Coragem 2

Personagens:

Andy

Idade: 14 anos

Cabelos: Curtos, lisos e castanhos

Olhos: Verdes

Personalidade: Andy sempre fora fechada e politicamente correta. Sempre se esforçou para ser uma pessoa normal, e por isso sua vida sempre foi entediante. Mas deixou de ser desde que ela conheceu uma menina totalmente “fora da lei” chamada Hórus, que virou sua amiga de colégio.

Hórus

Idade: 15 anos

Cabelos: Compridos, lisos e negros

Olhos: Azuis

Personalidade: Totalmente oposta a Andy, Hórus nunca foi tímida com nada, sempre diz tudo o que pensa e faz o que quer. E mesmo sendo tão politicamente incorreta, ela tem muitos amigos e todos gostam dela. Inclusive, Hórus tem uma sexualidade diferente do que Andy considera comum, todos sabem, e aprovam isso.

Mark

Idade: 15 anos

Cabelos: Curtos, espetados e castanhos

Olhos: Castanhos

Personalidade: Mark adora diversão, e é o melhor amigo de Andy e Hórus. Também faz de tudo para juntar as duas, porque acha que elas se merecem.

Prólogo:

No primeiro Volume de Coragem – One Shot, Andy começa a sentir curiosidades sobre a vida de liberdade de Hórus, e por isso acaba tendo coragem para perguntá-la as dúvidas que sempre teve sobre sua sexualidade, mostrando assim, que ela tinha algum interesse também pela menina. Hórus percebeu isso, e fez de tudo para provocá-la. Mark percebeu também, e no dia de seu aniversário, fez de tudo para que algo acontecesse entre as duas. Andy acabou bebendo demais, e num jogo de “Verdade ou Consequência”, acabou por aceitar beijar Hórus, e o fato realmente aconteceu. O problema era... Depois com a ressaca, a pequena amnésia alcoólica e por fim, as lembranças, Andy a menina politicamente correta, encararia isso como? Veremos...

Coragem 2 – One Shot

Andy havia sido levada para sua casa através do carro do pai de Mark. Ela estava meio impossibilitada de ir sozinha, pois, estava muito tonta quando foi embora de sua festa. Quando chegou em casa, os pais de Andy, acostumados em ver a filha sempre “certinha”, simplesmente tomaram um susto com a surpresa de saberem que a filha havia bebido bebidas alcoólicas.

Eu sabia! Eu desaprovava mesmo o comportamento desses novos amigos da Andy, querido! - Disse a mãe de Andy ao seu pai, que olhou de rabo de olho pra mãe e disse.

Você preferia que ela ficasse presa dentro de casa sem conversar e ver ninguém, não é? Nossa filha nunca teve uma vida, ao menos agora ela está saindo... Era de se esperar que explodisse e fizesse besteira, está sempre prendendo e cercando ela como se ela fosse um cachorro ou algo assim...

Então, você aprova que ela simplesmente saia e beba até entornar, para chegar em casa neste estado!?

Não disse isso. Disse que entendo a garota, porque a trata como um bebê quando ela não é mais. Ela vai fazer 15 anos, por favor! Dê ela um pouco de liberdade, que ela aprenderá a medir o que faz, prenda-a e estará assinando um atestado de “futura delinquente”. Certo?

Não concordo! E vou dar um esporro na sua filha quando ela acordar, mesmo que não queira me apoiar!

Certo, faça como quiser... - E ele continuou lendo o jornal de sempre, sem se importar com sua mulher, que estava ainda histérica.

Andy caiu na cama e dormiu um sono profundo, o sono da bebida, do álcool. E ao acordar, viu sua mãe ao lado da cama, com uma expressão terrível na face. Parecia que estava tendo um pesadelo, ou ao menos, estava rezando para que fosse.

Andy, você bebeu, não foi?

D-desculpe, mãe, e-eu...

Não quero saber! Não te disse que aquela garota era má influência para você! Eu não gosto dos seus novos amigos, Andy! Eles estão te levando para o mau caminho! Você não era assim com seus amigos anteriores!

Mãe, com meus amigos anteriores eu tinha 12 anos de idade! Eu vou fazer 15 agora, mãe!

Não quero saber, Andy! Está até levantando a voz pra mim! Nunca fez isso antes! Nunca me respondeu! Eu não quero mais te ver com esses amigos problemáticos, ouviu!?

M-mas, mãe...!

Não vou ser contrariada! Vai ficar presa no seu quarto sem sair! Só vai para a escola e vai voltar para a casa, ouviu!? - E bateu a porta do quarto.

E de lá mesmo, Andy gritou uma coisa que nunca pensou que ia conseguir antes:

Aquelas amigas patricinhas eram sem personalidade e nunca gostaram de mim! Odeio essa pose de certa, e todas essas coisas que me prendem e não me deixam ser eu! Estou cansada disso tudo!!!

Sua mãe ouviu mais ou menos o que ela disse de fora do quarto, e balançou a cabeça em sinal de desaprovação. O pai fez um “tsc” soando algo como “Eu avisei que ela explodiria, não avisei?”, e continuou a ler as notícias do dia.

