O HOMEM QUE NÃO TINHA AMANHÃ / THE MAN WHO HAD NO TOMORROW

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O HOMEM QUE NÃO TINHA AMANHÃ

JB Xavier

Acabo de ler o livro que meu avô escreveu há muitos anos. Por que não o li antes? Porque, como a maioria dos que me lêem agora, nunca tive tempo! .

Cresci assim, com essa imensa curiosidade a respeito do meu avô, ou como eu o chamava, O Senhor do Tempo!

Todos, inclusive eu, até certa altura de minha adolescência, achávamos que ele era meio doido. E nem poderia ser diferente diante de um homem que sempre – desde que eu me entendi como gente – se recusava a discutir o amanhã. Eu disse “meio” doido, porque em tudo o mais ele era absolutamente normal. Apenas se recusava terminantemente a falar do futuro.

Não foram poucas as brigas que vi meus pais terem com ele, pelo fato de não ser possível planejar nada, quando esse planejamento envolvia de alguma forma sua pessoa.

Nenhuma ação que não fosse imediata e iminente o interessava.

Sempre que eu lhe perguntava por que ele agia assim, ele respondia simplesmente com um sonoro “não vale a pena”.

Obviamente, como todo mundo, eu vivia mais no futuro que no presente, e à medida que fui avançando na vida , fui também vivendo grande parte de minha existência no passado, pelo simples motivo de que quanto mais se vive, mais se tem a recordar.

Ah! O passado! Quem não gosta de recordar? Meu avô! Ele não gostava de recordar nada! Raríssimas vezes ouvi dele alguma referência ao passado, e quando o fazia era apenas para ratificar que se naqueles dias passados ele tivesse pensado no presente, não estaria pensando neles agora.

Devo registrar que por vezes, enquanto criança, e depois, na adolescência, cheguei a sentir vergonha dele, porque meus amigos zombavam, chamando-o – alguns à boca pequena, e outros, abertamente – de louco, gagá, esquizofrênico etc.

Mas vovô não acusava os golpes baixos que lhe aplicavam, e como todo aquele que atingiu níveis elevados de sapiência, ele apenas sorria condescendentemente e mudava de assunto, abordando invariavelmente algum tema que dominava – e eram muitos! – de maneira a calar o zombeteiro apresentando-o à própria ignorância.

Isso confundia os que dele zombavam e na maioria das vezes continha os debochados, porque quase sempre eles não tinham nível para sustentar uma conversa com vovô.

Minha mãe – filha dele – o defendia sempre que podia, mas até ela às vezes se irritava com sua mania de viver “aprisionado” no presente, e quando meu pai perdia a paciência com o velhinho, era quase sempre apoiado por ela, e aí sim, eu via meu avô realmente triste.

Cresci com esses sentimentos antagônicos. A vergonha que às vezes sentia, a vontade de convencer meu avô a ser uma pessoa “normal” e a tristeza por vê-lo triste, quando meus pais ralhavam com ele.

Em tudo o mais ele era um avô maravilhoso, que se divertia realmente por me ver feliz.

Criado como filho único, fui uma criança como tantas outras, com pouco tempo disponível dos pais, que corriam loucamente pela vida, planejando o futuro e perseguindo metas que pareciam nunca serem atingidas.

Hoje, finalmente, após a leitura deste livro, posso entender o que acontecia. Não é que as metas não fossem atingidas; é que mal meus pais as atingiam, ou as viam realmente próximas, automaticamente estabeleciam outras, ainda mais desafiadoras – como, alíás, faz a maioria das pessoas – de maneira que eles estavam sempre “em dívida” consigo mesmos.

Jamais achei esse comportamento estranho, tanto que eu vivi assim a maior parte de minha vida. Afinal, pensava eu, esse é o padrão universal de comportamento do mundo em que vivemos atualmente.

Já meu avô estabelecia metas de curtíssimo prazo. Não falo de anos, meses ou dias, falo de horas! Nunca o vi planejar algo que não fosse para ser realizado no mesmo dia.

