Uma manha no Divã
Levantei-me apressadamente, pois estava atrasado para um encontro. Arrumei-me e sai correndo pelas ruas porque era a primeira vez e não podia chegar depois do horário. Havia dentro de mim uma sensação diferente, algo espetacular corria em minhas veias, cada passo aumentava a adrenalina e o corpo exalava a mais pura energia. Não sabia como seria e nem o que ia dar no final das contas, porem eu caminhava em direção. Apenas queria ter asas como de águia, ou pés de tigre para chegar ao meu destino tão esperado.
Finalmente cheguei, e logo entrei em uma sala tão grande e espaçosa que dava medo, via apenas luzes, cores, objetos de figuras geométricas de todos os tamanhos. Havia uma música que entrava em meus ouvidos e me acalmava, relaxava e eu ficava a vontade naquele ambiente.
Sentei-me em uma cadeira confortável parecia que fazia massagens em meu corpo que aos poucos se entregava. Encostei a cabeça e fechei meus olhos por alguns instantes. Havia uma paz que cercava minha mente, uma alegria que exalava e não sabia de onde vinha. Percebi que aquele local fora criado especialmente para mim...
Com meus olhos fechados ouvi alguns passos calmos que sentou perto de mim, mas a sensação era tão especial que me impedia de abrir os olhos e ver quem era o dono dos passos tranquilos. Quando esta pessoa começou a falar comigo era uma voz forte, porem ao mesmo tempo calma, suave, doce e que penetrava em meu ser de uma forma nunca experimentada.
Nossa conversa se inicia e logo começo a falar de meus sonhos, sempre de olhos fechados porque não queria perder toda aquela sensação. A voz doce queria saber o que realmente havia em meus sonhos e pude contar um que mais sonhava ultimamente.
Ela me pergunta:
- Você está preparado para contar-me esse sonho? Minha resposta foi rápida porque eu queria que alguém soubesse e me ajudasse.
- Sim, então ela fala:
- Conte-me, então.
Comecei a falar e ao mesmo tempo a viver.
- Sonhei que estava em um grande jardim e ali havia inúmeras flores diferentes que nunca tinha visto antes. Algumas exóticas, comuns, sem brilho e perfume, outras com faces violentas, pacíficas, bêbadas, outras com semblantes de prostitutas, com expressão de drogados. Cada passo que eu dava era uma expressão diferente que meus olhos se deparavam. Em todo o jardim não vi flores que me chamassem a atenção, mas de repente vi duas flores iguais que não se separavam, as duas eram lindas e cheias de vida, pois elas se achegaram a mim tornando-se amigas inseparáveis.
Andavam comigo o tempo todo, sem separar!
Certa noite observei que uma delas era mais chegada do que a outra. O olhar dela era tão diferente que me atraia e fazia com que eu olhasse também. Surgiu um sentimento que não era meu, pois nesta mesma noite nos tocamos de uma forma espetacular.
Ao passar dos dias fui vendo como a linda flor se interessava por mim e eu por ela, nossas trocas de olhares era somente quando a outra flor não estava por perto, ou quando estávamos sozinhos. Contudo havia uma enorme dor no meu coração, porque não queria trair a singela flor e não queria violar os preceitos do Grande Criador. Passei a sofrer por aquele sentimento e que me fazia ficar mais próximo dessas flores.
Numa certa manha sai andando pelas estradas do jardim e a flor que eu a amava mais veio correndo atrás de mim e me disse:
- Aonde vais? Por que partiria sem mim, ou até mesmo sem me falar?
Olhei dentro dos olhos desta flor e disse:
- Preciso ir. Nada posso fazer neste jardim. Cada dia que se passa meu amor aumenta por você, com lagrimas caminhei.
A linda flor me disse:
- Não vá, porque assim eu morreria sem sua presença...
Sai, não olhando para traz. Veio um forte vento que lançou uma das pétalas da flor em minha roupa. Quando deparei e peguei a pétala vi um lindo olho olhando para mim. Olhei para trás e lá estava a linda flor me olhando...
Nunca mais eu esqueci deste olhar, todos os dias me vêem a memória... Termino de contar o meu sonho e de repente abro meus olhos naquele lindo ambiente e vejo os olhos daquela pessoa que tinha uma suave voz, levo um grande susto porque eram os mesmos olhares daquela linda flor. Meu coração saltava pela boca e pouco se ouvia as explicações daquela profissional.
Valmir Silva