Olhares Perdidos

O sorvete de creme para aliviar o calor das tardes tão quentes,

era tão somente um pretexto para ela atravessar a avenida e

esbarrar, por querer, no olhar perdido que vinha da mesma vitrine.

A loja vendia lembranças da cidadezinha histórica, coisas que as senhoras teciam nas calçadas, aos olhos de todos, a fim de render uma ocupação nos dias que sobravam...

Ela observava, sem muito ver, as miudezas ali expostas, enxergando com o coração os olhos que também a observavam e que não mudavam, mesmo com os anos passando tão rápido.

Por vezes, a alma suplicava pelo roçar das mãos na hora de pegar o embrulho ou de receber o troco, como acontecia antigamente...

mas os pés permaneciam colados nas pedras do calçamento.

A certeza da partida, aumentava a coragem de ficar ali mais um instante...e de tentar, através daquele vidro da vitrine, dizer sem falar,

que o amaria por toda sua vida...

E ele recebia o recado, pois todo ano, estava ali, no mesmo lugar do balcão...com os olhos brilhantes e a voz embargada que só conseguia dizer "eu também", depois que ela ia embora.

Melissa Lorenzi
Enviado por Melissa Lorenzi em 09/03/2010
Reeditado em 09/03/2010
Código do texto: T2128953
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.