Porta do Banheiro
Era meu dia de trabalho. Normal e entediante. Muitos clientes pra atender na loja. Trabalho com roupa, em uma loja do shopping. As pessoas vêm, vêem a vitrine, e nossa patroa obriga a gente abordá-las. Mas TODO MUNDO sabe que TODO MUNDO ODEIA ser abordado. Fazer o que, aquela peçonha não sabe... Ela tem problemas. Bom, mas como eu estava dizendo, eram muitos clientes pra serem atendidos. Os que gostavam da roupa e iam comprar no caixa, e aqueles que queriam provar nos provadores (que redundante, mas tudo bem) e aqueles chatos que aparecem só pra olhar, e por causa deles você não recebe quase nada no final do mês. Mas tudo bem, dá pra viver (eu não dou pra viver, eu disse DÁ PRA VIVER).
E era minha hora de almoço. Eu ia correndo comer aquele lanchinho calórico de sempre, que no momento parecia que custava uma fortuna, e no começo do mês parecia tãããão baratinho. E então, depois que bate o lanchinho no estômago, vem em conjunto aquela vontadezinha de ir ao banheiro. Então, obviamente eu ia aproveitar o resto do meu horário e ir ao banheiro. Enfrentar a fila gigantesca do banheiro feminino e mais aquela galera fofocando, se maqueando e olhando no espelho era uma aventura das grandes. Eu fiquei na fila entre uma mulher gorda com uma filha pentelha que corria pra lá e pra cá nas pernas da gente, e uma mulher carrancuda e magricela, com cara de poucos amigos. Unf... Que tédio e que inferno. Depois não entendem porque estamos todos estressados e gordos! E olha que eu não sou gorda (tá, talvez um pouco acima do peso, mas gorda é a vovózinha!).
E finalmente, uma velhinha saiu do banheiro, dando lugar pra minha pessoa apertada. Eu espero MESMO que a velhinha saiba usar a descarga e saiba acertar a mira do papel higiênico no latão de lixo, porque 'cê sabe, né? Gente de shopping é PORCA! Se bem que eu acho que isso é só por essas bandas. As pessoas jogam lixo em qualquer lugar, devem achar engraçado. Jogam lixo no chão, na rua, no quintal da sua casa, na privada (e entope tudo) e nos rios, e polui tudo, e quando chove, enche e o lixão vai pra casa delas de volta (hahaha, bem feito!).
Tá, depois de tanto bafafá e baboseira, eu forro a privada, porque já viu, né? E sento nela e me concentro em fazer o número um claro. Porque odeio fazer número dois fora de casa. Mas tirando esse assunto saudável, quando você tá lá na privada (ou vaso sanitário, pra ser menos "violento"), você pensa em várias coisas. Coisas como "A vida é um saco", "meu trabalho é uma merda, talvez eu peça demissão", "minha chefe com aquela roupa tá parecendo o Clodovil", "preciso me depilar, minha perna tá horrorosa", "e eu não arranjo ninguém pra mim, por que não arranjo ninguém pra mim?" e variações. Mas eu acho que o último é pessoal meu mesmo. Eu sempre tive problemas com relacionamentos, parecia que eu nunca estava satisfeita. Talvez a idéia seja simples, o fato seja reto... Eu nunca me apaixonei por ninguém. Não que amor seja verdadeiro, eu simplesmente... Tá, eu não acredito nessas bobagens. Mas saindo desse papo entediante, vamos ao que interessa.
Eu olhei pra porta do banheiro e como sempre, tem aquelas mil e uma pixações das mulheres que não têm mais o que fazer, e fazem aquilo de diário, anúncio, árvore (saca aqueles coraçõezinhos esculpidos que aliás são de muito mal gosto? quer esculpir?! vai esculpir na sua pele, não na pobre árvorezinha tadinha, ela não tem culpa que o joão do pãozinho ama você e você ama ele!)... Bom, eu comecei a ler ali as coisas, afinal, você fica sem ter o que fazer, enquanto está fazendo... Bom, você me entendeu.