Ainda assim, com todos os problemas que esse comportamento causava aos meus pais, porque meu avô jamais garantia que iria à qualquer lugar agendado com dias de antecedência, ele era o mais divertido da família, e eu percebia que, em cada momento meu, ele estava realmente presente.

Digo “realmente” porque ele parecia nunca ter pressa. Quando estava comigo, era como se tivesse à disposição toda a eternidade para desfrutar de minha companhia. Isto desde minha mais tenra idade! Com meus pais, ao contrário, eu me sentia em segundo plano, pois eles estavam sempre olhando para o relógio, e parecia sempre haver algo que eles precisavam fazer com a máxima urgência.

Por favor, não me entendam mal. Não pensem que não tive carinho dos meus pais. Tive, e muito! Sou filho único, esqueceram? Mas, mesmo não tendo irmãos, eu tinha que dividir o carinho deles com centenas de outras coisas. À vezes eram coisas realmente importantes e inadiáveis, mas a maioria eram coisas triviais, como não poder chegar atrasada no cabeleireiro ou a uma partida de boliche com os amigos.

Mas com meu avô era diferente! E não pensem também que ele fosse o típico velhinho simpático que tudo faz para agradar o netinho único, como costuma ser o comportamento padrão dos avôs. Não! Ele tinha muitos afazeres, e mantinha-se ocupado o tempo todo! Ou estava escrevendo o livro que pretendia publicar – e que acabo de ler - ou cuidando das flores de seu orquidário, que amava profundamente, ou viajando para ministrar suas palestras, cujos temas formam o livro, que finalmente acabou por publicar.

A verdade, é que, por alguma razão que desconheço, não levamos a sério as pessoas mais velhas, que julgamos terem chegado àquela idade em que voltam a ser tornar dependentes.

Não sei exatamente por que isso acontece, pois se pensarmos bem, ali está o resumo do que vamos encontrar pela frente, em algum grau, se não em conteúdo, talvez em intensidade, ou vice-versa, se preferirem.

Sendo uma pessoa ocupada, como ele poderia ser diferente de meus pais, que não tinham tempo para nada? “Creio que posso reduzir a resposta a uma frase que ele usava constantemente, quando respondia os questionamentos de meus pais, e que os irritava profundamente: “Tempo é uma questão de preferência” – costumava repetir – e acrescentava:” Todos temos o mesmo tempo disponível. O que define uma pessoa, é a maneira como o emprega”.

Muitas vezes ele me disse, ensinando-me uma das maiores lições de minha vida:

“Para ter tempo basta fazer bem feito. Assim não há necessidade de fazer de novo, porque se você não tem tempo de fazer bem feito, como vai ter tempo de fazer outra vez?”

Diante de argumentos assim, minha mãe costumava girar nos calcanhares e abandonava a discussão, quase sempre emburrada e resmungando frases irritadas como “tempo não se emprega, se gasta!” Ao que meu avô imediatamente retrucava: “Você” gasta o seu. O meu tempo eu invisto”.

A mim, que ouvia essas discussões com certa freqüência, pouco importava quem estava com a razão. O que eu gostava mesmo era de desfrutar da companhia de meu avô, porque eu podia dispor da companhia dele completamente, intensamente, pelo tempo que desejasse.

Meu avô parecia nunca ter pressa, e mesmo assim, parecia cumprir com tudo o que se propunha, no tempo certo. À medida que eu crescia e meu entendimento das coisas ia se ampliando, comecei a perceber que, mesmo com o dobro da idade de meus pais, ele produzia muito mais, e com alegria!

No tocante a mim, cada vez que eu o procurava para uma conversa, ele simplesmente deixava de lado o que estava fazendo e sua atenção se voltava inteira para nosso encontro. Muitas vezes o vi redigindo um dos seus muitos artigos para o jornal do bairro, e sabia que ele precisava enviá-lo à redação rapidamente. Ainda assim, ele parava tudo o que estava fazendo e conversava comigo como se nada mais tivesse a fazer.

