Mudanças...
Não esperava o mal acontecer.
Afinal cada novo dia vem sempre com aquela maldita idéia ilusória de que tudo irá se resolver.
Mentiras
Emaranhado de mentiras que tenta te tragar ao dizer que o mundo é teu e és livre. O tempo é teu amigo e Chronos te faz bem ao te envelhecer. O novo ás vezes até parece parte de tudo que foi usado.
Levantou-se e foi revirar as caixas.
Após a mudança, mesmo passado um longo e cansativo mês as coisas pareciam que não tomariam a antiga forma. Nunca mais se organizariam de uma forma onde tudo pudesse ser encontrado sem extrema dificuldade. Novamente? Talvez com ela.
E todas às vezes quando ia dormir. Quantas noites se passaram?
Tudo ainda está tão bagunçado. Nem importa mais contar. Os dias incontrolavelmente irão passar. Vai anoitecer. Será arrasador.
Caixas lotadas até a tampa de tristes lembranças.
Foi tolo?
Ao pensar que algum amor não é tolo. Pensar na forma mais egoísta de reagir a tudo. Lutar para segurar tudo que quer sempre. Prender e não libertar. Cortar asas e sorrir. Ela cansou de viver assim.
Ele sabia.
Ele sempre soube.
A luz que brilharia de manhã seria a mesma. Aquela mesma que aparece após o pôr do sol. Ela iria refletir na persiana. Mesmo não podendo mais. Iluminaria as cartas que ele passou a noite folheando e pensando se devia ou não destruir.
Que poder magnífico aquelas palavras provocavam em seu semblante.
Destruir e esquecer.
Jamais seria assim.
Ele leu e leu. Alimentou velhos vícios. Arrependeu-se de palavras e de tentar mostrar-se poeta. Todo poeta é tolo. Todo amor é tolo. O espelho era enervante.
Seus olhos na madrugada arderam e ele por um único instante pensou:
-Isto é o terror e a delicia de chorar...
Falso.
Tudo acabara e ele nem mesmo imaginara que esquecera de tudo tão facilmente.
Não esperava o mal acontecer.
Pegou o celular mais uma vez e viu a mensagem na tela que dizia das 47 chamadas não atendidas.
O nome de quem ligava era “não atender”.
Alguém vigiava por fora de dentro de um furgão pela madrugada.
Talvez não fosse ninguém.
O certo era que por mais uma vez ele deveria repetir para si as coisas que nunca disse a ela. Mudar. Mudar. Mudar. Era o motivo pelo qual nada ficava em seu lugar.
Ela pode ter descoberto e é tempo de fugir. Mais uma vez.
Ele era livre ao fugir. Em cada bater de asas na direção da liberdade que nunca chegaria. O som ao fundo era daquele disco que ela nunca recebeu. O bilhete com coisas que você nunca escreveu.
Ela desistiria.
Algum dia.