"Até que a morte nos separe"
“Se tudo der errado no final, não me entenda, mas esteja lá para me abraçar.”
Júlio César Viana.
Existem amores tão fortes que parecem surpreender até a própria vida, e tão teimosos e inexplicáveis que agem tão subitamente que pegam até a própria morte de surpresa, e assim foi o caso de Lana e Ben.
Lana e Ben, ao contrario do que se pensa, não era um casal feliz, nem mesmo um casal eles eram. Era verdade que se amavam muito, mas por obstáculos, orgulho, preconceitos e teimosia, jamais resolviam sua situação. Amavam-se a distancia hora em harmonia hora em discórdia.
Um dia então uma forte briga aconteceu, Lana gritou para Ben que o tiraria da cabeça, que preferia morrer a pensar nele novamente, a amar ele novamente. E Ben gritou que não se importava, pois ele nunca á havia amado de verdade. Não é preciso dizer o quanto essas palavras feriram, tanto um como o outro. O fato de saber que a pessoa que se ama preferia a morte a pensar em você novamente fazia Ben sangrar por dentro e olhar para Lana a distancia fazia seus olhos arderem e a vontade que ele tinha era de morrer também, morrer para não ter que sofrer por ela novamente. Mas a dor de Lana não era menor, talvez ainda maior, pois ela em momento algum negou seu amor por Ben e as palavras dele, gritando que jamais a amou, que sempre a enganou, que sempre mentiu, sopravam em seus sonhos e não havia uma noite sequer em que ela não acordasse arfando e chorando, pedindo que a voz em seus sonhos parasse de repetir aquilo. E ela também quis morrer, dessa vez realmente queria morrer a ter que ouvir a voz de Ben recusando-a novamente.
Um dia chegou, tendo se passado muitos outros desde a briga, um determinado dia após tanta dor e sofrimento.
Era noite, mas o sol logo iria nascer, uma galera saia de uma festa, e dentre esta galera se encontrava Lana e Ben, por puro acaso ambos haviam sido convidados para a mesma festa e para nenhum dos dois esta foi proveitosa, olhar para a cara um do outro já era quase insuportável.
Mas uma coisa chamou a atenção de todos naquele fim de noite: uma briga. Dois caras, obviamente bêbados ou até mesmo drogados, começavam uma discussão em altos berros e todos se aglomeravam em volta para ver.
Lana se encontrava longe da briga, com algumas amigas, ela não se interessava em ver as pessoas se destruindo, estava se despedindo das amigas e iria embora, mas então Ben passou pelo grupo com alguns colegas, ia na direção do tumulto espirar o que estava acontecendo.
Lana de repente sentiu um aperto no coração, um arrepio subiu por sua coluna e arrepiou sua nuca.
- BEN!
Ela se virou e gritou tão repentinamente que todas suas amigas pararam a conversa, surpresas; todos, inclusive os amigos de Ben, que também olhavam, sabiam da crise entre eles.
Ben olhou para ela, boquiaberto com o chamado, mas então conseguiu dizer:
- Lana, o que foi?
Suas palavras saíram tão confusas que mais parecia que ele estava testando um idioma desconhecido, como se não soubesse exatamente o que dizer.
Mas Lana não conseguiu reparar nisso, ainda sentia aquela agonia no peito, então foi até ele rapidamente e com um olhar cortante perguntou:
- Não esta indo ver a briga esta?
Ben ficou ainda mais confuso com a pergunta, aquilo não era o que esperava. Na verdade ele não sabia o que esperar.
- Ãhn, íamos ver o que esta acontecendo. - respondeu ele sem entender a expressão desesperada de Lana.
- NÃO!- ela gritou tão estridente que ele se assustou. Então ela segurou a mão dele, Bem pode sentir seu coração perder o compasso. – não vai, por favor! Fique aqui comigo!
Ele olhou para ela, não conseguia entender o motivo de tanto desespero, não estava acontecendo nada demais.
- eu só vou dar uma espiada, acho que conheço um dos caras.- disse ele cauteloso. Estava começando a achar que Lana tinha bebido demais.- Não se preocupe, não vou me envolver.
- Não! Você não entende, você não pode ir lá, NÃO PODE!- lágrimas caíram pelos olhos dela e Ben olhou para seus amigos pedindo apoio, estava perdido.
- mas por quê? Lana, o que esta acontecendo? Por que esta tão desesperada?
- eu não sei. Mas por favor não vai lá, eu imploro pra você!
Ela agarrou a cintura dele e deitou a cabeça em seu ombro, lagrimas rolavam e ela soluçava, porém a sensação ruim em seu peito não passava, mesmo tendo Ben ali com ela.