É incrível a sensação de bem estar que a atenção genuína produz! Com ele eu sentia o amigo, o protetor, o confidente e principalmente o aliado.

Por “atenção genuína” me refiro àquele tipo de atenção total, interessada, comprometida, aliada; não àquela superficial, que leva o pensamento de quem ouve para longe, muitas vezes inclusive “desligando-o” do momento presente.

Vovô era assim - interessado, comprometido, aliado. Pouco importava se o assunto que eu lhe falava tratava do namorico adolescente, de minha decisão sobre qual curso superior escolher, ou simplesmente de minha alegria por uma boa nota. Ele estava sempre inteiro em nossas conversas, dando-me a impressão, pela intensidade e paciência com que me ouvia, de que o futuro não existe!

Meu pai ao contrário, estava sempre com pressa, sempre tendo que ir urgentemente a algum lugar, para fazer sei lá o quê. Minha mãe idem. Ou eram as coisas domésticas ou as profissionais que a preocupavam , mas sempre havia alguma coisa que a afastava de mim, após alguns momentos de sua companhia.

Por isso, cresci numa perene saudade de meus pais e na idolatria ao meu avô!

Eu desejava ser como ele, e por isso, um dia, já adulto lhe dei um apelido: “Senhor do Tempo.”

“Gostei” – disse ele me abraçando, na primeira vez que o chamei assim – “Um ótimo apelido. Tente um dia merecê-lo também. Você vai ver que vale a pena.“

Então chegou o dia que nunca pensei viver. O dia mais triste de minha vida.

Cheguei do colégio próximo das seis horas da tarde. O dia morria morno e as luzes das ruas começavam a ser acesas.

Entrei e fui até meu quarto, onde costumava deixar minha mochila sobre a cama. Para minha surpresa vi meu avô sentando junto â janela, com o olhar perdido no infinito, tendo parte do rosto iluminado pela luz amarelada do sol que morria atrás das árvores, no outro lado da rua.

Achei estranha aquela atitude. Primeiro porque raramente ele entrava em meu quarto em minha ausência, e segundo porque eu nunca o havia visto assim, ensimesmado.

Aproximei-me alegremente e vi algo brilhar em seu rosto. Era uma trilha brilhante, como se um diamante tivesse se derretido em seus olhos e descido por sua face.

Parei indeciso e confuso sobre o que via, quando outro diamante tremeluziu em seus cílios e se desfez, engrossando a trilha brilhante sob a luz do crepúsculo.

Aproximei-me devagar e sem mesmo acreditar no que via, perguntei em seu ouvido.

“vovô...o senhor está...chorando”?

Outra lágrima brotou de seus olhos e um leve tremor no queixo acusou o furacão que devastava seu coração.

Eu ia dizer mais alguma coisa, mas minha mãe entrou no quarto, e dirigindo-se até ele, pôs as mãos em seus ombros.

“Vovô vai nos deixar” – disse ela, num tom no qual eu jurava não haver tristeza. “ele resolveu ter sua própria vida”.

Não me peçam para descrever o eu senti diante daquelas palavras. Eu não conseguiria. Apenas desabei. Atirei-me sobre a cama e enfiei a cabeça no travesseiro, chorando convulsivamente.

Minha mãe ainda tentou me acalmar e de todas as coisas que me disse, recordo-me apenas de uma frase: “Com ele você jamais aprenderia a planejar sua vida. Assim será melhor para todos nós”

Dizendo isso ela saiu, deixando a porta do quarto entreaberta.

Meu avô permaneceu imóvel, olhando para o infinito, até que eu me acalmei um pouco e fui até ele, com os olhos inchados abraçando-me ao seu pescoço enquanto sentava em seu colo.

“Por quê?” – perguntei – “Por que você quer ir embora?” O que vou fazer quando acordar amanhã e não tiver mais você aqui?

Ele acariciou meus cabelos e respondeu:

“O amanhã não existe...Não fique triste pelo amanhã...”

“Mas eu estou triste – respondi – “por que você quer ir embora?”

