E ela foi embora
E você acabou indo embora mesmo.
Sério, ainda não entendi porquê.
Nunca consegui te dar muito, não é?
Eu dava duro fazendo lá as entregas. A grana andava sempre curta, e vivia no pendura na mercearia do seu João. Mas nunca deixei faltar o feijão.
E olha para essa casa, mais um empurrãozinho e já vai para o chão.
É... A gente vivia meio no sufoco.
Parece mentira, mas eu ainda te vejo aqui do meu lado. Você ficava aí me olhando assim, sempre triste. Nem lembro qual foi a última vez que te vi sorrindo.
Tá certo que naquele dia a gente discutiu feio. Mas é que eu tava com a lata cheia, depois do timão perder de 3 a zero.
Mesmo assim eu achava que a gente se entendia. Pensei que estava tudo bem entre a gente.
Puxa vida, se estava ruim a gente podia conversar.
Fique sabendo que uma coisa nunca mudou, a promessa que eu te fiz no altar, de te respeitar e de te amar para sempre.
Eu achava que isso era suficiente.
Mas não era, não é?
Foi embora assim, levando nosso filho. Nem me deu tempo de me acostumar com a idéia de ser pai.
Você poderia ter me deixado ele, pelo menos.
Nem me importo se nosso filho iria nascer com um probleminha. Quem no mundo é perfeito afinal?
Com um pouco de paciência a gente dava um jeito. A gente sempre deu, não é?
É, mas a vida não é tão simples assim.
Nem tive chance de me despedir. Quando eu cheguei já era tarde.
O doutor disse que você já tinha perdido muito sangue quando chegou ao hospital. E apesar do parto de emergência, nosso filho nasceu morto.
E pensar que a gente já tinha combinado ir visitar sua mãe em Pernambuco, mês que vem. Nós três juntos.
Vou ter que mudar os planos.
Espera um pouco aí, seja lá onde você estiver.
Já estou indo.
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fevereiro 2010