Então, eu comecei a ler aquilo ali, e tinham várias coisas interessantíssimas (isso, é sarcasmo sim) escritas. Coisas como "João do Pãozinho + Mariazinha" (Tá, não são esses os nomes, mas os nomes mesmo não interessam), "Mulher Vadia Piranha Safada Tel: 0909090909" (E não, o "Vadia Piranha Safada" foi por minha conta, tá?) e por fim, tinha um texto enoooorme, mas escrito com uma letrinha beeeeem pequenininha ali no canto. A letra era de fôrma, e pareciam ter usado caneta pilot pra escrever. É daquele tipo que a moça da limpeza vai passar Veja, álcool, ácido sulfúrico e vai ficar até a véspera do natal do ano seguinte, saca? Bom, então eu comecei a tentar ler aquele textinho. Li só o começo dele, era grande demais. Tinha acabado meu horário de almoço... Talvez eu passasse ali alguma hora pra mijar e tentar ler de novo. Ou só tentar ler de novo. Ah, vamos lá! Eu sou curiosa!
Eu trabalhei, trabalhei, trabalhei igual um burro de carga. Cinco clientes foram mal-educados, respondões e uns filha da puta. Sinceramente? Vou aproveitar que isso pode ser lido por qualquer um, então já vou dizendo, quando você for ser atendido por qualquer lojista de qualquer lugar: Lembre-se, você poderia estar no lugar dele! Então TRATE ELE AO MENOS COM RESPEITO, PORRA! Será que é pedir demais?
Bom, acabou-se o trabalho, e eu estava indo pra casa, claro. Dormir e muito, e talvez comer mais alguma coisa calórica. Quem sabe eu não dava uma passada na locadora e alugaria aquele filme novo com a Julia Roberts. Ah, qual é? Eu adoro comédias românticas água-com-açúcar. A vida poderia sempre ser assim, terminar bem e com a pessoa que você ama. Ah, eu já disse que não acredito em amor, né? É...
Passando pelo banheiro, eu sinto aquela coceira. Não pense besteiras! A curiosidade volta ainda mais forte. Eu queria ler aquela droga de texto, e nada melhor que agora, afinal, eu estava livre e tinha tempo o bastante. E uma lupa na bolsa! Hahaha! Sim, pensando nisso, eu "peguei emprestado" (lê-se "roubei rápido, logo devolvo, antes que ela perceba a falta") a lupa da fresca da minha chefe, só pra eu conseguir enxergar o texto na porta do banheiro. Fui correndo pro estabelecimento sujo, agora sem quase nenhuma mulher chateando (claro, pois, era tarde e o shopping estava fechando). Me enfiei dentro do banheiro CERTO, depois de esperar alguns minutos uma menina remelenta (e só é remelenta, porque ficou me atrasando), que estava lá antes. Fechei a tampa da privada e me sentei em cima dela. Olhei pra porta. Peguei minha lupa mágica, aliás, a lupa mágica da minha chefe e comecei a ler a história. Era mais ou menos assim:
"Oi. Meu nome é Sofia". Uau, "Sofia" é um nome bonito. E ela tinha uma letra de fôrma bem legal. Será um bilhete suicida? "Eu tenho 19 anos". Bem novinha, tomara que não seja suicida. Eu tenho 23 e já pensei tanto em suicídio, mas isso é bobagem... No fim vamos nos ferrar estando vivos ou não, não é? "E eu sou apaixonada pela minha melhor amiga". Ahhh!!! Que fantástico!!! Um drama de uma lésbica-suicida, isso tá ficando cada vez melhor. "E ela não sabe, e acredito que nunca vai saber". Nossa, que menina mais baixo-astral. Se solta menina! Arrruma outra sapatão pra você! Tá, paro de interromper... "Ontem, Elisa foi lá em casa. E ela levou o namorado". Elisa? "Elisa é o nome da minha amiga". Ah sim, obrigada. Nossa! Ela levou o namorado? Que sem coração! "Ele é um idiota, que não parece gostar dela". Será que ele não gosta, ou é você que não quer que ele goste, amiga??? "Eu o vi com outra mulher, se abraçando e se acariciando". Filho da puta!!! "Mas não tive coragem de contar pra minha amiga. Primeiro que, ela ama muito ele. E segundo que, eu ia me sentir mal. Ia me sentir como se só estivesse fazendo isso, porque gosto dela, e quero ela pra mim..." Que fofo!
Então, eu parei, e reparei que a escrita seguinte, com caneta pilot, tinha mudado de cor. Ela escreveu com outra caneta, e provavelmente... Em outro dia! Foi assim, que a história se tornava mais e mais interessante, e eu me tornava mais e mais curiosa pra saber o fim disso! Será que a Sofia ia conseguir se declarar pra Elisa? Uau! Isso é melhor que novela, porque é REAL!!!