“Seus pais precisam de privacidade, e de fato estou atrapalhando a vida deles...” Eles correm demais, e vivem de menos...” tento mostrar isso a eles todos os dias, mas parece que só consigo irritá-los...

“Faça parar o tempo! O senhor consegue! O tempo não existe para o senhor...não é o que sempre diz? O senhor é “O Senhor do Tempo!”

No silêncio que se seguiu, senti um solavanco em seu peito e seu abraço me estreitou ainda mais.

“Ah, meu querido, meu querido...O tempo não existe. Ele é apenas uma coisa inventada para organizar a vida do mundo! Ele não tem Senhor, porque simplesmente não existe!

“Mas a mamãe e o papai vivem dizendo que não tem tempo para nada! Então ele existe, sim!”

Vovô depositou um beijo em meus cabelos e falou como se discursasse ao sol moribundo:

“Se as pessoas fossem gentis com o agora, querido, o passado não importaria porque teria sido, feliz, o futuro, menos ainda, porque seria esperançoso. Mas o presente, este sim teria sido pleno! E o que fazem seus pais? Acabam por lamentar o passado que perderam, e se ocupam por antecipação com o futuro, ocupando assim seus próprios presentes, com algo que ainda não existe.”

“É por isso que o senhor vai nos deixar?”

“Prefiro ficar longe de minha filha, a vê-la sofrer numa vida da qual é prisioneira...Ela é teimosa...sempre foi...nunca consegui ganhar dela numa discussão. Ela acha que tem sempre razão, mesmo quando está deixando de lado a vida maravilhosa que poderia ter nesta família maravilhosa que construiu.”

“Mas o senhor não precisa ir embora por causa disso...”

Vovô me apertou novamente em seu abraço protetor.

“Ela precisa ter consciência do que está perdendo: Ela está perdendo você! Minha ausência talvez a faça ver isso mais facilmente... E depois, não vou para longe...Há uma casa de repouso aqui perto...é para lá que eu vou, Você pode ir me visitar quando quiser.”

Agarrei-me a ele de maneira quase histérica. Eu simplesmente não conseguia imaginar minha vida sem meu avô.

“Não vá. Por favor, não vá!” Eu vou pedir para a mamãe não brigar mais com o senhor...

Outro solavanco fez estremecer o peito de vovô, e uma lagrima dele caiu sobre minha mão. Ainda hoje sinto em minha pele o calor do desespero nela contida.

“Eu simplesmente não sei mais o que fazer para torná-los conscientes do presente. Sua mãe e seu pai perdem o que há de melhor na vida, o Agora! O que resta mais para ser vivido senão o agora?

Eu não compreendia direito o que ele dizia, mas olhei para a janela e vi uma estrelinha que começava a aparecer no céu violeta. Aconchegando-me ao vovô, fiz de conta que ela era uma fada, e pensando nos dias de Natal de minha infância pedi a ela que me ajudasse.

Após um momento de silêncio, meu avô continuou falando coisas que eu nunca o ouvi falar, mas que me fizeram compreender porque ele não acreditava no futuro.

De tudo o que ele disse, no entanto, uma coisa me marcou, seja pela intensidade com que foi dita, seja pelo efeito que produziu:

“Minha única duvida sobre minha partida, é se eles vão conseguir ensinar a você a viver o ‘aqui’ e o ‘agora’ ou vão transformá-lo num deles, e arrastá-lo para essa corrida desenfreada que eles fazem em direção ao incerto e ao inexistente.Tudo o que eu quero e ver todos vocês felizes”

Então a mágica aconteceu!

A porta do quarto se abriu lentamente. Eu e vovô nos voltamos e vimos minha mãe parada, com uma mão na maçaneta e outra na boca, tentando conter as lágrimas. Seus olhos faiscavam sob a luz que ainda restava do dia e seus ombros se sacudiam num incontido choro.

“Me perdoa, papai – disse ela entre soluços – me perdoa! Fiquei ali ouvindo o que conversavam. Me perdoa! Como pude pensar em viver longe de você? Você tem razão! Estou deixando escapar o presente – ESTE presente – disse ela abraçando a mim e ao vovô.

