatas da Igreja Matriz, Dona Carmosinha, venerável professora da grande maioria dos instruídos belomontenses, liderou significativa revolta contra um padre italiano aportado no Belo Monte. É que historicamente a comunidade se aborrecia, e com razão, com o mau costume dos padres estrangeiros, advindos dos mais longínquos e diferentes lugares, sobretudo das nações européias, de burra e autoritariamente modificar as celebrações e, assim, desrespeitar os mais tradicionais ritos religiosos, diversa e fervorosamente cultuados pelo imenso interior do país, o que também contribuía, lamentavelmente, para a descaracterização ou até desaparecimento de algumas manifestações religiosas e culturais, que são mesmo consideradas sagradas pela gente dessas localidades, em especial pelos seus mais antigos residentes.

Imperativa, portanto, foi a resposta da comunidade, liderada pela beata persistente, o que afinal resultou - após alguns ensaios de uma espécie de “greve religiosa”, ou seja, de esvaziamento das missas ditadas pelo sacerdote indesejado e de um volumoso abaixo-assinado - na expulsão do religioso desrespeitador das singulares tradições do lugar.

Mas, voltando ao cenário religioso e derradeiro da festa, ao vislumbrar, da varanda, a presença inesperada de Rubinho, Joaninha direcionou-lhe, de imediato, um aceno negativo, sentenciando-lhe, com um olhar fulminante e o balanceio da cabeça, a sua partida para longe dali. Era, na sua justa compreensão, mais um comportamento desrespeitoso de Rubinho, na verdade uma ousadia que excedia a qualquer limite de tolerância!

Em razão da insistência do agora maltrapilho e ressabiado visitante, Joaninha dele se aproximou e, com inesperada calma e ditando palavras pausadamente, assim o aconselhou: “é chegado o momento, caro Rubens, de você tomar tento na vida e de logo partir daqui, se possível para bem longe, buscar internamente o perdão de suas faltas e assim recuperar, tendo livre a consciência, os bons sentidos. Não perca mais o seu tempo comigo porque, daqui para frente, jamais perderei o meu com você! Saiba que nada que me diga a partir de hoje resultará em benefício, crédito ou acolhimento com relação a sua pessoa. Portanto, siga o seu caminho e que Deus, que sempre tem misericórdia dos pecadores, lhe abençoe. Adeus!”. Sem expressar qualquer gesto ou palavra, Rubinho, trôpego e cabisbaixo, tomou a direção da estrada.

Após alguns claudicantes passos, tomado de imensa tristeza e corroído de arrependimentos, sentou-se, com perceptível dificuldade, à beira do seu inditoso caminho, o único que dava acesso à cidade. Um longo e dramático filme revelou-se em sua mente. Recolhido aos seus pensamentos foi ainda ligeiramente despertado pelo cortejo animado que saiu do Sítio Encantado, em meio ao qual, tão alegre e sedutora, estava Joaninha, como se imune a sua infeliz presença.

Percebendo dolorosamente o seu abandono, jorrou uma porção de lágrimas. Talvez as primeiras derramadas como produto de uma verdadeira angústia. Onde estariam, agora, os seus fiéis amigos e tão notáveis conselheiros? Sentiu raiva. Fatigado, adormeceu e sonhou que acordava revigorado, devidamente penteado, bastante cheiroso e metido num digno paletó, vestido numa calça de linho branco engomada a capricho e bem calçado num sapato preto novo, de brilhantes fivelas, atado aos braços de uma meiga, sedutora e exuberante mulher. Uma jovem por toda a audiência desejada e que com ele descia, sorriso estampado de sincera alegria, os degraus da velha Igreja Matriz, sob aplausos, louvores e chuvas de arroz. Era o seu casamento! Era Ana Beatriz! Numa outra visão embaçada, era Joaninha. Era, na real, apenas um sonho, cuja serventia mais proveitosa era poder ser transformado num interessante e enganoso conto de amor.

Passados três dias de todo o drama penosamente vivenciado, tomado de remorsos e visitado por permanentes pesadelos, Rubinho, tal aqueles dois inditosos conterrâneos, o mendigo e o travestido, desapareceu do Belo Monte, e sem deixar rastros, apesar da imediata procura e das incansáveis investigações que boa parte de seus parceiros de vida desregrada se ocupou durante longos anos após o seu preocupante e, afinal, definitivo desaparecimento.

Mas a festa da moçada – presentes, é óbvio, os conselheiros fanfarrões e as mais enfeitadas donzelas da cidade - tomou conta do salão paroquial, barulhenta, regada a fortes aguardentes, fracas sangrias e flertes os mais debochados. Sem zelos ou reclamações, inclusive com as inusitadas presenças do Padre Antero e de suas recatadas irmãs, o xote, o lundu, o baião, o côco e o forró invadiram a deliciosa e inesquecível madrugada sertaneja. Salve Santo Antônio!

Roberto Dantas

2010

betodantas
Enviado por betodantas em 27/04/2010
Código do texto: T2223421
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