Dia seguinte, Andy foi se sentindo muito culpada e arrependida pelo que disse sua mãe dia anterior. Calculou que devia ter sido uma reação impulsiva, devido a ressaca. E por ter se arrependido, jurou que tentaria voltar a andar na linha, e não fazer mais nada que sua mãe desaprovasse.

Mas, dia seguinte, na escola, ela reencontrou com seus amigos. Os quais sua mãe odiava, e não queria que ela conversasse mais.

Andy! - Chamou Hórus, preocupada com a amiga. - Você tá tranqüila!?

“Tranqüila”? Estou péssima... Tive um baita desentendimento com a minha mãe ontem, quando acordei. Ela odeia vocês, e me acha uma delinquente. E imaginar que este foi o único dia que me rebelei e fiz algo que não deveria, não é? - Ela disse, colocando a mão na cabeça, onde doía ainda.

“Algo que não deveria”? Mas... Não valeu a pena pela diversão? - Hórus perguntou, se sentindo meio mal pela afirmação da menina.

Nem sei te dizer, porque simplesmente não consigo lembrar de nada! - Ela disse, olhando séria para Hórus.

L-lembrar... De nada!? - Hórus repetiu, como quem quisesse tentar entender. - De nada mesmo, Andy!?

Nada de nada. Mas espero que tenha valido a pena, sabe? - Andy disse, e então, voltou a sentar-se em seu canto. Tinha que prestar atenção a aula. Ela nunca conversava quando tinha de estudar.

“Era sempre certinha” pensou Hórus.

Hórus ficou realmente preocupada com a afirmação de Andy sobre sua amnésia alcoólica, e resolveu conversar com Mark a respeito disso.

Ela não lembra de nada que houve na festa!? - Mark repetiu, também como se não entendesse.

Isso aí! Foi o que ela disse. - Hórus disse, colocando a mão no queixo, parecia chateada. - Isso é um saco, cara... E eu achando que...

Será, Hórus, que ela não disse isso apenas, porque... Se arrependeu, ou sei lá? - Mark disse, se sentindo ainda pior que Hórus.

Nossa, cara! Não dá pra ser um pouquinho só positivo, não!? Não quero ficar pior... Prefiro pensar que a bebida apagou tudo da mente dela, do que pensar que ela se arrependeu... - Hórus disse, chateada. - E aliás, a mãezinha linda dela quer que ela pare de falar com a gente, porque disse que nós somos “más influências” pra filha dela.

Mas eu duvido muito que Andy obedeça. A mãe já mandou ela fazer isso várias vezes antes. - Mark disse, despreocupado com isso, porém Hórus afirmou com razão...

É, mas antes disso, nunca levamos de carro a filhinha dela doidona para casa, não é?

A pressão na casa de Andy era cada vez pior, mas o que fazia ela ainda sobreviver, e achar que não era tão errado assim ter aquelas amizades, eram as coisas que seu pai dizia, sem sua mãe saber.

O pai de Andy, era imensamente mais sensato que a mãe. Ele não era “liberal” de todo, mas era compreensivo, afinal, era psicólogo. Ele sabia entender bem a mente humana, e ainda mais a mente de sua filha adolescente. Ele sabia que a filha se orgulhava de ser um bom exemplo, e de fazer as coisas certas sempre. Mas ele sabia também, que a filha era uma adolescente, e que tinha desejos e ansiedades como a tal, portanto, precisava de um nível de confiança e liberdade, para que ela pudesse desenvolver a responsabilidade para cuidar de si mesma sozinha, para o futuro.

Andy... - O pai disse, dobrando o jornal, ainda sentado na poltrona. A filha estava no sofá de casa, vendo TV. Parecia extremamente mal humorada, e sua mãe havia saído para fazer compras.

Sim, pai? - Ela perguntou, olhando para ele. E ele, sério como sempre.

Não escute 100% o que sua mãe diz. Às vezes, ela só está sendo super protetora demais. Ela te trata como uma criança que não sabe se cuidar, quando na verdade, eu sei que você pode ser muito responsável se nós deixarmos você se divertir um pouco e viver sua vida ao lado de seus amigos. Se ela te pedir para parar de falar com eles, não o faça. Eu não acho que sejam más influências. Eles têm boas notas no colégio, fizeram uma festa em casa, é normal adolescentes quererem beber um pouco. Eu acho isso tudo um grande exagero de sua mãe, só porque uma menina é roqueira, ela tem de ser uma delinquente juvenil. Mande sua mãe pastar um pouco, e vá se divertir. Sim, filha?

Hehehe! - E ela ficava um pouco mais “solta”, depois dessas dicas. Seu pai era muito legal mesmo. - Sim, pai. Mas de fato, em uma coisa ela estava certa. Eu não podia ter bebido tanto assim...

Às vezes, você o fez, porque queria se enturmar. Ou porque estava nervosa, e queria se soltar. Sempre tem um motivo. Eu acho que você pode fazê-lo se não exagerar, se não fazê-lo para ficar bêbada, ou se prejudicar, ok?

Obrigada, pai. - E ela sorriu para seu “velho”, como dizia Hórus sobre seu próprio pai.

O que estão conversando com tanta empolgação aí, posso saber? - Era a mãe de Andy, que finalmente havia chegado.

Não é nada importante, querida. Estava dizendo a nossa filha sobre os malefícios da bebida. - O marido mentiu, e Andy segurou o riso.