Então olhei para a estrelinha. Podem ter sido minhas lágrimas, mas juro que a vi tremeluzir nas alturas do céu.

Hoje vovô é uma das estrelinhas do céu, mas nos legou esse livro, que vou ler novamente, para aprender mais ainda sobre O Homem Que Não Tinha Amanhã...

FIM

THE MAN WHO HAD NO TOMORROW

J. Xavier B.

I just read the book my grandfather wrote many years ago. Why do not I read it before? Because, like most who read me now, I never had time!

Grew well, with this immense curiosity about my grandfather, or as I called him, The Lord of Time!

Everyone, including me, until one point in my teens, we thought it was kind of crazy. Nor could it be different in front of a man who has always - since I understood myself as a person - refused to discuss tomorrow. I said "means" crazy, because in everything else he was absolutely normal. Only steadfastly refused to talk about the future.

There were many fights that I saw between my parents and him, because it iwas not possible to plan anything when this planning involved somehow his person.

No action that was not imminent and immediate interested him.

Whenever I asked him why he acted that way, he simply replied with a resounding "it isn’t worth while."

Obviously, like everyone else, I lived more in the future than at the present, and as we went forward in life, I was also living much of my existence in the past, for the simple reason that the more you live the more you have to remember.

Ah! The past! Who does not like to remember? My grandfather! He did not like to remember anything! Seldom I heard from him some reference to his past, and when he did, it was only to ratify that those days past he had thought of this, would not be thinking about them now.

I must note that sometimes, as a child, and later, in adolescence, I came to feel ashamed of him, because my friends scoffed, calling him - sometimes of the small mouth, and others, openly - crazy, schizophrenic, and more.

But Grandpa was no affected by the low blows that they applied him, and as anyone who reached high levels of wisdom, he just smiled condescendingly and changed the subject, addressing any topic that invariably dominated - and there were many! - In order to silence the mocking, presenting it to their own ignorance.

That confounded those who taunted him and mostly stopped the debauched, because almost always they had no level to sustain a conversation with Grandpa.

My mother - his daughter – always defending him, but even she sometimes keep irritated by his habit of living "trapped" in the present, and when my father lost patience with the old man, he was almost always supported by her, and then yes, I use to saw my grandfather really sad.

I grew up with these antagonistic feelings. The shame that at times I felt, the desire to convince my grandfather to be a "normal" person and the sadness to see him sad when my parents scolded him.

In all else he was a wonderful grandfather, who amused to see me really happy.

Raised as an only child, I was a child like any other, with little time available for parents, who ran madly for life, planning for the future and pursuing goals that seemed never be achieved.

Today, finally, after reading my grandfather’s book, I can understand what happened. It is no about the goals were not achieved, it is about my parents who barely reaches them, or saw them really close, further established automatically, even more challenging - as indeed do most people - so they were always outstanding themselves.

I Never thought this behavior strange, and I've lived like that most of my life. After all, I thought, this is the universal standard of behavior of the world we live in today.

But my grandfather just established goals for a shorter period. I speak not of years, months or days, I speak of hours! I never saw him to planning something that was not to be performed on the same day.

Still, with all the problems that caused this behavior to my parents because my grandfather could never guarantee that he would go to any place scheduled days in advance, he was the most fun of the family, and I realized that in all my time, it was actually present.

I say "really" because he never seemed hurry. When he was with me, it was as if he had available to all eternity to enjoy my company. This since my early age! With my parents, on the contrary, I felt in the background because they were always watching at the clock, and always seemed to be something they needed to do with the utmost urgency.

Please do not misunderstand me. Do’nt think that I had no affection from my parents. I had a lot! I am an only child, did you forget? But, even if not brothers, I had to share the love of them with hundreds of other things. At times things were really important and urgent, but most were trivial things, like not being able to be late to the hairdresser or a game of bowling with friends.

