TRISTE SEPULTAMENTO MEU

Maximiliano fitava com prazer aquela imagem dominical; uma jovem passeando em companhia da pequena distração felpuda, uma ariranha lustrosa com seu pelo marrom escuro, como causava alegria perceber que o animal se fazia rebelde tentando inutilmente fugir do cárcere das mãos daquela travessa garotinha que fingia querer enfim deixá-la escapar quando imperiosamente a prendia novamente com efeito, somente para satisfazer sua alegria pueril acreditando até que a criaturinha também se divertia em meio aquele suplício. Era uma tarde iluminada e todos aproveitaram o dia para um passeio, Maximiliano sua irmã Claudia e seu pai Maximandro, Vieram andando já que o casarão disforme naquela pequena vila, devido à seu tamanho, ficava nas imediações do parque que apesar de simples era belíssimo com suas cerejeiras e carvalhos. Sentados na fresca grama os irmãos se divertiam observando criticamente quem passava, eram dois meticulosos "a/de/preciadores de passantes", como se auto definiam perante o pai indiferente aquela atividade banal, terminou que entediado o Sr. de cabelos escuros, com sua ressaltada mexa grisalha, já enfadado com aquele rir de forma injustificada e para ele sem propósito os ditou que parassem com aquele mau gosto que demonstravam para comentários, e que os transeuntes merecem tanto respeito quanto eles. Cessados os risos o irmãos deram de ombros como se concordassem apesar de lamentar um pouco o fato de ter de parar com tão divertida distração. Max, como era chamado com aquela forma resoluta de tratar da pequena, lembrara da jovem com seu brinquedo buliçoso, era mesmo uma bela infante, se vestia de forma simples, digna à sua pobreza, tinha no entanto um aspecto saudável, diferente dos que por ali habitavam. O povoado era um lugar simplório nos arredores de São Demontiê na ignomínia Espanha, fora habitado em tempos remotos por povos pagãos dissidentes dos ataques cristãos compondo uma massa heterogênea de poucos judeus, exilados nórdicos e nativos de outras regiões recém colonizadas. Recentemente, há alguns anos, fora um lugar próspero, agora era transtornado com a sutil decadência, ninguém mais tinha o interesse em naquele lugar pueril, as pessoas nem tinham consciência da própria situação, era um estado de paupérrima, anêmica morosidade em seus ritmos cotidianos, em todos se via os rostos amarelecidos pelo destino insalubre, tinham o aspecto de fantasmas sem a menor noção da própria desventura, era um povo de gentileza rude mas sempre sincera, seus modos eram desprovidos das convenções tão em voga por aqueles tempos e a naturalidade com que seus atos por mais absurdos que fossem aos visitantes, fluíam de seus ritos, era algo que poderia ser dito como que a figuração de uma dimensão social paralela ao real e seco mundo das segundas intenções e das ideologias engavetadas, sempre dispostas no melhor momento para enobrecer embustidamente os mais dissimulados e vis propósitos. Assim sem notar que seus pensamentos eram tão distantes da reflexão de quem perscruta essa realidade, Maximandro recorda os instantes de pueril infantilidade daquela inocente, assim como ele, só que em seu próprio círculo ignóbil, diferente sim mas análogo ao seu. Aquela tarde durou poucas horas e como a família tinha em mente, retornou logo ao casarão que esperava silencioso como se ainda não estivesse habitado, era mesmo difícil romper o silêncio mórbido daquelas paredes, eram somente duas crianças reprimidas e um adulto cerimonioso demais para tal tarefa, os irmãos riam espontaneamente quando estavam a sós, já ao lado daquela figura rispidamente seca tinham que se manter com uma seriedade que ninguém, inclusive eles podiam possuir. Entram, primeiro eles que sempre seguiam à frente, como nas batalhas, se justifica por serem mais jovens, afoitos, ou como se diz por aí dispostos ao que vier. Andavam com a graciosidade que lhes era própria , sempre distraídos somente enxergando o que lhes dava ventura. Após subirem as escadas, já bastante distates das vistas do general, competem com sua agilidade pelo corredor almejando alcançar cada um seus quartos empareados dispostos como As crianças.

Quando jovem Maximandro fora muito amigo de Giullia; tia das crianças e irmã de Clarice. Com sua amabilidade dócil ele sempre fora devotado em suas amizades mas essa era especial e ele lhe depositava o mais alto empenho, não era segredo que ele amava Giullia e ela também o correspondia, porém o romance nunca teve um real desenlace, Giullia não queria separar-se da sua pequena irmã para desposar o companheiro, a amava demais para abnegar-se dos cuidados da pequena. Ambos sofriam com essa situação, o jovem apaixonado insistia comoventemente em convence-la á casar-se com ela, mas ela certamente reservava intenções de prolongar sua desventura até consumar por inteiro a tristeza, era irredutível quanto a sua decisão. A pequena sempre foi a jóia mais rara da família; surgira como uma luz dourada em meio á um punhado de cinzas opacas, desde cedo sua presença iluminara aquela família, pequena.

jonnez
Enviado por jonnez em 23/02/2010
Reeditado em 17/06/2010
Código do texto: T2102791
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