Estúpido Cupido
Estúpido Cupido
Marianne era a melhor amiga de Stephanie, ou como gostava de ser chamada, "Teph". E portanto, queria o melhor pra sua amiga. O tempo todo, a mais alta e aparentemente (só isso) mais velha, Teph portava-se masculina e andróginamente, e isso incomodava a todas as pessoas ao redor das duas, que olhavam para a garota de olho torto. A pequena de cabelos castanhos ondulados e longos, e olhos esverdeados, ficava incomodada, com a vista grossa que as pessoas faziam sobre sua amiga. E Teph, por sua vez, não parecia ligar, se as pessoas se incomodavam com sua aparência masculina, de pouco peito, estatura grande (bem maior que a pequenina Marianne), cabelos curtos escuros e olhos esverdeados como a outra.
- Teph, você é sapatão!? - Marianne perguntava, com sua vozinha fina e feminina, que encatava geralmente à todos, por ser tão "menininha" assim.
- Hmm... Não que eu saiba. - Disse a garota, e então, num ataque súbito, deu uma pequena mordida na orelha da outra, enquanto abraçava-a descaradamente por trás. - Só amo você, minha Mariannezinha!
- E-ei! Mas eu sou uma menina! - A pequena geralmente era assediada por sua amiga, que explicitamente a agarrava na frente de quem quer que seja. E isso ajudava ainda mais a aplacar sua má visão pública.
Pois é... Teph declarava-se tão descaradamente, agarrava, beijava (não na boca, claro) e mordia a amiga, que aquela demonstração clara de amizade por parte dela, parecia ser até mais do que isso. Marianne não sabia muito o que pensar... Talvez em seu âmago pensasse que sim, que a menina andrógina poderia gostar de si mais do que como amiga. Que em todas aquelas brincadeirinhas fofas e bobas, existia um fundo de verdade, como já dizia a "frase popular". E era isso que mais a temia...
A pequena passava horas e horas imaginando como faria, caso Teph lhe fizesse uma daquelas declarações seriamente... Como ela agiria, como poderia negar à amiga? Como poderia dizer-lhe que, diferente dela, era apenas uma pessoa "normal" perante à sociedade, e que nunca... Nunca poderia gostar de uma menina!?
A resposta para seus temores rapidamente surgiu, nas costas de um garoto. Thommas era seu nome. Um dos garotos mais populares da sala. Era bom nos esportes, razoável nas notas e sua aparência era realmente fabulosa. Um garoto lindo de morrer! Olhos azuis, cabelos claros, as meninas da sala babavam por ele! Só que, por ironia do destino, ele foi gostar da garota mais impopular e odiada do recinto... Sim, a menina que parecia um menino, Teph.
Marianne logo notou que o sujeito não parava de olhar a amiga-"machinho", e começou a ter caraminholas... Idéias empolgantes em sua cabeça, que seriam para si, infalíveis! É claro! Se ela quisesse provar a todos que Teph, apesar da aparência, e das brincadeiras "lésbicas", gostava de meninos, isso faria a visão pública que ela tinha para as pessoas mudar!
Rapidamente, pôs seu plano em prática, fazendo uma panelinha...
- Teph... - Disse a garota, enquanto a outra lhe agarrava, como de costume, abraçando-a por trás e dando beijinhos no topo de sua cabeça (Ela costumava fazer isso, porque era mais alta! Que abusada!).
- O que, minha coisa fofa!? - Perguntava a garota, e a outra ficava um tanto incomodada com esses "estranhos" apelidos carinhosos "até demais".
- Já reparou que o Thom, o garoto mais bonito do colégio, está de olho em você!? - Perguntou a garota, e rapidamente, a andrógina lhe largou.
- O q-quê!? Tá doida! Mas é claro que não está! - Disse a outra. Marianne não sabia se era de nervoso por descobrir aquilo, ou de rejeição total à idéia de ter algo com um garoto. Mas se assim fosse, Teph só poderia ser lésbica mesmo. Ao menos seria, com um garoto daquele tipo.
