O Sábio Que Desconhecia o Amor.

Laoviah já beirava os cinqüenta anos e em toda sua vida só se dedicava a ler livros. Sua casa era uma verdadeira biblioteca. Livros amontoados em prateleiras, mesas e escrivaninha. Lia de tudo, desde infantis a literatura clássica.

Raramente saia de casa, a não ser para pagar contas, supermercados e livrarias.

Mal acordava e lá estava ele de cara nos livros. As vezes lia três ao mesmo tempo. Um pela manhã, outro a tarde e o terceiro a noite.

Uma senhora cozinhava pra ele e limpava a casa, mas pouco se falavam. Não lhe sobrava tempo para conversas. Os livros eram mais importantes.

Numa noite de inverno, fazia muito frio e ele se agasalhou com uma grossa coberta de lã. Sentou-se em sua costumeira poltrona diante da lareira para ler mais um bestseller de seu autor favorito. Entregou-se a leitura esquecendo-se das horas. Estava quase adormecendo. No estado que chamamos de vigília, quando nem estamos acordados e nem dormindo, quando uma linda mulher apareceu ao seu lado e falou:

- Você tem muitos livros.

Sem se dar conta do que se passava, Laoviah respondeu:

- Sim eu tenho e já li todos.

- Quantos livros acha que tem?

- Não sei dizer. Além destes que estão na sala, ainda tenho mais no sótão. Leio desde criança.

- E o que você ler?

- Agora? Este é de um autor que muito admiro...

- Não foi isso que perguntei. Perguntei me referindo aos assuntos.

- Ah... Leio de tudo. De livros infantis a engenharia quântica.

- Então deves ser um sábio.

- Não me acho sábio, mas ainda vou ler quase o dobro do que já li até chegar minha hora. Quero conhecimentos. Só os livros podem nos dar conhecimentos e cultura.

- Entendo. Mas deves conhecer bastantes assuntos e ter boas informações a transmitir.

- Acho que sim, mas ainda quero mais.

- Você nunca casou?

- Nem namorei. Isso ia atrasar minhas leituras. Iam dificultar minha evolução cultural.

- Então você nunca vai poder dizer que viveu.

- Como assim? Veja quantos livros eu já li e poderá avaliar o tanto que aprendi.

A mulher sorriu. Deu alguns passos pela sala sob o olhar vigilante de Laoviah e voltou a falar:

- Apesar de saber o que é ter uma família, pois veio de uma, e deve ter lido sobre este assunto, na verdade muito desconheces dele. Nunca ouviu um choro de uma criança. Nunca mudou uma fralda. Nunca ouviu a palavra “papai”. Nunca sentiu o calor de uma mulher deitada ao seu lado. Nunca foi acariciado por uma mulher, ou teve a alegria de ser beijado por uma criança. Nunca teve sonhos de amor. Nunca viveu uma fantasia de amor. Nunca ouviu alguém te dizer: Eu te amo! Você na verdade, nunca viveu a vida como ela deve ser vivida. A vida neste mundo pode ter muitas dores, mas há uma dor que compensa todas as demais. A dor do amor. Esta dor é a mais sublime das dores. É uma dor de doação, renuncias e cheia de momento de felicidades. Ela alimenta no ser a esperança interior, que fortalece a alma. Se um dia tu amar alguém, mesmo que sinta no teu peito esta dor que te falo, dentro de ti terá nascido um sentimento tão puro que nada poderá ser comparado a ele. Um sentimento, que mesmo machucando algumas vezes te fará sentir no mais profundo intimo, a emoção por saber que és amado, e vive a intensidade de um amor que transcende todas as barreiras deste mundo. Tu, que tens o nome de um anjo, não conheces os mistérios da vida e desconhece o amor.

Laoviah adormeceu ali mesmo na sua poltrona.

O dia já estava adiantado quando despertou, ao ouvir batidas na sua porta. Foi ver do que se tratava e ao abri-la, viu-se diante de uma linda mulher, ainda jovem, que segurando nos braços um pequenino bebê disse:

- Senhor, por caridade – disse a jovem – Meu pai viajava há muitos meses e quando voltou me encontro com esta criança. Irado, me expulsou de casa e agora não tenho pra onde ir. Com este frio, meu filho poderá morrer. Ajude-nos por caridade.

