VINTE E SETE MINUTOS... (Parte II)
Abraçaram-se, ela sentia o coração bater forte, como da primeira vez em que o viu... Àquela sensação de estar realmente viva que há muito não experimentava. Trocaram um abraço apaixonado demorado com se pudessem recuperar o tempo em que ficaram afastados. Foi maravilhoso poder sentir seu perfume depois de tantos anos de ausência.
Não conseguiram conter as lágrimas guardadas por vinte e sete anos de saudade. Uma saudade que manteve viva as lembranças de um grande amor, que finalmente poderia ser tornar real, sair do lugar onde o havia escondido em seu coração, disfarçado entre outros sentimentos.
Guardou o livro de poesias de Fernando Pessoa, e de mãos dadas caminharam em direção ao Café da pequena e antiga Estação de trem. Escolheram uma mesa que ficava perto da janela, com uma linda floreira, um local mais reservado. Olharam - se com carinho e curiosidade, pois o tempo muda algumas características físicas, mas muitas vezes não consegue transformar, ou apagar da memória certos sentimentos.
Com atenção ela percorreu os traços bem desenhados do seu rosto, ele estava com quase cinquenta anos, cabelos grisalhos, porém continuava lindo, elegante com o mesmo olhar forte e marcante pelo qual ela havia se apaixonado. Linda alguns anos mais nova que Léo, ainda mantinha os cabelos lisos e castanhos- claro, que ele tanto gostava.
Animados conversaram sobre o passado e suas realizações. As dificuldades em conviver com a saudade, com a ausência do outro que muitas vezes entristecia a alma... Também havia o vazio que só era preenchido, por pouco tempo nos pensamentos ou em sonhos, e a busca, nem sempre bem sucedida, de outro amor.
Falaram sobre algumas coincidências, entre elas, a primeira de letra de seus nomes começarem com “ L”, e também a sensação de ter visto a pessoa amada em uma rua, distanciando-se caminhando a pé em uma esquina, ou em um carro que passava. Ainda havia os sonhos que pareciam reais e aumentavam a saudade, a dúvida e inquietude...
O clima agradável da serra e o perfume das flores envolviam os apaixonados, no mágico e merecido reencontro de duas vidas, o fim do desassossego!
"O coração, se pudesse pensar, pararia."
Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)