Eduardo e Eduarda

"Tinham os mesmos nomes. Cresceram juntos, a sombra do amor materno. Ele era órfão, e a mãe dela, que o amava como se ele fora seu filho, tomou-o para sim, e reuniu os dois debaixo do mesmo olhar e dentro do mesmo coração. Cresceram quase irmãos, e sê-lo iam sempre completamente, se a diferença dos sexos não viesse, um dia, dizer-lhes que um laço mais íntimo podia uni-los."

Um dia, ajudavam a mãe, Clarice, a organizar alguns papéis. Todos estavam muito concentrados no que estavam fazendo, quando ambos levaram a mão ao mesmo papel e suas mãos se tocaram rapidamente. Sentiram um arrepio na espinha, algo estranho que não conseguiam entender. Se olharam intensamente, como se um nunca tivesse visto o outro. E foi nesse momento que Eduardo e Eduarda descobriram o verdadeiro sentimento que unia-os.

Clarice nunca desconfiou dos dois, considerava-os verdadeiros irmãos e nada percebeu sobre o novo sentimento dos jovens. Mas eram muito descuidados, se perdiam trocando olhares, tornaram-se calados, coisa que não era habitual dos dois e não demorou muito para que Clarice percebesse que algo estava acontecendo e que devia descobrir o que era. Para isso teve uma conversa franca com os dois. Encarou um de cada vez. Eduardo nada ajudou. Não lhe disse nada que pudesse acabar com as suas dúvidas. Já com Eduarda teve a confirmação do que estava acontecendo, pois a mãe a conhecia muito bem e sabe quando estava mentindo. Os dois não se amavam mais como irmãos, mas sim como homem e mulher.

Eduardo e Eduarda nada sabiam sobre o amor, senão pelos poemas e livros que liam, e assim conheciam apenas a face doce, gentil e delicada do amor. Precisavam aceitar o que estavam sentindo, e foi o que fizeram. Suas conversas agora estavam mais íntimas, mais fantasiosas, chegaram até a fazer juras de amor eterno, coisa típica de casal apaixonado. O amor faz a cabeça de qualquer um, e com eles não poderia ser diferente. Apesar da inocência e ingenuidade, que guardavam dentro deles. Com seus dezesseis anos de idade chegaram a trocar alguns carinhos mais íntimos, queriam descobrir os poderes e prazeres do amor, desconhecendo suas consequências.

Clarice que já havia aceitado o amor dos dois, não sabia que Eduardo e Eduarda estavam tão íntimos e decidiu que deveria oficializar a união dos dois o mais rápido possível, ates que fosse tarde demais. Eduardo logo completaria dezessete anos e Clarice teria que investir na sua educação. Foram quase um mês de conversas e mais conversas com Eduardo sobre o que faria do seu futuro. Ficou decidido que Eduardo iria para a capital estudar Medicina.

Exatamente um mês depois Eduardo partiu. Não sem antes se desmanchar em lágrimas junto com Eduarda, até Clarice não pode conter sua tristeza. Eduardo escrevia constantemente para elas, às vezes desconfiava que elas escondiam algo dele.

Já haviam-se passado três anos desde que Eduardo partiu, e em uma de suas últimas cartas deu uma notícia que abalou profundamente Eduarda. Dizia na carta que ele tinha conseguido uma bolsa de estudos na Europa, e com isso ficaria ausente por mais três anos. Não obteve resposta para essa carta e nem para as outras duas que escreveu logo em seguida. Mesmo assim Eduardo viajou para a Europa.

Seis anos depois Eduardo estava de volta, agora com o título de Dr. Escrevera uma carta avisando sobre sua chegada no porto do Rio de Janeiro, seria fácil para Clarice e Eduarda encontra-lo lá, já que haviam-se mudado para a capital. Assim que o navio atracou, e os passageiros começaram a sair Eduardo caminhou apressado, quase correndo. Olhou em volta, havia uma multidão de rostos desconhecidos, andou mais um pouco e avistou uma mulher idosa, cabelos grisalhos, rosto marcado pelo tempo, mas isso não o impediu de reconhecer Clarice. Correu ao seu encontro, se perguntado onde estaria Eduarda.

O clima foi de alegria e emoção quando Eduardo e Clarice se encontraram. Ela o abraçava e beijava sua face com o orgulho de uma mãe que vê seu filho realizado na vida. A primeira pergunta de Eduardo foi sobre Eduarda. Clarice empalideceu e seu rosto adquiriu um semblante triste. Então ela contou toda a historia...a tristeza de Eduarda que a cada dia a consumia, a triste aparência dela com os olhos marcados pela insonia e a magreza pela falta de apetite, as doenças adquiridas por causa da depressão, até que foi acometida por uma grave pneumonia e veio a falecer.

Eduardo sentiu o chão se abrir aos seus pés, lágrimas rolavam do seu rosto, sentia as pernas trêmulas e uma forte angústia no peito. Estava tão ansioso com o re-encontro e agora atônito com a notícia que nem havia percebido um garotinho de mais ou menos seis anos se escondendo atrás de Clarice.

___ E esse garoto, quem é? - Perguntou com a voz trêmula.

___ É seu filho.

Fim ?!

Conto escrito para um trabalho escolar. É uma adaptação do conto "Fernando e Fernanda", de Machado de Assis.

Ghéssyka
Enviado por Ghéssyka em 09/04/2010
Reeditado em 13/03/2011
Código do texto: T2187122
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