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DONA DE MIM...
 
A voz dela chegou na lembrança trazendo saudade enorme. Era suave, doce. Por dias evitou pensar nela. Machucava-lhe demais a distância entre eles. Quando sentia o coração espremido sabia que precisava ouvi-la. Pô-la dentro para lhe preencher o vazio. Encher-se de seu encanto.

Sem muito pensar, ligou. Era melhor mesmo que ligasse assim de súbito. A razão freia desejos. A sensatez é a grande responsável por amores separados.
 
- Alô!? – Era ela. Sonora, meiga.
 
- Alô! É Maria? – Um tanto nervoso temendo a reação da mulher do outro lado da linha.
 
- Oi, Sílvio! – A alegria surgia como fogos de artifícios na voz de Maria. A insegurança de Sílvio foi-se embora. O aconchego da mulher o deixara à vontade. Sentia-se em casa.
 
- Sim, eu mesmo... – Emocionado, quase não conseguia dizer. Juntou coragem e disse:
 
- Um ano...
 
- Um ano? Já!? Parece que foi ontem que estivemos juntos! – Surpresa, Maria parecia não acreditar na velocidade do tempo que se foi levando história de um bonito amor.
 
- Só queria ouvir sua voz, Maria. Sentir sua alegria. Você me preenche, me faz bem! E sinto que ainda... – Não pôde completar. O choro era como garras afiadas sufocando-lhe a garganta. Ao mesmo tempo queria dizer que ainda a amava do mesmo jeito de um ano atrás, achava sensato calar não terminando a frase. Para quê dizer que amava se a impossibilidade de ficarem juntos a faria sofrer tudo outra vez. Aliás, ambos sofreriam como ele ali morrendo de vontade de abraçar, beijar, olhar nos olhos a sua amada.
 
- Ainda o quê, Sílvio? A ligação está com interferência, tão baixinha... Repete, por favor! – Maria sabia bem o motivo dele não ter completado. Seu coração disparou com a frase inacabada. Era desnecessário terminá-la. Maria conhecia o final da expressão. Mesmo que sofresse era bom ouvir. Por isso, insistiu. Alguém querido dizendo ama é tudo que se espera!
 
E ali Silvio a amou mais uma vez. Com toda força e certeza que ela, Maria, era o amor para sempre em sua vida. E esta  certeza martelava horas e minutos nos dias vividos. O destino os separou? A vida não quis? O que de fato impediu-os de viverem este amor? Ele não queria pensar. Ela evitava conhecer as verdades. Coisas que acontecem sem direito a explicações. Vidas se separam e pronto! No mais é conviver com a bagagem de experiências. Caberá escolher viver a dor da separação ou com a beleza da lembrança.
 
Seguiram, por fim,  caminhos distintos. Os corações deles, estes eram fiéis! Pulsavam na mesma batida um do outro. Harmonia. Sincronismo. Fidelidade. O amor entre eles era fato. Era forte. Era vida seguindo em frente fazendo história. Bela e terna. Duradoura.
 
Comovido com o entusiasmo da amada, Sílvio não se contendo, declarou:
 
- Ah, dona de mim... Como são longos os dias sem você e áridos meus pensamentos. Quanta saudade que sinto por não tê-la aqui comigo. Sabe que ainda a amo! É desnecessário dizer. Meu coração fala por si só mesmo que palavra alguma eu pronuncie. Todo meu corpo respira, exala você, minha Maria...
 
Apesar do aperto no coração, Maria sentia-se muito feliz com as confissões do amado. Confiava nas verdades ditas por ele, pois eram as mesmas suas. Depois que o conhecera, um novo mundo fez-se à sua volta, frente e verso. Então, Maria disse:
 
- Dono de mim você será para sempre. De você só levo belas lembranças. Meu coração não sabe sentir ódio, raiva. Alguma mágoa talvez, mas ela se dissolve junto com as lágrimas que escorrem de mim. O amo muito! Não é aquele amor egoísta porque sei que precisa partir por outra direção. Não é amor doentio, porque aceito seguirmos separados. Não é amor vingativo, pois para você envio sempre bons pensamentos. O amor que sinto é aquele que sublima qualquer sentimento pequeno ou desprezível. É amor mais bonito de se ver e de se sentir. E é para toda vida, viu?
 
Era possível perceber a emoção na voz de Maria. Sílvio podia mesmo vê-la chorar. Contida. Silenciosamente. O amor é lindo, mas ele dói quando não vivido em plenitude. De  corpo e alma.

Era hora de desligar o telefone. Voltar ao ritmo diário. Uma vida simples sem grandes novidades como a emoção daquela saudade que fazia o corpo entrar em erupção apaixonada e feliz.
 
- Maria, foi bom tê-la ouvido. Sempre é... Penso em você todos os dias, acredite.
 
- Foi muito bom ouvir sua voz também, Sílvio. Nunca esqueço de você. Você vive em mim.
 
- Prometa-me viver feliz! – Sílvio chorava agora sem disfarce. É impossível controlar sentires quando o coração transborda de saudade, vontades.
 
- Só se você fizer o mesmo. – Maria tentava controlar a emoção. Mantinha calma aparente para aproveitar os últimos instantes da presença do querido.
 
- Um beijo, Maria meu amor...
 
- Muitos outros para você. Ah! Até ano que vem?
 
- Como!?
 
- Vai me ligar na mesma data no ano que vem?
 
Silêncio. Voz e coração emudeceram. Não havia resposta. Silvio cria que cada situação havia tempo certo para acontecer e todo gesto vai da vontade do momento. Desconhecia  o desejo do coração no amanhã. Era prudente deixar as pedras rolarem. Quem sabe elas não acabariam se encontrando...