Dois olhares
Dois olhares
Dois olhares se encontraram... Fomos nos acompanhando, um de cada lado do salão, enquanto no meio, pares suavemente deslizavam com suas faces coladas, fazendo do par uma parte de si. A música era calma e a luz baixa, mesas decoradas com longos panos vermelhos foram dispostas ao redor formando uma grande elipse.
Por um segundo perdi seu olhar e no outro encontrei novamente. Foram eternos segundos lhe tendo e te perdendo, até que lhe vi tão perto que agora poderia lhe ter por muito mais tempo.
Não hesitei, encarei-a como se quisesse vê-la por dentro, fui bem fundo em sua retina. Era um olhar profundo que escondia um brilho malicioso que me atraia, sugava com todas as forças a minha lucidez e por fim me paralisava.
Palavras não saíram, não houve nem sequer um ruído, nem respiração. No momento seguinte aproximei meu tórax, encostei meu rosto no dela, envolvi meu braço em sua cintura e trouxe-a lentamente para mais perto. Passei meu rosto bem devagar para o lado oposto, deixando as duas bocas se aproximarem e inspirei.
Não olhamos mais nos olhos. Naturalmente fomos sendo atraídos pela elipse onde os casais, quase como num ritual, se perdiam inconscientes, um no corpo do outro. Tocava um ritmo lento e fomos acompanhando, sem dizer nada.
Peguei um pouco mais forte em sua cintura, expirei perto do seu pescoço e senti que suas unhas pressionavam minha pele, como se quisessem penetrar em minha carne.
Em seguida tocou-se um tango argentino, foi possível sentir a temperatura do salão subir. Os casais trocavam suor e seguiam, quase instintivamente, o ritmo da música sem se importar com o mundo ao redor, nada que fosse externo significava.
E a noite seguiu... Mais um tango, valsa, salsa... Aos poucos, a música parecia distante para nós. Não ouvíamos os sons ao redor, dançávamos ao ritmo das batidas de nossa pulsação e bailávamos ao suave vai-e-vem da respiração. Às vezes longa, ás vezes ofegante.
Daí por diante, nos perdemos de tudo. Éramos parte de um só corpo. Unidos pelo desejo.
Soltei minha mão direita de sua cintura, com a outra peguei levemente em sua mão. Com a primeira, subi bem devagar, deixando que os dedos deslizassem sobre seu braço, acariciando sua pele, até chegar perto do seu ombro esquerdo. Transpassei meus dedos sob seus cabelos perto da nuca e segurei seu pescoço pela parte de trás trazendo seu rosto dessa vez mais perto. Com a outra mão segurei firmei novamente em sua cintura e puxei seu corpo ainda mais pra perto.
Sem dizer uma palavra, como lados opostos de dois imãs, nossas bocas se juntaram, se acariciando mutuamente e se descobrindo. Pude sentir o passar de seus lábios, macios, levemente avermelhados e viciantes.