But my grandfather was different! And also do not think he was the typical nice old man who does everything to please his only grandson, as is usually the default behavior of the grandfathers. No! He had many affairs, and kept himself busy all the time! Or was writing the book he wanted to publish - and I have just read - or taking care of flowers from her nursery, she loved deeply, or traveling to deliver his lectures, whose songs make up the book, which finally ended up publishing.

The truth is that, for reasons I can not understand, we do not take seriously the older people, which we have reached that age when they return to become dependent.

I do not know exactly why this happens, because if you think about it, inside old people there is a summary of what we will find ahead, in some degree, if not in content, perhaps in intensity, or vice versa, if you prefer.

Being a busy person, how could he be different from my parents, who had no time for anything? "I think I can reduce the response to a phrase that he used constantly, when answering the questions of my parents, and that irritated my father profoundly:" Time is a matter of preference "- often said - and added:" We all have the same time available. What defines a person, is the way to employ the time. "

Many times he told me, teaching me one of the greatest lessons of my life:

"To have time you must make well. So, you don’t need to make it again, because if you do not have time to make well, how you will have time to make it again? "

Faced with arguments like that, my mother used to turn on his heel and abandoned the discussion almost always scowling and angry muttering phrases like "time is not employed, time exists for you spend it!" When my grandfather immediately retorted: "You" spends yours. I invest mine!. "

To me, who heard these discussions with some frequency, it mattered little who was right. What I'd really enjoy was the company of my grandfather, because I could dispose of his company completely, intensely, by the time I want.

My grandfather never seemed to hurry, and even then, seemed to comply with whatever is proposed, at the right time. As I grew and my understanding of things would be grown too, I began to realize that even with twice the age of my parents, my grandfather produced more, and with joy!

Regarding me, every time I tried for a conversation, he simply left aside what he was doing and turned his attention entirely to our meeting. Many times I saw him writing one of his many articles for the local newspaper and knew he needed to send it to the newsroom quickly. Still, he stopped everything he was doing and talked to me like nothing else had to do.

It's amazing the feeling of wellbeing that produces genuine attention! With him I felt the friend, protector, confidant and foremost, the ally.

By "genuine attention" I mean that kind of full attention, concerned, committed, together, not to that surface, which leads the thinking of the listener away, often including "turning off" the present moment.

Grandpa was so - interested, committed, ally. It mattered little whether the subject I spoke to him was a flirtation of teenager, my decision about which college to choose, or simply my joy for a good note. He was always full in our conversations, giving me the impression, by the strength and patience with which I heard, that the future does not exist!

My father however, was always in a hurry, always having to go somewhere urgently, to do whatever what. My mother the same. Or were things domestic or professionals who were concerned, but there was always something that away her from me, after a few moments of your company.

So, I grew up in a perennial longing for my parents and my grandfather in idolatry!

I wanted to be like him, so one day as an adult I gave him a nickname "Lord of Time."

"I like" - he said hugging me, the first time that I so called - "A great nickname. Try one day deserve it too. You will see that it's worths. "

Then came the day that I never thought to live. The saddest day of my life.

I got home from school around six o'clock in the afternoon. It was the sunset and the streetlights were beginning to be lit.

I went to my room, where I used to leave my backpack on the bed. To my surprise I saw my grandfather sitting by the window, staring off into infinity, and part of the face illuminated by the light yellow of the sun was dying behind the trees, across the street.

I found it strange that attitude. First, because he rarely came into my room in my absence, and second because I had never seen so introverted.

I approached happily and saw something shining in his face. It was a brilliant track, as if a diamond had melted into his eyes and down his cheeks.

I stood undecided and confused about what I saw when another diamond in his eyelashes flickered and vanished, adding to the track under the bright light of dusk.

I approached slowly and without even believe, and asked in his ear.

"Grandpa ... Are you crying ..."?

Another tear flowed from his eyes and a slight tremor in the chin accused the hurricane that ravaged her heart.

I'd say more, but my mother entered the room, and driving up to him, put her hands on his shoulders.

