Segredos.

Já passava das 22 horas quando tomei um táxi e me dirigi para uma das serras da cidade de Ipatinga – MG.

Estava calmo e o motorista não parava de conversar o que ajudou em muito a manter-me distraído durante o trajeto.

Logo que chegamos, ele perguntou:

- Tem certeza que quer passar a noite nesta serra?

- Sim. – Respondi mostrando segurança – Amanhã às 8 horas esteja aqui para pegar-me e voltarmos.

- O senhor manda patrão.

Ele deu partida e manobrou o seu táxi deixando-me ali naquele lugar. Durante o dia seria possível admirar a beleza que aquela paisagem oferecia, mas a noite pouco se podia ver.

Olhei as horas e vi que já eram 23h15minhs.

Esperei sentado numa pequena rocha o sinal que seria a senha para que eu entrasse mata a dentro.

Exatamente as 00h10minhrs ouvi algo próximo por entre as folhas dos arbustos. Levantei-me e me dirigi naquela direção.

Um vulto estava mais adiante. Parecia de um homem encapuzado. E era.

Segui-o por algum tempo até chegarmos a uma clareira, próxima a uma pequena cachoeira.

De repente meu mestre apareceu com que vindo do nada. Ao seu lado minha guardiã Sophia.

Tudo em volta parecia se transformar a minha volta. As estrelas estavam como que diante de mim. Não podia ver mais as arvores e arbustos. O espaço da clareira parecia maior, muito maior que poderia imaginar.

Minha guardiã estava com a fisionomia muito séria e falou de forma incisiva.

- Deve ir embora o quanto antes. Não deves permanecer mais na cidade. Vias correr sérios riscos de ficares, pois ela está a um passo de cometer um ato do qual não terá mais volta. Ela se sentirá sozinha e abandonada. É preciso que a faça se sentir desiludida. Pelo menos por algum tempo até que estejas bem longe. Não deves ceder aos seus encantos. Correrão riscos desnecessários. Vai embora o quanto antes.

- Mas por que isso agora? Tu me chamaste até aqui e eu vim. Eu a amo muito e ela representa tudo na minha vida. Tu me chamaste para que a amasse e eu me apaixonei.

- Mas muita coisa mudou desde então. Não insista mais. Não valerá a pena se ficar e realizar o que desejam para vocês. Vão acabar se machucando. Silencia tua boca. Vai sem se despedir. Some sem dar noticias.

- Nunca! – Esbravejei irritado – Jamais farei isso com ela. Pelo menos vou me despedir sim. Não poderia partir sem uma despedida.

- Pois se assim fizeres serão machucados. Viverão uma dor que nunca terá remédio.

- Pois que seja. Não poderei partir sem olhar mais uma vez pra ela.

Meu mestre então argumentou:

- Meu filho, escuta tua guia. Ela sabe o que está falando. Se não partir como ela diz, vocês vão sentir muitas dores... Vai ser muito ruim para vocês. Depois tu poderá voltar e viver ao lado de tua amada o que querem, mas agora as coisas mudaram. Certos acontecimentos vão causar muitas dores em suas vidas se não ouvir o que Sophia te fala. Aquele que hoje vive ao seu lado, está ali por que seus princípios o obrigam. Mas se ele for alertado quanto ao que vocês possam viver, poderá causar grandes transtornos. Deves esperar que os acontecimentos mudem a historia de vocês. Só assim poderão ser felizes.

Fiquei ali pensando por algum momento. Não queria de forma alguma deixar aquela linda mulher sem ao menos um adeus. Não iria suportar viver com a imagem dela a me procurar e eu sem poder falar a verdade.

Não me convencia das palavras que me eram proferidas.

Sophia chorava. Estava aflita e angustiada.

- Meu querido – disse cheia de ternura – Não a faça cair em teus braços quando fores me ver. Não a faças te beijar. Não saberia resistir e acabaria cometendo um erro irreparável.

- Farei tudo para que nada aconteça. Depois que eu me for, saberei como fazer com que ela se afaste de mim. Difícil vai ser eu conseguir suportar viver longe dela, mas me esforçarei. O amor que eu sinto é imenso e é o mais lindo que já vivi em toda a minha vida. Um amor eterno que jamais terá fim.

Eles se foram e tudo voltou ao normal. Caminhei de volta onde o táxi havia me deixado e passei a noite em preces. Meu coração parecia que ia sair pela boca.

Chorei, solucei em prantos de dor por toda a noite.

Antes das 8 horas da manhã seguinte o táxi apareceu. Entrei e me mantive calado todo o trajeto.

Quando cheguei em minha casa, arrumei minhas coisas e sai direto para a casa daquela bela mulher que eu amava tanto.

Ela me aguardava. Em seus olhos havia pedido de amor.

Aconteceu o que Sophia não queria que acontecesse.

Nos beijamos... Foram beijos ardentes. Beijos que me invadiam a alma. Nos amamos e foi o amor mais lindo que vivi toda a minha vida. Parecia que eu flutuava em seus braços ouvido sua voz aos meus ouvidos delirando de prazer.

Depois foi a despedida. Meu peito ardia sufocado de amor e ali eu tinha que me fazer de forte. Não queria partir. Não queria deixá-la.

Fui embora. Parti para bem longe. Agora teria que fazer com que tudo acabasse. Isso me fazia sentir um crápula. Me aproveitei de uma amiga para por o plano em ação. Maltratei-a. Feri sua alma friamente. A minha já estava em chagas.

Desde então não tive mais sossego. Minha vida tornou-se num inferno. Minha alma parece estar amarrada com correntes. Meu corpo parece que adoeceu de todo. Não tenho mais paz.

O amor que sinto ainda é muito forte e me machuca como chicotadas. Não sei viver sem aquela bela mulher ao meu lado. Não sei viver sem ter aquele amor. Não sei viver sem ouvir sua voz e poder tocar seu corpo...

Este é meu segredo. Um segredo de amor que guardo em minha alma.

Um segredo que carrego comigo e espero um dia poder resgatá-lo.

Nunca haverá adeus entre nós.

Perdão meu amor!

Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 25/03/2010
Reeditado em 25/03/2010
Código do texto: T2159312
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