Que bom... Espero que tenha aprendido muito com seu pai, Andy! - A mãe disse, fazendo cara de brava, e novamente a menina se segurou. Quando a mãe entrou para a cozinha, o pai lhe deu uma piscadela, que a fez rir baixinho.

E por causa da ajuda de seu pai, Andy não desistiu do plano de se tornar mais e mais corajosa, e liberar sua verdadeira identidade de dentro de si. Mas ao mesmo tempo, sua mãe passava por cima de tudo isso, e ela olhava as outras meninas, e... Voltava a ser pacata e certinha.

Droga... - Andy disse, e Hórus riu dela.

Nem palavrão você fala, Andy! - Hórus começou a rir, e Andy ficou brava.

Não tem graça! Eu falo palavrão sim, Hórus! Mas não na sala de aula, não é? - Andy disse, e então Hórus riu mais ainda.

Tipo, falar “merda” na sala de aula, não pode, né?

Shhh! Não fala isso aqui! A professora vai te matar! - Andy disse, e se levantou desesperada.

Era uma espécie de hora de “recreação” na sala de aula, mas ainda sim, a professora estava em sala, e por isso, não tinha problema os alunos conversarem ou ficarem de pé, mas um palavrão ouvido pela professora já era demais para Andy.

E nem pode falar “porra”, não é, Andy? - Hórus continuava rindo e virando para lá e para cá, como se dançasse a dancinha da implicância (coisa em que Hórus era definitivamente especialista – não, não na dancinha, na implicância!).

Pára com isso! - Ela continuou, e começou a tentar calar a boca de Hórus.

Pode falar “p...”, “c...”, “b...” ou “filho da p...”!? - E ela foi ficando cada vez mais e mais boca suja, e ali do lado, Mark se mijava de rir das duas.

Óh! É tão bonitinho ver que estão se entendendo de novo! - Ele diz, e então, Hórus acaba prestando atenção nele, e Andy aproveita para tapar sua boca com a mão.

O problema é... Quando ela o fez, um “flash” percorreu sua mente. Uma lembrança esquisita. A boca de Hórus... Isso sim, era uma lembrança estranha. Andy ficou vermelha. Por que lembrou disso agora?

O que aconteceu, Andy? Parou de repente e ficou pensando, do nada!? - Hórus disse, não entendendo a reação da garota.

Não... É que... Eu achei que tinha lembrado de algo da festa. - Quando Andy disse isso, Hórus ficou um bocado assustada, e Mark também.

Na hora do intervalo, Andy foi pegar materiais de estudo na biblioteca do colégio, e Hórus aproveitou para conversar com Mark.

Cara, você acha que ela vai se lembrar do beijo? - Hórus perguntou, ainda preocupada com isso.

Está com medo que ela se lembre, ou que te rejeite por isso? - Ele disse, adivinhando tudo.

Cara, não sei... Ela é toda certinha. Tenho certeza que o fez, só porque estava chapada! - Terminou a conclusão, Hórus.

Na biblioteca, Andy sozinha tentava se lembrar do que é que havia acontecido. Mas sua imagem se refletia no cheiro ruim de bebida alcoólica pelo ar, uma garrafa grande de plástico (de refrigerante de 2 litros) vazia, a boca de Hórus e... Ah, não! Era isso!

Andy levou a mão a própria boca... Estava chocada consigo mesma. Havia bebido demais para poder se “soltar” e provar um pouco da liberdade da vida de sua amiga “incorreta”, e acabou por jogar “Verdade ou Consequência” com eles. E neste jogo, ela simplesmente, acabou por aceitar uma “Consequência” que era... Beijar Hórus!!!

Ela não conseguia acreditar... Ela havia beijado sua amiga Hórus na boca!!! Ela nem ao menos lembrava disso... Continuou com a mão na boca por alguns momentos, até que a própria Hórus, entra na biblioteca a sua procura.

Andy! - Ela grita, e a reação da menina ao ver a garota foi... Sair correndo!

Hórus começou a correr atrás da menina para saber o que havia acontecido, apesar de que achava que já sabia (e estava absolutamente correta). Enquanto corria, a menina castanha gritou:

Me deixe sozinha! Me deixe em paz!!!

...! - Hórus ficou chocada, e acabou por parar de correr atrás dela. Começando a se sentir deprimida, acabou por dar meia volta e ir embora.

Hórus depois sentou e conversou com Mark, ela sabia o que tinha acontecido. Andy lembrou-se da noite, e provavelmente estava mortalmente arrependida.

Mark... É... É uma merda isso! Eu não sei o que faço! E-ela não quer nem que eu chegue perto! É terrível! E-eu me sinto uma merda! E-eu não entendo... F-foi um erro meu, só pode ser! Eu... Não devia ter feito isso! - A menina, antes confiante e corajosa, agora, estava muito insegura e desesperada.

Calma, Hórus! Nunca te vi assim... Tão confusa! Você sempre resolvia tudo, tudo do seu jeito e tudo na hora. E agora... Parece que a Andy te abalou mesmo! - Mark disse, analisando.

É que... Ela é minha amiga, cara! - Hórus disse, e Mark sorriu.