Acabei mijando e indo embora. Estava muito tarde, e não tinha como eu ler o resto naquele dia. MAS É CLARO que eu estava ansiosa pra dia seguinte poder ler o resto daquilo. A parte escrita com caneta pilot azul. O outro dia em que Sofia usava a porta do banheiro de seu diário lésbico secreto! Tá, eu poderia sentir nojo... Afinal, ela gosta de mulheres, e aliás, ela gosta da melhor amiga. Mas tadinha, ela não tem culpa, eu penso. E afinal, ainda sim, a novelinha está superinteressante. Na hora do almoço, estava já nervosa de tanta ansiedade, minhas amigas notaram. "Você está bem, Judy?" Elas perguntavam. Que elas se danem! Eu não ia contar que estava assim por causa dum textinho que pode nem ser verdade que está escrito na porta do banheiro. Logo, no meu almoço, ao invés de comer o lanchinho super-caro e super-calórico, eu me diriji ao banheiro. Uau! Como eu adoro fazer necessidades fisiológicas! Afff... Estou sendo sarcástica de novo, claro.
Sentei-me em cima da tampa da privada-vaso-sanitário, e me pus a ler o resto. Dessa vez, forçando a vista, porque eu já tinha devolvido (Não disse que eu ia devolver???) a super-ultra-lupa da minha super-peçonha-chefe. E estava difícil, Sofia queria que o Superman lê-se o que estava escrito, porque acho que só ele ia enxergar aquela merda. Ok, ok. Desisto, talvez eu simplesmente tenha que voltar depois, na hora de ir embora.
Na hora de ir embora, me prosto numa fila quilométrica só pra terminar mais um capítulo da novelinha. A velha gorda está lá na fila, e também acho que ela deve querer entrar naquele banheiro. Será que ela também está lendo a novelinha? Será que os óculos supergrossos dela têm uma lente superincrível que funciona também como lupa? Deus! Estou vendo muitos filminhos de comédia romântica, que estou ficando fantasiosa. Agora a velha chata é uma super-heroína, e eu estou interessada em uma novela lésbica. Isso é falta de homem, deve ser. Tem que ser. Comecei a ler, quando me sentei na tampa do vaso. O chão coberto de papéis! Não falei? Pessoas de shopping são umas porcalhonas! Bom, continuei minha novelinha favorita... Melhor do que a da televisão. "Oi, sou eu de novo. Sofia" Eu sei Sofia, já estamos virando até confidentes... "Hoje foi um dia maravilhoso" Sério, você pegou sua amiguinha? "Eu fui ao cinema sozinha com Elisa, sem o idiota do namorado dela". Sofia, você é muito nova pra essas coisas. Ou será que eu é que sou velha? "Vimos um filme chato, muito chato, por sinal, mas tudo bem. Eu não prestei atenção no filme, claro!" Hum... Sei no que você prestou atenção, sua safadinha! "Ela estava tão linda, que eu não conseguia me desprender dela. Eu ficava olhando pra ela abobalhada, e ela me perguntava sempre 'Está tudo bem, Sofia?', e eu não sabia o que dizer e dizia 'Estou muito feliz, sabia?'". Que fofo! Sofia, você é lésbica, mas é extremamente fofa! Bom, fofurinha... E lá vem outro dia... "Oi, é a Sofia mais uma vez... Hoje foi um péssimo dia" Ihhh... "Hoje é meu aniversário". Parabéns, Sofia! "Mas é horrível..." O que é horrível, menina? "Eu soube que o babaca do cara terminou com minha amiga". Hum... E isso não é bom? "Eu deveria estar feliz". E por que não está, Sofia? "Mas é que... Ela está tão triste. E eu... Passei o dia todo, consolando ela, por causa daquele babaca. E ela ficou o dia todo chorando, e não sabe nem que é meu aniversário". Que filha da puta essa Elisa, hein? Na hora do venha nós ela gosta, mas no vosso reino que se dane, né? Opa! Está tarde! E tem mais um bocado de coisas pra ler... Eu leio amanhã.
E aí? Será que a Sofia vai continuar nesse dramalhão de novela mexicana ou vai tomar coragem e contar pra idiota da Elisa que o namorado dela é um filho da mãe e que ela ama ela, e é a pessoa certa pra ela? Pessoa certa?! O que estou dizendo!? Ela é uma menina. Uma menina não é certa pra outra menina. Por mais que uma ame a outra... Isso não faz sentido. Tá, a Elisa pode não ficar com a Sofia, mas que ela largue esse otário traidor e galinha! Acho que eu ficaria mais feliz mesmo, é se ela terminasse com a So... (So? Já estamos ficando íntimas! Hahaha!).
