CONSUMAÇÃO


Amanhecia...

Ela acariciou-lhe o rosto de leve, com receio de acordá-lo...

Ele lhe parecia tão diferente!

Talvez porque nunca o vira assim antes, meio desprotegido,

entregue... Cansado...

Tinham feito amor pela primeira vez, 

a principio meio tímidos,  faltava-lhes a intimidade do toque, 

do cheiro da pele...

Faltava-lhes o reconhecimento, próprio dos amantes,

mas finalmente juntos, o desejo sufocado veio à tona,

vencendo cada barreira, e eles se amaram,

como se desde sempre pertencessem um ao outro..

Havia sido maravilhoso e valido cada minuto da longa espera

Ela mal podia crer que o tinha ao seu lado...

Precisava tocá-lo, senti-lo, para saber que não era sonho!

Mas agora, a luz do sol insinuava-se por entre a cortina...

Quebrando um pouco a magia, revelando roupas espalhadas,

duas taças, manchas de vinho e batom, nos lençóis 

tão brancos...  Tudo lhe parecia simbolismo...

As duas taças, a celebração do prazer...

As roupas despidas, a consumação do desejo...

As manchas de vinho, a perda da inocência...

Sim! A tola inocência de crer no amor!

A inocência de seu coração virgem,

ao achar que poderia manter tudo sob controle!

Que insinuaria, brincaria, sem o risco de se apaixonar!

Mas apaixonara-se sim, loucamente!

Nos braços daquele homem, ela havia se  reencontrado... 

Havia sido feliz, feliz, feliz!

Havia sido sua mulher e ele, seu homem... 

Tinham  feito amor tantas vezes!  Quase com desespero...

No entanto, ela não disse-lhe uma única vez “Eu te amo”

E nem ele, falou-lhe de amor.   Então tivera medo...

Talvez vergonha de parecer antiquada.

Prefiria que ele pensasse que havia sido um capricho,

a consumação de uma fantasia secreta...

Não queria que ele soubesse que romântica como era,

havia se guardado para esse momento...

Sonhado com ele, dias e noites, negando seus carinhos

e seu corpo, a aquele que pensava ter “direitos” sobre ela...

Guardara-se assim, feito virgem...

A esperar  pelo seu  grande amor.

E mais do que a que entrega seu corpo na primeira vez,

ela lhe dera sentimentos!  Dera a ele sua alma...

Agora o sol já clareava tudo, e ela veste-se apressada.

Precisa dizer “Adeus” mas odeia despedidas...

Joga-lhe um beijo de longe...

Gostaria de beijar-lhe a boca e dizer:

“Você foi o único amor da minha vida!”

Mas contenta-se com um breve tchau... 




https://www.youtube.com/watch?v=fpy7lpSAhhw

*Et Si Tu N'existais Pas - Joe Dassin 


                                                                              
           
Carinhosa
Enviado por Carinhosa em 07/08/2006
Reeditado em 31/08/2014
Código do texto: T211169
Classificação de conteúdo: seguro