Não, cara... Agora ela é mais que isso pra você, por isso, você tá assim. No fundo, você disse “se ela não topar, continuamos amigas”, mas eu sabia que isso não ia acontecer... Eu sabia que você ia acabar querendo mais que só isso. - Ele disse, muito esperto, como sempre foi.

Mas agora... Agora vamos deixar de nos falar. - Hórus disse, muito triste. E abraçou o amigo, como consolo.

Era uma tarde comum na casa de Andy. Seu pai lia jornal, como sempre. Sabia de todas as notícias do dia de cor. Lia todos os jornais e notícias possíveis, e via todos os repórteres. Dizia ele que “Conhecer a sociedade em que vivemos é o melhor meio de entender as pessoas como uma unidade”. Se ele diz, não é? Enquanto isso, sua mãe se orgulhava de ser uma exímia dona de casa. Ela arrumava, e limpava, e organizava a casa toda, deixava-a um brinco. E por fim, fazia a comida, lavava a roupa e a passava. Era sempre assim. E enquanto isso, a quase sempre, aluna exemplar, filha perfeita, garota incrivelmente normal e comum, Andy, geralmente estava trancada em seu quarto, de livre e espontânea vontade, estudando muito. Mas não dessa vez...

Andy estava presa dentro de sua própria casa, de seu próprio quarto, porque estava de castigo, por chegar bêbada em casa. Sua mãe, não se orgulhava dela, porque ela havia desobedecido e se tornado uma delinquente que andava com más companhias. E ela não conseguia parar de pensar naquilo, e portanto, não conseguia estudar para nada. Apenas, olhar para o teto fixamente, e... viajar naquilo. Naquela lembrança, naquele pensamento, que por um dia, quase que inteiro, havia se esquecido. Então, era isso que a bebida fazia, não é? Soltava as pessoas a ponto delas fazerem aquilo que mais repudiavam e “cerravam” dentro delas, as faziam se humilhar ao ponto de parecer ridículas implorando pelos seus desejos mais profundos e rejeitados, para no fim, te fazer esquecer de todos os minutos, e segundos, e sentimentos um a um. As sensações eram encerradas em um gosto amargo na boca, uma sede incomensurável e... uma amnésia. Uma não-lembrança do que aconteceu no dia anterior à ressaca. O que Hórus sempre chamou de “porre”. Hórus...

Era incrível como tudo parecia ela. A influência incrível da verdadeira liberdade, era simplesmente encerrada com a pronuncia de seu nome. Sim, porque Hórus sempre foi ela mesma. Hórus nunca se deu por vencido. Hórus sempre foi corajosa. E ela...? Ela nunca teve coragem. Nenhum pingo, nenhuma gota, nenhuma agulha, nenhum fio ou fina linha... De coragem. A coragem de fazer o que queria, de pensar o que poderia, de falar o que pensava... A coragem de ser como Hórus.

Ela tentava com vontade, e com força, lembrar do beijo. Pensava que o fazia para censurá-lo. Não sabia como encarar a amiga. Sabia que ela já estava plenamente acostumada com esse tipo de coisa, mas ela? Andy? Andy achava isso o cúmulo da estranheza. Em Hórus, isso ficava absolutamente normal, absolutamente interessante, como uma conversa proibida. Mas nela? Nela...? Era um... Um... Desejo, um sonho oprimido... Oprimido pela sociedade, pelas leis, pelas regras, pelos seus próprios consensos de realidade e ética e pelo grande, pesado e poderoso martelo de sua mãe. Era proibido. Era... Covardia.

Dia seguinte, no colégio, Andy estava ainda pior. Tudo o que fazia era... Olhar para Hórus, enquanto ela não via, olhar para sua boca, seus lábios, e ficar tentando imaginar como é que... Como é que foi. Mas não podia! Não era normal! E quando Hórus a olhava de volta, ela virava a cara, fingindo não ter olhado. E era sempre assim, até o intervalo.

Andy... - Mark foi falar com ela. Por incrível que parecia, Hórus estava COM MEDO de encará-la depois do susto da fuga na biblioteca.

Mark...! - Andy tomou um susto, e ficou surpresa, e ao mesmo tempo, um pouco incomodada. - Sim?

Eu sei... Talvez nem queira conversar. Mas... Sei lá, cara. Somos amigos, estou aqui para você. - Ele disse, e sentou-se ao seu lado, conhecendo Andy, e sabendo que não poderia pressioná-la a dizer o que pensava. Ainda mais se isso parecesse “incorreto” aos olhos dela.

Talvez... Minha mãe esteja certa. Talvez, nós não devamos ser amigos, apenas. - Ela disse, se sentindo um pouco amargurada de afirmar algo desse tipo. Mark fez uma cara tristonha.

Não penso assim. Se você nos escolheu como amigos seus, Andy. É porque somos dignos disso. Não digo que somos o máximo, ou algo assim. Mas somos pessoas que gostamos, e nos importamos com você, poxa... Nós não queremos que você se sinta mal, ou incomodada. Queremos nos divertir juntos, e quando precisar de nós para passar por cima de alguma coisa ruim, para contar com a gente. Se isso é ser um mau amigo, então acho que nunca vou querer ser um bom na vida. - Ele disse, e Andy concluiu que ele estava correto. Porém...