- ah cara vamos lá!-disse um dos amigos de Ben.- ela deve ter bebido demais. Deixe ela ai.
Ben sentiu Lana tremer contra seu corpo. Ora não iria deixá-la sozinha só para ver uma briga idiota, ela estava quase em choque, fosse porque fosse.
- ãhn, eu acho que vou lev...
- ai cara, se esqueceu do que ela disse pra você?- perguntou o garoto abruptamente.
Ben sentiu a velha onda de dor percorrer seu corpo novamente e de repente sentia raiva de Lana. Sentiu raiva por ela ter dito aquelas palavras a ele, sentia raiva porque agora ela estava fazendo ele se importar com ela, sentia mais raiva ainda porque ele sentia, com toda a certeza, que ainda a amava.
Ele então levantou a cabeça dela de seu ombro e se livrou dos braços em sua cintura.
- desculpe, vá para casa, peça para as meninas te levarem, você não esta bem.
Ele começou a se afastar mas ela pegou sua mão de novo e pediu mais uma vez, mas dessa vez ela não gritava, seus lábios tremiam demais para que ela gritasse. Havia uma nota de pânico no rosto dela e sua voz era um sussurro desesperado:
- não. Por favor. Não.
- vá para casa Lana, não tem nada demais ali.
E antes que ela pudesse fazê-lo sentir-se mal por deixa - lá, novamente, Ben saiu andando com os amigos para ver a briga.
Podia-se ouvir os berros dos dois homens que brigavam e o som de seus socos e chutes a distancia. Ben e os amigos haviam acabado de chegar ao aglomerado quando todos soltaram gritos e exclamações, varias garotas correram e as pessoas que estavam na frente se abaixaram, Ben sentiu seu corpo ser arremessado para frente e então o som de um tiro.
...............
Todos a sua volta gritaram, as meninas começaram a chorar na mesma hora, os dois homens que brigavam pararam por um minuto, olhavam pasmos para algo atrás de Ben e então saíram correndo, um deles guardando um revolver na cintura.
Ben sentiu um arrepio na nuca, uma mão de ferro invisível apertou seu peito, ele deixou seu rosto bater no chão, não queria olhar pra trás. Sentia ......... sabia quem estava ali... quem havia empurrado ele!
Ouviu a voz de uma garota conhecida berrando:
- CHAMEM UMA AMBULANCIA! DEPRESSA! POR FAVOR, FICA COMIGO, LANA NÃO MORRE!
Ben gritou.
Não precisou olhar, não queria olhar, o grito que saia para o asfalto fazia sua garganta queimar. Seu corpo inteiro tremia e lágrimas disparavam por seus olhos. De repente o mundo estava desabando.
Uma mão bateu em suas costas com força e de repente uma das amigas de Lana o estava espancando.
- SEU IMBECIL!- gritava ela entre lagrimas- DESGRAÇADO! É TUDO CULPA SUA! ELA FALOU! ELA FALOU! É CULPA SUA! OLHE PARA ELA! LEVANTE-SE SEU MALDITO! VÁ FICAR COM ELA AO MENOS AGORA!
Ben se desvencilhou dos tapas dela, levantou-se do asfalto e suas pernas pareciam feitas de areia.
Ele olhou então para ela.
Com a cabeça apoiada no peito da amiga que pediu a ambulância, seu rosto já estava branco demais, seus lábios e sua bochecha tremiam, havia uma dor cruel em seus olhos. Ela arfava como se não houvesse oxigênio suficiente no mundo para poder respirar, ganidos de dor saiam por seus dentes trincados. Ela apertava o peito com força, embora as amigas tentassem impedi-la de fazê-lo. O lugar onde ela apertava estava coberto por sangue, sangue que escorria sem parar, deixando sua camiseta toda ensopada, sujando as amigas, formando uma pequena poça na rua. Ben caiu de joelhos. Embaixo das mãos ensangüentadas de Lana, o coração havia sido furado pela bala.
Ben sentiu uma vertigem, era culpa dele, Lana sentiu, tentou impedi-lo. Ele não quis ouvi-la, deixou que um orgulho bobo falasse mais que seu amor por ela, novamente deixou, novamente falhou. Alguma coisa rodava em seu estomago, ele queria berrar de novo.
- Ben!
A voz fraca de Lana o chamou, os dedos dela se esticavam para ele, chamando-o.
- VENHA FICAR COM ELA SEU IMBECIL!- repetiu a amiga desesperada de Lana.
Ben cambaleou até ela e deixou-se largar ao lado de lana. Seus lábios tremeram tanto que ele não conseguiu nem abrir a boca, um gemido de dor saiu por seus lábios.
