Romance de Cordel
Ela.
Desde que me disseste que não nos podíamos ver mais, eu tenho contado os dias…
Disseste que o nosso amor era uma tolice.
Tu, um homem casado recentemente. Eu, uma jovem apaixonada.
Disseste que seria melhor para os dois, que eu tinha a vida inteira para te esquecer e perceber que o nosso amor era um erro. Disseste que deveríamos fazer tudo para nunca mais nos vermos.
Pois bem, menti-te quando aceitei a tua decisão.
Desde esse dia tenho feito tudo para vencer, para ser melhor. Fiz de tudo para que tu nunca mais tivesses razão e pudéssemos, finalmente, estar juntos.
Todo o meu sucesso foi na perseguição deste objectivo, de ser melhor em tudo e que tu nunca mais me expulsasses da tua vida.
Sou uma mulher com alguma fama, quase rica e os meus atributos femininos dão-me um poder que eu nunca imaginei estarem ao alcance de uma mulher nascida em Benguela.
10 anos… 4 meses… 14 dias à procura da tua cara no público que me aplaudia, nas multidões que me esperavam nos aeroportos de todas as cidades que visitei. Todos esses dias a amar-te profundamente, secretamente, sabendo que cada esforço, cada sucesso era um atalho para o nosso reencontro.
10 anos… 4 meses… 14 dias depois, tu conseguiste partir-me o coração.
Em todos os homens que conheci, nunca nenhum competiu contigo.
10 anos… 4 meses… 14 dias encontro-me contigo por acaso, num parque da nossa cidade e tu, finalmente tu, acenas como se eu fosse somente uma amiga de longa data, um sorriso amigável… nada mais.
Hoje, 10 anos… 4 meses… 14 dias senti que te perdi. Tu esqueceste tudo. Esqueceste o meu beijo, o meu calor, o meu amor. Hoje és mais inatingível do que nunca; hoje não tenho nada que tu queiras.
O tempo foi generoso contigo e a vida deu-te uma família que te faz brilhar os olhos. Vi um sorriso na tua face que nunca… tinha visto antes.
Adeus, meu amor, adeus.
Ele.
Desde aquele dia que te disse que nunca mais nos poderíamos ver que conto os dias, os minutos.
Como poderia prender-te a mim, sabendo que não podia dar-te nada do que tu merecias?
Tu eras uma menina que meteu na cabeça que amava… como se pudesses saber o que é isso de amor…
Viver um amor clandestino em Benguela… Esse disparate tinha de parar.
Foi melhor assim. Tu seguiste a tua vida, ganhaste fama e dinheiro, realizaste os teus sonhos.
Segui todos os teus passos, recortei todas as notícias sobre ti, acompanhei a tua ascensão e percebi que já não precisavas de mim. Tinhas um objectivo claro e eu, simplesmente eu, não podia competir com aqueles desconhecidos todos, com dinheiro e tempo para ti.
Durante 10 anos… 4 meses… 14 dias vivi feliz por ti, até hoje, no parque da nossa cidade, quando vi nos teus olhos uma mágoa que não conhecia, uma distância impossível de alcançar. Hoje, 10 anos… 4 meses… 14 dias partiste-me o coração.
Adeus, meu amor, adeus.