Quando você diz... “Nós”, você também quer dizer ela, não é? - Andy disse, agora ela quem parecia amargurada.

Claro. Hórus se importa muito com você. E você sabe disso. Você sempre foi mais amiga dela, do que de mim, até... - Ele disse, e então, ela abaixou a cabeça.

Eu sei, mas não posso mais... Não posso nem sequer pensar em chegar perto dela mais. Desculpe. - Andy disse, enquanto olhava para o chão.

Se nós soubéssemos que isso daria tanto problema assim para você... Provavelmente nem teríamos tentado. - Disse Mark, e então, Andy fez “não” com a cabeça.

Eu aceitei. A culpa também é minha.

Culpa de quê!? Agora tem que culpar alguém!? - Hórus disse, e então, Andy olhou pra ela assustada e surpresa. Mark não sabia se aquilo era uma boa hora ou uma boa reação, então preferiu não dizer nada.

N-não quero falar... - Andy ia continuar dizendo, para que Hórus parasse, mas a menina disparou.

Droga, Andy! Passou dias perguntando sobre minha vida pessoal! Meus relacionamentos, meus gostos! Como era beijar e isso e aquilo...! E depois, simplesmente você sai correndo e me faz sentir como se eu fosse a pessoa mais filha da puta do mundo! - Hórus disse, e então Andy tentou se explicar, em vão. A menina continuava disparar sua metralhadora.

Era curiosidade...!

Curiosidade, sei! Sua boca não disse o mesmo na festa! Sabe o que ela me disse, Andy!? - Nessa hora, Mark achou que era demais. Acabou por levantar, e tentar tirar Hórus dali, antes que ela ferisse a menina castanha mais. Ela já estava com os olhos debulhados em lágrimas.

Pare, Hórus. Vamos, deixe-a quieta. - Ele tentou, enquanto tentava “empurrá-la” para ir com ele para longe dali.

Sua boca disse “Eu te amo, Hórus! Sempre te amei, mas sempre quis me fazer de boa menina! Só que o que eu sempre quis mesmo foi beijar você! Beije-me, Hór...!” - E ela não terminou, pois, ele a tirou dali. Mas... Enfim, feliz ou infelizmente, ela disse tudo o que precisava dizer. Andy não conseguia, não conseguia parar de chorar.

Andy voltava ao seu casulo, chamado de casa, não mais de lar. Lar não é, porque é pressuposto que seja um lugar que te aconchegue, que te faça sentir seguro, não enclausurado. Casa era um termo frio, que designava o local em que se mora, reside. Já a expressão mais correta era... Um lugar onde se é preso, de onde não se pode fugir, sair, ou ter nenhuma liberdade. Um lugar onde se é vigiado, e não se sente mais familiar. Isso estava mais pra cela, prisão, cadeia, do que pra casa, afinal... Pensava a menina castanha.

Ela quis quebrar uma regra. Apenas uma regra. Estava evitando seus “maus” amigos, como sua mãe dizia. Estava ficando presa em casa, obedecendo. Sempre tirava notas boas. Qual o problema de quebrar mais uma regra? Uma regra própria? Uma regra pessoal?

Lembrou-se que quando soube que Hórus gostava de meninas, alguma coisa dentro de si estremeceu. Andy também gostava de meninas. Pelo menos foi assim desde nova. Gostou apenas de meninas. As admirava, as observava... Mas nunca conversou com nenhuma delas, foi como os casos de Hórus. Andy acabou por até mesmo ter um “namoradinho”, e com ele até perdeu sua virgindade. Mas nunca gostou dele de verdade... Então, foi a coisa mais traumatizante e horrível de sua vida. Portanto, nunca mais se relacionou. Só que como se achava esquisita, e não achava isso normal, gostar de garotas, ela acabou criando uma regra própria, que dizia: “Não tentar, não pensar e não reviver isso. Nada de pensamentos impuros, nada de idéias criativas e cheias de imaginação, nada de sonhos impossíveis e pecaminosos. Nada de coisas anormais!”. Mas isso era antes de conhecer Hórus.

Quando Hórus apareceu, ela meio que mostrou para Andy, que as coisas não eram tão difíceis assim. Andy acabou admirando-a assustadoramente, até mais do que queria. E Hórus era livre, totalmente disponível, e gostava da mesma coisa que ela! Poderia ser uma chance para qualquer outra, mas não para Andy. Para ela, só chegou ao tempo de suas regras se tornarem mais rígidas: “Nunca pensar sobre Hórus de uma forma além da amizade. Nunca sonhar com coisas pecaminosas a respeito dela. Nunca tentar aprofundar sobre esses assuntos anormais com ela, para que não seja envolvida. E nunca, mas nunca ter nada com ela além da amizade!”. O problema era... Depois de um tempo, ela não resistiu e quebrou uma regra. A de “nunca tentar aprofundar”, e por isso, a palha pegou fogo. E por fim, aconteceu o “nunca, mas nunca ter nada com ela”. E então, todos os outros pareciam ter se tornado obsoletos e bobos.