Laoviah ficou sem saber o que dizer por um curto momento. Vendo a criança, recordou as palavras do que achava ter sido um sonho, da mulher que na madrugada o visitara.

- Entre moça. Saia deste frio e venha pra dentro se aquecer.

Ele observou que ela era linda e carinhosa com o filho. Conversaram bastante, e ele lhe serviu alimentos quentes. Foi no quarto ao lado do seu, o limpou, colocou lençóis e cobertores limpos sobre a cama e a chamou para ali se instalasse. Pediu licença e foi a uma loja comprar um berço. Comprou fraldas, roupinhas bordadas como as que via nos livros e um urso de pelúcia. Ao voltar já encontro a moça conversando muito animada com a cozinheira.

- Dona Julia, esta é a Sophia. De hoje em diante ela vai morar aqui. Espero que se dêem bem.

- Sim senhor. Gostei muito dela - respondeu Julia sorrindo.

E assim Laoviah passou a viver uma outra vida que desconhecia. Sentia um verdadeiro fascínio por Sophia, mas como nunca tinha se sentido apaixonado, não sabia que, o que estava sentindo era amor.

Tratava Sophia com a maior veneração. Havia deixado de ler como antes. Dedicava-se agora a ela e ao filho.

Dois anos já haviam transcorrido e ele sempre guardava seus sentimentos trancados. Nada falava.

Uma noite, quando ele já estava deitado, Sophia entra no quarto de Laoviah vestida apenas com uma fina camisola, e em seguida deitou-se ao seu lado. Então lhe falou com os olhos cheios de lágrimas:

- A Laoviah, hoje completa dois anos que estou morando contigo. Nunca em minha vida fui tão bem tratada. Nunca em minha vida pude sentir o que sinto por ti. Esta noite vim me deitar contigo para ser tua. Não é por gratidão, mas é amor que sinto, e não me negue o direito de amar. O amor deve ser vivido em sua plenitude, sem barreiras ou tabus. Eu te amo.

E nesta noite Laoviah conheceu o que era felicidade e o amor.

Casaram-se e tiveram mais dois filhos. Viveram vinte anos em plena felicidade.

Já velho e muito doente, ele a chama e pede para que ela sentar-se ao seu lado para então dizer-lhe:

- Por meio século vivi sem saber o que era a felicidade e o amor. Tu me deste e me ensinaste isso. Por vinte anos conheci a beleza do teu amor e não quero partir sem levar comigo o que tenho de mais sagrado: A paixão que soubestes tão bem fazer nascer dentro de mim. Então agora me escuta.

Mesmo que o tempo pare o universo,

Mesmo que as estrelas se apaguem,

Mesmo que a vida volte mil vezes,

Por mil vezes vou te esperar.

Por mil vezes vou te amar.

Mesmo que não te ache em mil vidas,

Bastará te encontrar em uma única vida,

Para que todas as outras sejam esquecidas.

Mesmo que um dia

Tarde venha te encontrar,

Mesmo que tu estejas em outros braços,

Ao te encontrar tu saberás,

Que eu sou aquele

Que por tantas vidas fui te buscar.

Mesmo que haja barreiras,

Mesmo que tua razão não queira,

No dia que me encontrar saberás que,

Sou o sonho de todas as tuas vidas.

Assim deixarei registrado nos livros celestiais,

Eternizando nosso amor.

Dias depois veio a falecer.

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Sobre este anjo Laoviah temos os seguintes registros.

Para aqueles nascidos no dia 16 de janeiro.

O Anjo: Este anjo é invocado contra as fraudes e para obter a vitória. Influencia os grandes personagens que marcaram a história e ajuda o homem a obter graças pelo seu talento natural. A ajuda deste anjo será fornecida através das experiências de vida.

Influência: Quem nasce sob esta proteção, poderá descobrir muitas coisas que usará de forma prática no dia-a-dia. Será célebre por seus atos, melhorando sua personalidade a cada nova experiência vivida. Terá por todos com os quais se relacionar, sentimentos fortes e duradouros, pois tem uma intensa capacidade para amar.

Será uma pessoa de sucesso e poderá ter estabilidade financeira. Apaixonado por filosofia, compreenderá facilmente o mundo dos elementais. Enfrentará grandes desafios, tanto na vida sentimental quanto na vida profissional.

Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 25/04/2010
Reeditado em 15/11/2014
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