"Grandpa will leave us" - she said in a tone in which I swore there was no sadness. "He decided to have his own life."

Do not ask me to describe what I felt at those words. I could not. Just collapsed. I threw myself on the bed and put my head on the pillow, sobbing convulsively.

My mother even tried to calm myself and of all the things she said me, I remember only one sentence: "With him you would never learn to plan your life. So it will be better for everyone "

Saying this she left, leaving the bedroom door ajar.

My grandfather remained motionless, staring into infinity, until I've calmed down a bit and went to him, with my eyes swollen, hugging me to his neck while sitting on his lap.

"Why?" - I asked - "Why do you want to go?" What will I do when I wake up tomorrow and no longer have you here? "

He stroked my hair and said:

"Tomorrow does not exist ... Don’t be sad for tomorrow ..."

"But I'm sad - I answered -" why do you want to go? "

"Your parents need privacy, and in fact I'm messing up on their lives ..." They run too much, and live less ... "I show it to them every day, but it seems I can only irritate them.. .

"Make time stop! You can! Time does not exist for you... Is not always you say what? You are "The Lord of Time!"

In the silence that followed, I felt a bump on your chest and hug me even closer.

"Oh, sweet hart... Time does not exist. It is just something invented to organize the human life in the world! It has not Lord, because it simply does not exist!

"But Mom and Dad keep saying he has no time for anything! So it exists, yes! "

Grandpa deposited a kiss on my hair and spoke as if he were discoursing for the dying sun:

"If people were nice to “now” dear, the past does not matter because it would have been happy, the future, still less because it would be hopeful. But the present, this would have been so full! And what do your parents? End up regretting the past they lost, and dealing with the future in advance, thus occupying their own present, with something that does not exist."

"That's why you'll leave us?"

"I'd rather stay away from my daughter to see her suffer a life of which he is a prisoner ... She is stubborn ... always was ... I could never won her in a discussion. She thinks she is always right, even when she is leaving aside the wonderful life that could have with this wonderful family that she built . "

"But you need not go for it ..."

Grandfather shook me back into his protective embrace.

"She needs to be aware of what she is missing: She's missing you! My absence will perhaps make it easier to see ... And then I'm not going away ... There is a nursing home near here ... that's where I go, you can go visit me anytime. "

I clung to him in an almost hysterical. I just could not imagine my life without my grandfather.

"Do not go. Please do not go! "I'm going to ask Mom not fight with you ...

Another jolt shook the old man's chest, and a tear fell from him on my hand. I can still feel the warmth on my skin despair contained therein.

"I just do not know what to do to make them aware of this. Her mother and father lose what is best in life, now! What remains to be lived more than now?

I did not understand what he said, but I looked out the window and saw a star that began to appear in the violet sky. Snuggling me to Grandpa, I pretended that she was a fairy, and thinking of the Christmas days of my childhood I asked her to help me.

After a moment of silence, my grandfather kept saying things that I never heard of, but that made me understand why he did not believe in the future.

From everything he said, however, one thing struck me, by the intensity with which he was told, or by the effect it has produced:

"My only doubt about my departure is whether they will be able to teach you to live the 'here' and 'now' or will turn you in one of them, and drag you to the rush they do toward the uncertain and the inexistent. All I want is see you all happy "

Then the magic happened!

The bedroom door opened slowly. Me and Grandpa turned back and saw my mother standing with one hand on the knob and the other in the mouth, fighting back tears. Her eyes sparkled in the light that remained of the day and his shoulders shook in uncontrollable tears.

"Forgive me, Father - she said between sobs - forgive me! I stood there listening to that talk. Forgive me! How could I think of living away from you? You're right! I'm leaving to escape the present - this gift - "she said hugging me and grandpa.

Then I looked at the starlet. Perhaps it may have been my tears, but I swear I saw her wink at the heights of heaven.

Now Grandpa is one of the stars on heaven, but left us this book, I'll read again, to learn even more about The Man Who Had No Tomorrow ...

END

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 08/04/2010
Reeditado em 07/01/2023
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