Andy pensou “Se eu já a beijei de verdade, e já sei tudo sobre a vida pessoal dela com as garotas... Então, não há mais nada tão ruim para se fazer, não é?”. Ela... Começou a se permitir, coisas que nunca permitiu antes. Porque, ela se ocupava com estudos, para que sua mente não flutuasse. Mas todas as vezes que via Hórus, era um suplício. E ela se mantinha... Hórus jogava-lhe indiretas, que ela fingia não perceber, não entender, e seu sofrimento era cada vez pior...

Mas agora... Ela pensava... Ela pensava, na proximidade com o corpo de Hórus. O corpo proibido para si. Naquela festa, naquele lugar. O perfume da menina, misturado com o cheiro de álcool e toda aquela alegria e agitação nunca conhecidos por ela. E então, o toque macio dos lábios molhados, um no outro... O beijo foi de língua!? Ela não lembrava, mas não importava. Pensou num beijo de língua... Com línguas dentro das bocas, uma da outra, perambulando, com salivas, e se roçando... E... Aquilo foi ficando pior, e quente, e pecaminoso, mas maravilhoso, dentro de si. E ela foi imaginando mais e mais coisas...

Aquilo que teve de tão ruim, tão doloroso com aquele menino. Ela lembrou-se do que Hórus disse, que era melhor “fazer essas coisas com amor”. E ela pensou... “E se fosse com Hórus?”. E então, ela deu um sorriso. E a tarde foi longa, mas... Passou tão rápida, com desejos tão... Fortes e maravilhosos.

A mãe de Andy já estava ficando incomodada. A menina geralmente ficava entediada e ia ver TV depois de horas de estudo. Porém, desta vez, parecia que ela havia estudado a noite toda. Andy não saiu do quarto um minuto sequer, e a mãe não conseguia compreender o que deixava a filha tão “presa” lá, sem reclamar, ou nem mesmo sair para comer algo.

O que será que ela está fazendo lá dentro? - ela pergunta para o marido, incomodada.

Poxa, mulher! Você não gosta que a menina saia, agora que ela está no quarto, você está querendo controlar ela também! Puxa vida! Assim a menina não vive! E não tem bebida no quarto para ela se embebedar! Então, deixe-a em paz! - Ele disse, e já estava furioso, a mãe resolveu deixar pra lá.

Ela foi a cozinha, continuar lavando a louça, e então, pensou alto consigo mesma: “Mas algo me diz que ela não está estudando é nada!”.

Dia seguinte, era ainda pior. Depois de todos os pensamentos da noite anterior, Andy não sabia com que cara veria Hórus, mesmo que mal na sala.

Andy... - Era Mark, novamente.

Sim? - Ela tentava continuar impassível.

Por favor, tente dar uma chance para Hórus. Ela está arrependida das coisas horríveis que te disse antes. Perdoe-a e tentem voltar ao menos a serem amigas, novamente, sim? - Ele disse, tentando apaziguar, como sempre.

Ela pode estar arrependida, mas eu ainda não me esqueci. E você diz “ao menos a serem amigas”, o que mais poderíamos ser? Isso é o máximo para mim... - Andy disse, suspirando. Não era o que queria, mas era o que devia ser feito.

Bom... Você mesma disse que tinha uma parcela de culpa, não é? - Mark disse, tentando ser cuidadoso. - Não me leve a mal, não digo isso para irritar ou provocar você, Andy... Mas todas as pessoas que conheço, só fizeram de errado ao beber, vomitar ou desmaiar e tal... Todas as outras reações foram... “instintivas”, ou seja, coisas que elas queriam... Ou imaginavam fazer, mas que não tinham coragem quando sóbrias. Portanto, mesmo bêbada, você meio que tem... Basicamente, controle sobre o que faz. Então, você não poderia culpar a bebida, ou mesmo Hórus, sabe...? Porque... Ela não te forçou a nada. E mesmo te beijando bêbada, ela não imaginava que você ia fazer algo do qual se arrependesse sóbria. Ela o fez, porque... Ela quis fazê-lo. E imaginou que você estivesse fazendo o mesmo!

Fazendo o mesmo!? Vocês sempre souberam o quanto eu sou certinha! Disse que iria a festa, mas não ia beber! - Ela disse, tentando ainda se convencer.

Mas depois que Hórus disse que você deveria beber nem que fosse um pouco, você bebeu, e acabou bêbada bem rápido... Mas como eu e ela estamos acostumados a beber assim, não achávamos que ia dar nisso! - Ele disse, tentando se explicar. Enfim, Andy estava um bocado arrependida.

Certo! Tenho culpa nisso mesmo! Mas não é por culpar Hórus que não estou falando com ela! - Ela disse, e então, ficou sem ter com o que se explicar exatamente.

Então... Não está falando com ela... Por que é verdade, Andy? Você gosta dela e a quer? - Mark disse com medo, e Andy olhou pro chão, e demorou minutos muito longos para responder.

Isso é anormal. E eu não compactuo com coisas anormais. Sinto muito, Mark. - Ela disse, e então, o menino bateu no ombro dela.

Então a Hórus é ANORMAL, Andy!? Então, ela sempre foi anormal, mas mesmo assim, você virou amiga dela!? Então... Eu sou anormal!? - Mark gritou, e ela ficou assustada.

M-mark... V-você também é...? - Ela disse, sem saber.