- Bem...- Lana olhava para ele, a dor da ferida queimando em seus olhos. Sua voz parecia vir de tão distante. Tão fraca.- Ben....
- chii! – Ben a tomou em seus braços, a embalou com cuidado. Seus braços tremiam, ele não conseguia assimilar aquilo. – não diga nada, a ambulância já esta vindo. Você vai ficar boa Lana, não se preocupe, não vai acontecer nada. EU JURO PRA VOCÊ!!
Outro ganido escapou pelos lábios dele. A verdade era que ele não estava tentando convencer Lana, estava tentando convencer a si mesmo.
- Ben.....eu estou....bem.- Lana falou com dificuldade.- não se preocupe comigo, era assim que devia ser.
- Não. Não . Não. – uma dor e um remorso tão grande pesavam sobre Ben que sua cabeça parecia que ia explodir. O corpo tremulo de Lana em seus braços fazia ele se odiar, se odiar com tal intensidade que se fosse possível iria atrás daquele cara e imploraria por um tiro também.- Eu sempre fui um idiota com você, eu sempre deixei os outros palpitarem demais, eu sempre deixei você em segundo lugar. Nunca te ouviu como deveria, nunca dei a você o seu verdadeiro valor. Nunca me permitir colocar você no lugar que era do seu direito: na minha vida! Agora você está..........você esta ferida, e a culpa é minha. Eu nunca vou me perdoar, por tudo o que eu te disse, por ter feito você chorar tantas vezes e principalmente por isso.
Ele deixou que seu corpo se curva-se sobre ela, sacudindo-se de tanto chorar, um grito embargado em sua garganta. Seus dedos apertavam o corpo dela com tanta força contra si mesmo, que parecia que ele queria coloca - lá dentro dele.
- por que você esta dizendo isso?- perguntou Lana com sua voz fraca.- você disse que nunca me amou, que tudo não passou de uma diversão.
- NÃÃÕO! Lana eu te amei! Eu te amei e te amo mais do que a minha própria vida! Eu sou o mais burro dos homens, o mais nojento dos animais por ter dito isso pra você naquele dia. Se você soubesse o remorso que eu senti assim que você foi embora, a vontade que senti de cuspir na minha própria cara. MEU DEUS COMO EU TE AMO! EU NÃO VOU SUPORTAR SE ALGO ACONTECER COM VOCÊ! EU ME MATO! EU VOU MORRER SE VOCÊ FOR PARA ALGUM LUGAR ONDE EU NÃO POSSA VER SEUS OLHOS E OUVIR SUA VOZ!
- Eu também te amo Ben.- ás lagrimas no rosto de Lana voltaram a correr. Agora sua voz era quase inaudível, só Ben podia ouvi - lá, debruçada sobre seu peito.- Eu também menti quando disse que preferia morrer a te amar novamente. Eu nunca, em nenhum momento, deixei de te amar; não houve um só dia em que eu não pensasse em você, em que eu não desejasse ter você comigo e mesmo com o que você me disse, mesmo estando longe de você o meu amor nunca diminuiu. Não se sinta culpado minha paixão, eu esse fim.
- NÃO! LANA PARA! VOCÊ VAI FICAR BOA!
- VAI SIM LANA A AMBULANCIA JÁ ESTA CHEGANDO!- falaram às amigas que agora se abraçavam tentando se consolar.
- Não. Eu sei o que eu fiz.- continuo Lana, seu corpo ficando ainda mais mole.- Talvez se fosse você eu não tivesse forças pra sobreviver depois.
- LANA NÃO VAI ACONTECER NADA COM VOCÊ! VOCÊ NÃO VAI A LUGAR NENHUM! EU NÃO VOU SOBREVIVER SEM VOCÊÊ!!
- Vai sim. Você sempre foi forte.
- Não!
Os olhos dela pesaram, as pálpebras quase se fecharam.
- LANA! POR FAVOR, NÃO ME DEIXA! EU TE AMO DEMAIS PRA FICAR SEM VOCÊ! EU POSSO SOBREVIVER LONGE DE VOCÊ DESDE QUE VOCÊ VIVA, MAS NO DIA EM QUE EU NÃO MAIS TE TER SERÁ MEU FIM LANA. VAI SER O ULTIMO DOS MEUS DIAS! NÃO ME MATA POR FAVOR! NÃO MORREE!!
Os olhos de Lana brilharam e seus lábios se curvaram num sorriso fraco.
- Receba minha vida, que é uma prova viva de amor!
Seus lábios tocaram levemente os de Ben e seus olhos se fecharam.
Ao longe se ouviu o som da ambulância, mas o coração de Lana não cantava mais.
Um grito, um grito dilacerante e cruel cortou a noite.
Um amor se foi.