- Está sim! Ele não para de olhar pra você com cara de bobo! E acho que você devia mesmo investir! Todas as meninas da sala estão doidas por ele! E se você ficasse com ele também, além de se popularizar mais, as pessoas parariam de pensar que você é sapatão! - Disse a amiga, tentando "ajudar", mas sendo um tanto... "incômoda" para a outra.
- Mas eu não me importo se as pessoas pensam isso de mim! - Disse a outra, emburrando-se, como já era previsto.
- T-tudo bem! - Ela sabia que se tocasse nesse tipo de assunto, não conseguiria convencer a amiga a tentar com um garoto. Portanto, tinha que mudar a estratégia... - M-mas... Ele parece ser mesmo um garoto super legal, diferente dos outros garotos! Parece gostar de verdade de você! Tenho certeza que, ele faria tudo por você! Tudo mesmo! Sem contar que... Você não pode viver pra sempre neste amor platônico comigo, não é, Tephzinha!?
Marianne disse essa última frase sorrindo, piscando, com um tom de brincadeira, assim como as brincadeiras da amiga. Mas Teph estava séria. Estranhamente séria quando ouviu isso.
- É... Talvez você tenha razão... - Disse ela. Com essa resposta, a menina baixa não sabia se ficava triste ou feliz. - Mas ainda sim, eu não quero ele! Prefiro você!!! - Disse, melhorando um pouco o humor.
"Será que ela levou a sério o que eu disse!? Será que ela realmente gosta de mim dessa forma!?" pensou a outra, um tanto confusa.
Os dias passaram rápido, e as coisas foram se "encaixando" quase que sozinhas. As insistências de Marianne prosseguiram, mas Teph sempre negava qualquer oportunidade. Até que um dia, a garota viu ao longe, o menino Thom tomando coragem e indo falar com a garota andrógina. A conversa dos dois foi bem "surpreendente" pra todos os que assistiram. Na verdade, todos realmente assistiram, já que o rapaz era super popular e a menina nem um pouco. Ninguém acreditava que aquele menino lindo estava dando em cima daquela garota que mais parecia outro rapaz.
No início, a expressão de Stephanie era de surpresa e um pouco de tensão. Depois, tornou-se um leve sorriso. Marianne viu pouco a pouco Thommas conquistar a menina. E um tempo depois...
- Marianne... - Disse Teph, um tanto séria, e já sem agarrar a amiga.
- O que foi, Tephzinha? - Perguntou a menor sorrindo, e então, a amiga lhe deu um amigável sorriso também.
- Estou namorando o Thommas! - Disse ela, e Marianne ficou surpresa.
- S-sério!? Nossa! Que bom!!! - Disse a amiga, reparando no quanto Teph parecia enfim feliz com isso, de verdade.
Logo depois, apareceu o rapaz com um sorriso apaixonado nos lábios, e buscou a amiga, que se despediu da outra à distância, dando um "tchauzinho" para a mais baixa.
...
Marianne ficou um tempo sozinha, olhando pras próprias mãos. E logo, lágrimas pesadas começaram a aparecer em seus olhos, e caírem como gotas grossas de chuva nas mesmas. Teph nem a abraçou ou beijou para se despedir, apenas saiu, com aquele garoto. Ele levou a Teph. O maldito levou a Teph.. A SUA Teph.
(Na verdade, o tempo todo... Marianne acreditava que estava a afastar Teph daquela visão ruim que as pessoas tinham sobre ela. Daquele negócio de "lésbica", mesmo que de brincadeira, porque aquilo lhe tornava impopular. Só que na verdade, ela mentia para si mesma, o que ela queria mesmo, era SE afastar disso. Do sentimento "proibido" que tinha pela própria amiga...)
FIM.