No dia seguinte, trabalhei mal. Algo estava remoendo meu cérebro. E novamente, a sensação de ansiedade invadia minha mente. Eu queria, eu queria, eu queria saber o que ia acontecer entre Sofia e Elisa, e o namoradinho filho da mãe que não estava bem naquela história. "Oi. Ainda é a Sofia. Sei que já deveria ter desistido de escrever aqui". Claro que não, Sofia, claro que não. E mais um dia, tão transtornado, e alternado, e eu alienada. "Hoje, Elisa sofreu um acidente de carro. Ela ligou pra mim, e eu fui vê-la correndo, morrendo de preocupação". Você é uma fofa Sofia, precisava de um homem assim como você. E então, meus filminhos estavam ficando escassos e pobrinhos perto da novela da vida real da menina Sofia de 19, que agora tinha 20, e não era mais uma menina. Afinal, eu não sou tão velha assim, tá!? "Ela é tão linda, ela é tão doce. Se eu pudesse eu a desenharia, faria um quadro pra ficar admirando, na parede do meu quarto, todas as vezes que fosse dormir e acordar. Se eu pudesse eu escreveria poesias pra ela ler, mas eu não tenho nem coragem de começar a escrever, quanto mais entregar a ela. Ela provavelmente me odiaria. Ela me ignoraria, ela nunca mais olharia na minha cara". Tadinha. "Somos amigas de infância, e tudo seria destruído se eu apenas pronunciasse as palavras 'XXXX, Eu te amo'". PARA! PARA! PARA TUDO! Sofia ia escrever o nome da Elisa, mas ela escreveu outra coisa... E rabiscou tudo por cima... E nisso eu concluo que... ELISA E SOFIA SÃO PSEUDÔNIMOS! Claro! Sofia com medo de Elisa ler o que ela escreveu... Peraí! Sofia com medo de Elisa ler? Comecei a desesperadamente ler aquele texto com rapidez, e tanta rapidez que eu engolia trechos. "Hoje eu disse que Elisa...", "E então o idiota me respondeu que se ela...", "Eu não posso mais...", "Oi, eu sou...", "E então... Hoje é o aniversário de Elisa. Dia 22 de maio."
Dia 22 de maio. Aniversário de Elisa. Meu aniversário. EU sou Elisa. E logo... Erika é Sofia. Erika, minha amiga de infância. Que parecia não gostar do meu ex-namorado. Quando eu tinha... 21 anos... E ela 20. E ela me ajudou no acidente de carro, quando eu perdi meu Escort num engavetamento. Que sempre esteve do meu lado, e sempre parecia tão triste, tão vazia, tão obscura. Que sentia que precisava de algo, mas eu sempre fui... Tão egoísta. Falando e exclamando meus assuntos, meus problemas, meu cotidiano, minha vida. E nunca, nunca sequer liguei pra vida dela. Íamos ao cinema pra ver meus filmes água-com-açúcar, e ela odiava. Eu nem lembrava do aniversário dela, enquanto ela sempre me dava presentes no meu. E um dia, ela me fez um desenho, de mim mesma, e me deu de presente. O desenho que ela queria prender na parede do quarto dela, pra "visitar" sempre que dormia e acordava. Era eu. Todo esse tempo, era eu. E todo esse tempo era ela. Eu sempre me achei confidente de Erika, de Sofia... Mas eu nunca fui, de nenhuma das duas. Eu sempre fui uma idiota egoísta. E agora... Ela me amava. Mais que tudo nesse mundo. Mais que meu ex-namorado traíra. E... Isso era incrível. Por causa dele, que eu não acreditava em amor, e eu tentava me convencer que nunca amei ninguém, só pra não ter que admitir que amei ele, e ele nunca me amou. E nunca me amaria, ninguém nunca me amaria como ela. Histórias da vida real... PODEM e DEVEM terminar como comédias-românticas da Julia Roberts.
