Não lugar
- Que vento, meu bem!
- Se quiser que eu feche os vidros…
- Não, tudo bem assim, quero sentir a estrada.
Assim eles seguiram, ela sentindo o vento, ou a estrada, ele apenas dirigindo. Um óculos aviador nos olhos, uma preguiça aparente em sua expressão e a mínima vontade possível de chegar à algum destino.
Enquanto ela sorria e sentia seus lábios secarem, ele apenas a olhava, indiferente. Não que para ele ela fosse apenas mais uma, mas sim por tentar racionalizar seus sentimentos por aquela mulher. Aquela mulher que sorria sem motivo, corria sem motivo, brigava sem motivo, e cujo motivo pelo qual se apaixonou ainda não descobrira.
Mas lá estavam eles, correndo em uma rodovia qualquer, de um estado qualquer, à um lugar qualquer. Ele já nem sabia se era ele quem não levava tudo aquilo à sério, ou se era ela e esse seria o motivo pelo qual havia caído por ela.
Viram um posto e decidiram parar para beberem algo. Ela com aquele olhar sempre perdido, ele com um olhar sempre fixo em um lugar: ela.
Sentaram e pediram uma soda, naquele lugar que parecia simbolizá-los, descuidado, quente, acolhedor. Se perguntavam quanto tempo aquele silêncio pertubador iria durar.
Ela se levantou, deu-lhe um beijo no rosto, saiu andando até a estrada, sentou no acostamento e ficou olhando os carros passarem, como quem assiste à um filme, ou à sua vida passando diante de seus olhos.
Ele não a seguiu, continuou lá, sentado tomando uma soda. Ela não olhou para trás para ver se ele vinha. Permaneceram naquela lacuna de um pequeno espaço, que representava a lacuna entre os seus sentimentos.
Tempo e espaço perderam sua dimensão e aquela distância que os separava jamais se desfez.