Caminho Tortuoso
Acordou com o barulho de algo caindo no chão. A luz do sol entrava pelas cortinas, e iluminava a silhueta dele, abaixado, pegando o objeto derrubado. Vestia apenas calças jeans, e uma toalha estava pendurada em volta do pescoço, estancando as gotas de água que caiam de seu cabelo molhado.
- Você vai embora?
Virou-se assustado com a voz dela, e, mais uma vez, a visão daqueles olhos a fez estremecer.
- Me desculpe, te acordei.
- Você vai embora? - insistiu.
Ele desviou o olhar, e ela sabia o porquê. Todas as noites que passavam juntos eram assim. A paixão que sentiam um pelo outro podia fazer com que algumas horas se tornassem infinitas, mas toda noite termina em um nascer do sol. E, com ele, a luz da verdade à sua frente: o amor, a necessidade, a carência, nada disso era recíproco. Ela necessitava dele, mas ele poderia viver sem ela.
E em todas as manhãs, depois de passar a noite com ele, ela acordava sozinha, apenas com o cheiro dos cigarros consumidos, o som do rádio sempre ligado baixinho, a meia-luz iluminando o quarto que sempre dividiam naquele mesmo motel há tanto tempo, o recibo pago na mesa, embaixo de um botão de rosa branca que ele deixava em troca de um adeus.
- Você poderia se despedir antes de ir, pelo menos uma vez.
E não conseguiu conter as lágrimas dessa vez. Ela era tão frágil, tão só, mas nunca havia demonstrado a necessidade que sentia dele. Todas as palavras não ditas vieram à sua boca, mas a sufocaram, e ela decidiu não dizer o quanto cada manhã era uma dúvida. A dúvida se valia a pena continuar passando por aquilo, mas não sabia como se livrar desse sentimento.
Ele sentou na cama, deu um beijo em seu rosto, e lhe entregou a rosa branca, com as mãos trêmulas.
- Eu amo você. Me desculpe, mas é apenas dessa forma, da minha forma. Mas eu amo você, não duvide disso, por favor.
Levantou-se sem olhar para ela, e saiu.