Sim! Eu ia contar a vocês na festa! Mas como você estava bêbada, achei melhor deixar pra outro dia! - Ele disse, muito exaltado. - E te digo mais, Andy! Se você acha a gente tão anormal assim por sentir isso, só posso te dar uma má notícia! Você é tão anormal quanto nós, porque está completamente morta de amores pela Hórus! A merda é que somos anormais felizes, e você não! É uma infeliz que finge que é normal, porque acha que isso vai te trazer felicidade! Entendeu!?

... - Andy ficou abobalhada. Mark era sempre o mais “controlado”. Ele sempre era extrovertido e falava muito, mas prezava muito a amizade, o suficiente para saber como agir ou o que falar. Mas naquele momento, ele realmente pareceu ter ficado furioso. E foi realmente insensível da parte dela, ela calculou, ter chamado os dois de anormais.

Mark saiu e eles ficaram sem se falar por uns dias. Os dias estavam horríveis na escola. Cada vez mais insuportáveis. Mas quando Andy chegava em sua casa, ela não conseguia sair de seu mundo de imaginação. Só que... Andy estava cansada de só imaginar.

Filha, você tem que ter responsabilidade, mas tem que saber se virar sozinha no mundo. Não vai conseguir isso se viver sempre debaixo das asas de sua mãe, dentro de sua casa. Não vai conseguir isso sendo dependente, e tendo medo de tudo e todos. Deve enfrentar seus medos, encará-los, encarcerá-los dentro de você, assim como faz com sua coragem. E por fim, deve agir! Deve ser, e não imaginar! Deve fazer, e não sonhar! Entendeu?

Sim, papai.

Enfim, a bomba enclausurada depois de tanto tempo... Deu um tique-taque, e resolveu... Explodir!

Andy, estou satisfeita! Pode sair do seu castigo! Mas volto a dizer, se souber que está andando com aqueles amigos errados, vou te pôr de castigo de novo, ouviu!? - Ela disse, e então, Andy respondeu com rispidez, como nunca antes.

Eu nunca deixei de andar com eles, e nunca irei deixar! Pode me prender onde quiser, mas eu vou arrumar um jeito de sair! Estou cansada de querer me prender com uma coleira, e me tratar como um bebê! Eu não sou seu bichinho, e não sou uma pirralha, eu sou sua filha, e já sou uma adolescente! Sempre fiz o que você quis, sempre tirei notas boas, sempre tentei parecer com o modelo mais perfeito que você queria que eu fosse... Mas bem, você quem queria, não eu! Eu quero ser eu! Eu quero ser Andy! Eu quero escolher meus amigos! Eu quero descobrir as coisas por mim mesma! Eu quero fazer o que preciso fazer e o que me sinto melhor fazendo! E você não pode mandar na minha mente ou em meus sentimentos! - A mãe ficou chocada com as palavras da menina, e totalmente sem reação. O pai assistia tudo, amplamente orgulhoso, sentado em sua poltrona. - Pai, vou sair! Não volto tarde, ok!?

Ok, filha. - Ele disse, todo orgulhoso. A mãe só olhou para o pai, com uma cara de “não entendi e não sei o que fazer ou como reagir”. E o pai riu, enquanto a filha saía sozinha, sem a permissão da mãe.

M-mas, você n-não pode fazer isso... - Ela disse, a mulher, e o pai levantou-se da poltrona, e olhou sério pra ela.

Quem disse que não? Eu sou o pai dela, não é!? Não sou eu quem paga a comida de vocês, quem paga suas contas!? Então, eu posso fazer isso sim! Ela não é só sua filha, mulher... - E saiu andando, deixando ela reclamando sozinha.

Andy saiu correndo, e foi até uma pracinha que tinha perto de sua casa. Haviam vários bancos lá, e ela sabia que Hórus costumava lhe falar a respeito dessa praça, onde haviam vários eventos de vez em quando. Mas este dia, estava mais ou menos vazia. Só haviam as pessoas normais que frequentavam para espairar a cabeça. Ela foi até um barzinho ali perto, e com uns trocados que tinha no bolso, comprou uma lata de cerveja.

Quantos anos tem, menina? - O cara perguntou, apesar dela parecer bem mais velha do que era, devido sua postura “certinha”.

18. - Ela mentiu, pela primeira vez...

E então, ouviu um sussurro atrás de si. Baixo o bastante para que o dono do boteco não notasse:

Está mentindo agora, é? - Era Hórus, ela tomou um susto. E enfim, sua bebida chegou. - E está bebendo também... O que deu em você afinal, Andy?

Nada... - Ela disse, e saiu andando, até um canto da praça onde se sentou para beber. Mas Hórus veio atrás.

Quanto tempo vai me ignorar? - Ela disse, e então, a menina olhou para o chão.

Quanto tempo for necessário... - Ela disse, e então, nem ao menos completou a frase, mas Hórus o fez... Sempre o fazia quando era para provocar-lhe.

“Quanto tempo for necessário” para o quê, Andy!? Para me esquecer!? Não consegue, não é!? É complicado! - Hórus disse, mas a menina permaneceu quieta. - Diga, Andy!!! Não queria ter algo comigo além da amizade desde o começo!?

Por que não aceita isso...? Por que não pode ser normal como antes, e me deixar ser normal também? - Ela disse, olhando ainda para o chão, com medo de encará-la.

