Amor em família, amor verdadeiro! - parte ll -

Por longas horas os dois ficaram ali, em silêncio e abraçados, sentados no chão daquela sala, agora quente pelo amor que pairava no ar. As crianças olhavam para a mãe sem nada entender mas compadecidas pela cena que presenciavam também permaneciam em silêncio, amanhã seria um novo dia!

Foram dias de luta e noites de cansaço exaustivo, Renato não saira mais, vinha direto para casa, empurrava o jantar “goela a baixo” pois não sentia fome, seus olhos esbugalhados pediam socorro, silenciosamente Clara entendia seu recado e oferecia-lhe colo. Permanecia ali, sentada no sofá da sala com seu irmão deitado em suas pernas por horas, quando o sono vencia cochilava ali mesmo, sentada, pois ao menor movimento de levantar-se seu irmão agarrava-se em suas pernas suplicando:

- Fica aqui mana! Eu tenho medo de ficar sozinho!

Assim foram dias e mais dias, Clara conversava amorosamente com seus filhos pedindo a eles que entendessem que o tio precisava de ajuda naquele momento e ela era a única da família disposta a ajuda-lo.

Passados uns dois meses a família se reunira para comemorar um aniversário, Renato que estava feliz de repente surtou, começou a chorar, foi para casa, a casa de Clara, e por lá ficou não retornando. Clara foi atrás dele para saber o que estava acontecendo, ao chegar em casa Renato abraçou-a e enquanto beijava seu rosto confessava seu maior medo. Chorava pois a necessidade da droga estava cada vez maior e ele já não sabia mais o que fazer para fugir dela, não sabia como agir.

- Eu só tenho você mana! O que eu faço. Me diz!

Clara acariciou seus cabelos pedindo a ele que se necessário jogasse a chave da moto fora, no meio do mato, em um rio. Sabia ela que ele precisava do veículo para ir até o ponto de venda da droga, ainda disse a ele:

- Vamos voltar para a festa! Tome uma cerveja, não que eu esteja incentivando você a beber, mas vai se sentir melhor. Venha! Eu confio em você!

Os dois voltaram para a festa onde Clara foi duramente criticada por apoiar o irmão que estava metido com droga. Ela sentiu vontade de gritar:

"- Tolos e ignorantes! Quando vocês vão perceber que ele está precisando de apoio para vencer de vez esta batalha"! No entanto calou-se, de nada adiantaria “jogar pérolas aos porcos” ninguém exceto ela sabia a verdade. Seu querido irmão estava vencendo uma grande luta, luta esta que travava consigo mesmo entre o querer usar cocaína e o poder de desvencilhar-se do vício.

Já passavam das duas da madrugada quando o irmão mais velho convidou Renato para sair, dar uma volta, ele queria testar sua moto nova de duzentos e cinqüenta cilindradas. Lá se foram os dois cada um com um acompanhante.

O coração de Clara quase saltou do peito ao perceber que aquela poderia ser a oportunidade para seu irmão ir atrás de drogas e por tudo a perder.

Após um tempo que pareceu uma eternidade, lá estavam eles de volta. O que era para ser um passeio divertido tornou-se um suplício. O irmão mais velho de Renato caiu de moto, não estava acostumado com uma “máquina mais potente” e ao acelerar um pouco mais a moto empinou, graças a Deus só houve escoriações, mas este estava indignado, gritava palavrões enquanto olhava os estragos na moto, foi quando Renato num gesto comovente ergueu os braços gritando:

- Para ! Olha aqui! Olha pra mim seu merda! Do que você está reclamando! O que você acha que perdeu! Olha pra mim vai! Sabe a quantos dias eu estou quebrado, sem dormir, brigando todo dia comigo mesmo, acho que nem alma não tenho mais! Eu conheci o inferno! Eu que devia estar “puto da vida” e estou aqui, junto com vocês, tentando a todo custo dar uma gargalhada! Que quero ser feliz de novo, quero acordar sem pensar no que um dia eu fui, aquele lixo que vocês adoravam! Venha cada seu “merda”, me dá um abraço que eu to precisando de vocês como preciso de ar!

Um grande silêncio se fez.

Róger, irmão mais velho caminhou vagarosamente até Renato e abraçou-o chorando, aliás, naquele momento todos estavam chorando alguns silenciosamente, outros nem tanto.

Clara com os olhos embaçados olhava para o céu e agradecia a Deus, aos anjos e santos porque sabia que naquele momento seu irmão dera o grito de liberdade. Apesar de nenhum comentário ser feito por aqueles que estavam ali presentes, e não se fazia necessário, todos agora sabiam que Renato estava “limpo” e precisava de muito amor e carinho.

Já se passaram sete anos desde o início desta história, Renato casou-se a seis anos, tem uma linda filha de cinco anos, construiu sua casa própria e vive muito feliz o seu casamento.

Clara ainda se surpreende quando o irmão entra em sua casa como um furacão e a pega no colo beijando-lhe a face. Não precisa proferir palavra alguma, ela sabe o que estão comemorando. Mais um aniversário! Mais um ano de uma nova vida, uma vida longe das drogas. Mais um ano de Liberdade!

**** Renato confessa emocionado a irmã que existem dias em que a vontade de “viajar” é muito tentadora mas a força da gratidão que sente por Clara é maior, que este amor foi sua cura e é seu sustento nas horas da tentação.****

"Esta história é real, somente seus personagens tem nomes fictícios."

khayssa
Enviado por khayssa em 06/03/2010
Reeditado em 06/03/2010
Código do texto: T2123450
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