Lembranças de um amor proibido

Foi uma noite dificil. Eu não cheguei a dormir e quando acontecia de pegar um cochilo, acordava assustada.

Era saudade dele.

Num desses momentos peguei uma foto de jornal que estampava o seu rosto e fiquei olhando. Minha única lembrança dele era essa: uma foto de jornal.

Não tinha que ter terminado assim. O fato é que não podia esperar muito já que ele era meu professor. Quando o vi pela primeira, fiquei encantada.

Ele era meu professor, mas mexia comigo.

_Marina...-dizia ele às vezes.

Eu me arrepiava toda.

Certa vez nossos olhos se encontraram e tive a impressão que era correspondida. Ele tinha olhos cor de mel e que pareciam tanto com mel que dava vontade de levá-los à boca.

Eu tinha certeza que o que sentia por aquele homem era amor mas não havia como concretizá-lo. Era um amor impossível.

Minha vontade era me jogar nos braços daquele homem, mas eu não podia. E essa situação me deixava pegando fogo. Certamente era os hormônios de minha juventude.

E embora dizem que sou bonita, me acho feia. Os elogios chegam mesmo a me deprimir, fico muito mal. Talvez seja por isso que acredito não poder ter aquele homem.

Mas o destino quis que fosse ainda mais proibido. Tinha namorada.

Fiquei sabendo quando saía do curso e o vi aos beijos com uma loira. Ela era bonita e me foi apresentada pelo professor quando passei por eles ao sair.

Não pude crer.

Ela pareceu ter notado meu interesse pelo seu homem e me olhou como quem dizia:"este é meu".

Não dormi aquela noite. Fiquei lutando com meu desejo quase incontrolável por aquele homem comprometido, a impossíbilidade de tê-lo pra mim e mais aquela: uma namorada ciumenta. Tudo aquilo me deprimia ainda mais.

Ao amanhecer já tinha me decidido: aquele homem seria meu.

Quando penso hoje, com a foto dele em minha mão, acho que nunca deveria ter tomado aquela decisão. Talvez ele estaria aqui ao meu lado e tudo estaria bem. Deveria ter optado por ficar com meu amor só para mim.

Mas não foi isso que aconteceu.

Fui à luta contrariando minha timidez tão caracterÍstica. Nem eu mais me reconhecia.

Fiquei o provocando apesar de corar às vezes com minha nova atitude. Aquela não era eu.

Nesta nova situação, pude perceber que eu realmente mexia com ele. Não conseguia mais olhar para mim sem a expressão de desejo. E por mais estranho que possa parecer aos que me conhecem, eu me diverti com aquilo.

O desejo havia se misturado ao amor e aquilo não iria prestar, como o tempo acabou mostrando.

Eu havia abandonado todos os pudores e agora enfrentava minha rival de igual para igual.

Certa vez, ao sair do curso, os encontrei aos beijos. Um mal-estar nos envolveu a todos. Mas eu e a loira, que se chamava Verônica, nos enfrentamos sem palavras. Entretanto, os olhos pareciam falar e um diálogo silencioso se fez.

"Fique longe do meu namorado.", parecia que ela dizia.

"Eu também o quero e ele será meu", dei a impressão de dizer.

"Se você não se afastar dele, eu te mato.", ameaçou ela, como que compreendendo o que meus olhos diziam.

Foi quando me afastei e deixei os dois sozinhos. Mas aquela impressão ficou em minha mente. Embora não houvesse palavras, a sensação de ameaça ficou rondando o ar que eu respirava.

Não os vi juntos desde então.

Não dormi naquela noite nem nas que se seguiram. Cada dia parecia que o pior se aproximava.

Mas há uma semana atrás o confronto se fez.

Saía do curso acompanhado de José Geraldo, este era o nome do meu professor, mas não acontecia nada demais. Ele tinha percebido meu interesse por ele e tentava me mostrar que tudo aquilo não passava de coisas de adolescente.

_ ...Vamos ser sinceros, Marina, você não me ama como acha. Tudo isso é só um fetiche. Além do mais...

Eu só escutava. Não queria ouvir nada daquilo, pois tinha certeza e sabia que...

Foi quando meus olhos encontraram os de Verônica. Ela apertou os passos em nossa direção e levou a mão à bolsa que carregava.

_Você não se emenda garota. Fica longe dele...

Enquanto falava, fez surgir uma arma e a apontara para mim.

José Geraldo se assustou. Tentou impedir que a namorada fizesse o pior sem êxito.

Ela estava decidida em acabar comigo e eu tinha me arrependido de ter cruzado o caminho daquela louca.

Quando ouvimos o tiro, José Geraldo caiu ensanguentado à minha frente. Nem Verônica acreditou no que tinha acontecido.

Ele havia se jogado na minha frente como última tentativa de me salvar e impedir que a namorada fizesse o pior.

Verônica, desesperada, correu em sua direção enquanto eu o colocava em meu colo.

Ele agonizava.

_Chamem uma ambulância! - lembrou alguém.

Mas já era tarde. Ele morreu ali mesmo.

E faz uma semana que perdi o homem da minha vida.

Desde aquela tragédia não durmo direito, pois fui a culpada por sua morte. Se eu não o tivesse amado, talvez ele estivesse ainda vivo.

Agora só tenho essa foto como lembrança.

Não consegui me conter e as lágrimas foram saindo como uma cachoeira.

Era a mistura de dor, culpa e remorso que acumulei durante aquela semana.

Quando percebi, as lágrimas estavam borrando a foto de meu amado professor. Tentei secar com a camisola e a abracei.

E em dias dormi,mesmo que seja apenas uma lembrança, com meu amor ao meu lado.

saulo ribeiro
Enviado por saulo ribeiro em 06/04/2010
Reeditado em 06/04/2010
Código do texto: T2180569
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