AMIGO DA PRAIA
Nos fundos...
Ou será na frente?
Bem, isso não vem ao caso...
O mar era perto da casa.
Eu o via e chegava a ele saindo pela frente ou pelos fundos.
Naqueles dias, na praia, encontrei um amigo.
Muito mais que amigo...
Nos encontrávamos pela manhã...
Ficávamos juntos o dia inteiro.
Lá ao longe havia uma ilha...
Eram diversas, mas como só podíamos ir a uma de cada vez era como só existisse uma.
Só se chegava a elas com a maré baixa...
Meu coração estava em baixa...
Chegava muito rápido o dia de partir.
Inexorável.
As despedidas são ruins.
Ainda mais quando não tem adeus.
Chovera muito à noite
Malas prontas.
Não vejo meu amigo entre os que se despedem.
Crio coragem e pergunto por ele.
Se entreolham e silenciam.
Apontam a ilha.
Uma delas.
A que eu mais tinha medo.
Foi para lá?
Assentem...
Quando?
Antes da maré encher...
Passou a noite e não voltou.
Lembro-me que havia me convidado, mas eu iria partir...
Não era bom ir sozinho...
Mar bravio...
Muito nublado...
Ninguém o vê... Nem de binóculo...
Nenhum aceno dele...
Ônibus já vai sair.
Tive medo de olhar para trás.
Medo bate pior à ausência.
Não veio nada rolando na maré...
Nunca mais voltei àquela casa da praia.
Nunca soube o que aconteceu com ele.
Deve ter se apaixonado por uma sereia.
Toda vez que vejo o mar parece que as ondas invadem meus olhos...
E o vejo me acenando.
Não sei se me chama ou diz adeus.
Tem certas coisas que não morrem...