Saí correndo do banheiro aquele dia. Estava tarde pra burro. Tarde demais pra ir na casa de alguém, mas não pra mim! Peguei meu carro novo, e fui um pouco acima do limite de velocidade. Estava próximo, eu sentia. Parei no meio-fio, do lado duma casa bonita. Saí do carro, bati a porta com força, era o clima do momento, a tensão do momento. E bati no portão de madeira com vontade. As placas do portão sacolejaram. Era sempre assim, eu mandei ela trocar, mas ela nunca trocava aquele trinco. O portão vivia balançando, e um dia poderia ser facilmente arrombado por algum ladrão... Bati de novo, com mais força dessa vez, e gritei seu nome: "Erikaaaa!!!". E ela finalmente, atendeu correndo, estava preocupada, via-se em seus olhos. Erika, erika... Sempre preocupada comigo. Você é uma fofa.
- Judy? - Ela perguntou, ainda com a expressão extremamente preocupada. - Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Afinal... Tá tão tarde, e parece que você veio correndo, você tá toda verme...
- Vamos entrar? - Eu só disse, pra que ela adiantasse as coisas.
- Ok. Tudo bem. Pode entrar. - Ela disse, e fui atrás dela. Entramos na sala de estar dela, e ela trancou a porta.
A sala ampla e bonita. Eu passava boas tardes lá com ela, conversando, chorando, com ela me consolando, e fazendo biscoitos pra gente. Os biscoitos de Erika eram sempre gostosos.
- Agora, sente-se aí, amiga, e me diga porque está assim... - Ela disse, com uma cara de "amiga cumprindo dever, enquanto carrega uma cruz". - Não é aquele cara de novo, é? Porque se for ele... Cara, eu não aguento mais, Ju. Aquele cara é um... Saco... Porque ele...
- Não, não é ele. - Eu disse, me apressando, novamente. E ela me olhou assustada.
- O que é então? - Ela perguntou, ainda mais preocupada agora.
- Preciso te dizer uma coisa... Muito, muito importante. - E meus dedos suavam, e eu tremia de nervoso.
- O que é? Pode me contar. Qualquer coisa, eu tô a... - Ela sempre dizia que estava lá pra mim, e sempre estava mesmo. Mas agora eu não queria ouvir isso, eu cortei antes que ela pudesse dizer mais.
Dei um beijo nela... Tão demorado e profundamente angustiante. Angustiante de dor, por não ter feito isso antes, por ela ter ficado tanto tempo esperando, e também angustiante, porque eu estava morrendo de ansiedade pra fazer isso, depois que eu descobri a verdade. E o beijo foi gostoso. Foi ótimo! Foi melhor que com aquele babaca. Ela me envolveu com seu braço, como se estivesse mesmo me abraçando, e eu senti o calor do sentimento que ela passava pra mim. Um sentimento verdadeiro, que fazia todo e qualquer sentido, e era tudo o que eu mais precisava em toda minha vida, naquele instante... E então, nos separamos, e eu olhei pra ela. Ela ainda estava assustada, abobalhada... Com a face extremamente corada, uma gracinha. Ela estava morrendo de vergonha, era como se seus sonhos tivessem se realizado, e ela não sabia o que dizer, e não conseguia entender o que estava acontecendo.
- Ju-Judy... O que... O que foi isso? - Ela perguntou, ainda muito assustada. Peguei em suas mãos e elas estavam tremendo.
- Era o que eu tinha pra te dizer... E... - Eu disse, inspirando, juntando coragem naquela respiração. - Eu pretendo dizer pro resto dos meus dias, se você quiser.
Ela ficou muito... EXTREMAMENTE boba. Mas eu sentia a alegria que ela não conseguia conter. Ela estava tremendo muito, e suas mãos suavam, mas estavam frias, geladas, porque o dia estava frio. E então, sem poder dizer mais nada, sem palavras, ela me abraçou. Tão profundamente quanto nosso beijo, e ela inspirou sentindo meu perfume, que ela dizia que tanto gostava naquela porta de banheiro. E ela me abraçou e me envolveu tão forte, que me fez sentir segura pela primeira vez. E aquilo foi tão perfeito, que eu senti vontade de chorar, como quando acontece aqueles finais de filme...
Depois disso, nós duas somos eternamente felizes juntas. Isso aqui é minha história, contada agora pra você, usando essa pilot preta e essa pilot azul, nessa porta de banheiro. Ah! E um p.s., JOGA O PAPEL NA LATA DE LIXO, DÁ DESCARGA E LAVA AS MÃOS DEPOIS QUE SAIR, seu porquinho...
FIM