Porque não dá, tá!? Eu menti! Eu não consigo mais ser só sua amiga! Merda! Eu não devia ter te beijado! Não devia ter te provocado! Olha que merda que deu, Andy! Perdi seu amor, e até mesmo sua... amizade! - Hórus disse, agora, como se tivesse dando um esporro em si mesma.

Nunca... Nunca teve o meu amor. - E Andy mentiu de novo, e percebendo a mentira claramente em seus olhos medrosos, que ainda não haviam se acostumado com a nova Andy, que era corajosa, Hórus tomou uma atitude inesperada.

A menina agarrou a outra pela gola da blusa, e a levantou, fazendo-a a derramar a cerveja no chão, e ficar cara a cara com ela. A distância era milimétrica... Era muito, muito perto. Suas bocas quase se tocavam, e seus olhos não tinham outra opção a não ser encararem um no outro, bem no fundo. Andy ficou extremamente assustada com a situação. Estava cara a cara com Hórus. Assim como em seus sonhos pervertidos, assim como provavelmente foi quando estava bêbada, só que agora, estava completamente sóbria (até porque, ainda não havia nem tomado uma gota da cerveja, e nem poderia... afinal foi derramada).

Era muito assustador, encarar o objeto de seus desejos mais inapropriados assim... Cara a cara, olho no olho e boca a boca. Andy estava suando frio.

Quer correr, não é, Andy!? Quer fugir, e morrer de medo, como sempre fez! Sempre foi uma covarde vivendo de aparências! E eu sempre odiei isso em você! Mas eu tinha de respeitá-la... Só que só eu sabia, que a Andy de verdade odiava suas amigas plásticas patricinhas e falsas, que a Andy de verdade odiava ter de ficar presa dentro de casa estudando, porque sua mamãezinha a tratava como uma bebêzinha, só a Andy odiava mesmo não poder sair e beber, porque estava ocupada demais, aprendendo a odiar ser um exemplo, ser a si mesma, na verdade! Você não é você! Você nunca foi você! Você me admirou tanto, porque sabia que eu era corajosa! Que eu sempre fui eu! E ainda sim, não conseguiu se libertar... Não conseguiu aprender nada com isso, não é? - Hórus estava arrancando as últimas “tripas” que restavam dentro de Andy, mas esta acabou por poder usar sua última cartada.

Nisso... Nisso que você se engana! Está vendo que estou mentindo, estou bebendo, e fugi de casa sem o consentimento de minha mãe!? - Ela disse, e sorriu. - Estou sendo errada, Hórus! Não era isso que queria? Que eu fosse uma delinquente rebelde como você!? Pois é, estou sendo! O que acha disso, agora, hein!?

Hórus a soltou pela gola, mas Andy não saiu do lugar. Estava bem perto dela, e podia sentir seu perfume... Era... Um cheiro bem nostalgizante. E também podia facilmente sentir sua respiração quentinha.

Fuja, menininha... Enquanto pode. - Ela disse, para provocar mais.

Já disse, eu mudei. Eu não tenho mais medo. Não vou fugir de você, como a covarde que fui antes, Hórus! - Ela disse, e então sorriu, um sorriso que logo sumiu.

Então, me prove que não vai fugir, Andy... Prove-me. - Hórus aproximou seus lábios calmamente, e tocou os lábios de Andy.

Suas pernas bambearam, mas ela queria ainda se manter firme para provar sua coragem. Os lábios quentinhos, molhados e macios de Hórus, tocaram os seus novamente... Assim como ela só lembrava em sonhos, e em flashes sem sentimentos das horas de bebedeira. Era real... Era... o mesmo gosto, só que melhor... Era o mesmo toque, só que imensamente melhor... Porque era real!

E os lábios se tocando, logo em seguida, foi a vez das mãos. Uma tocou sua cintura, que quase se encolheu, para poder se esconder dentro de si de tanto receio, e a outra foi em sua face, que estava vermelha e queimando de tanta vergonha. E por fim, terminou com a entrada da língua, quente e molhada... Que veio, tornando todos os seus sentidos tontos, e tortos... E que destruiu qualquer barreira idiota que ainda poderia impedir aquilo.

Era impressionante o que o amor, que Hórus tanto falou podia fazer. Nenhum maldito livro de escola podia ensinar essa sensação a Andy. E ela sabia disso claramente agora... Queria que ele durasse horas, dias, para sempre... Mas sabia que não seria possível. Encarar a realidade nua e crua, sempre era uma merda para ela. Opa! Merda era palavrão...

E então...? O que achou, Andy? - Hórus perguntou, também estava meio rubra, quente, seu estômago tinha borboletas.

Uhn... Er... - Andy não sabia o que dizer, estava morrendo de medo. Ela tinha simplesmente... Parado no tempo com aquele beijo. Era como um sonho terrível invadindo sua realidade.

Eu... Não quero perder isso. Você quer? Você teria essa coragem, Andy? - Hórus perguntou, e a menina de olhos verdes hesitantes encarou seus olhos azuis confiantes.

Acho que... Não.

FIM

AArK Kuga
Enviado por AArK Kuga em 19/03/2010
Código do texto: T2147677
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