Ele Lia-lhe Poesia…
Tinham-se encontrado por mero acaso e tinham gostado um do outro, ele de imediato, pois nestas coisas o Amor não possui regras, ela com o tempo… gostaram, apaixonaram-se de uma forma intensa de tal forma que dentro de pouco tempo estavam a viver juntos…
Ele era um solitário geneticamente, e pouco dado a grandes conversas na maior parte do tempo, era muito metido para si, para os seus mundos vastos, que tentava explorar sem nunca chegar a um conclusão que não fosse aquela acumulada em inúmeros livros, feitos nas noites de solidão e que editora alguma iria publicar por serem isso, demasiado pessoais e de por isso perderem a objectividade ou a química que faria as pessoas os querem ler, pagarem para os ler…
Nunca tivera aquilo que se possa chamar um relacionamento amoroso sério, pois era de tal forma transparente, não possuindo zonas misteriosas, que essa espécie de luz afastava as possíveis candidatas por desconfiarem que ele encerrava vastos mistérios, que ninguém poderia ser assim como ele, sem nada, nada a esconder…
Claro que tivera as suas aventuras até ela chegar…
Algumas vezes por ano perdia-se nas noites, imbuído nas drogas legais ou um pouco menos legais, que o soltavam, o tornavam sociável e até sedutor, ao ponto de ser uma boa companhia por uma noite, ou algumas, mas nunca mais do que isso, pois o tempo fazia com que elas se afastassem…
Ela…era como qualquer mulher da idade dela, tivera os seus namoros, as suas desilusões, as suas mágoas, as suas tristezas, pensando até em casar, vivendo algum tempo com alguns namorados, mas como vivia e sentia duma forma invulgar, era uma eterna insatisfeita, com a vida, com tudo, desistindo das relações afectivas, e tinha até desistido por fim de amar até que o encontrou…
Fora se calhar a primeira pessoa que tinha visto nele o que mais ninguém vira, que percebera que o que ele mostrava era quase nada, que tivera interesse em o conhecer, e quando encetou esse processo deu consigo apaixonada e a acreditar de novo que o Amor não era uma quimera, era de facto possível…
Será um exagero dizer que eram almas gémeas…: poucos interesses os aproximavam, a não ser uma ou outra música, um ou outro filme, um ou outro livro, e uma espécie de forma de estar que mais ninguém parecia perceber…
Trabalhavam em áreas completamente distintas, apesar de se amarem, não trocavam mensagens por telemóvel, e muito menos se telefonavam…
Tinham era a mesma hora de chegar a casa, onde falavam pouco, até à altura depois do jantar, onde a sua união adquiria lógica, adquiria o sentido de estarem juntos.
Ele sempre que podia, quando saia do emprego passava por bibliotecas ou livrarias, escolhendo poemas, ou então, quando a inspiração o movia, no pouco tempo que tinha livre escrevia poesia a ela dedicada.
E era assim, que antes dos afectos secretos que uma sociedade mediática possuía o hábito de explorar, mas que para eles seriam sempre secretos, ficariam sempre entre eles, ele, não ligava a televisão, não ligava o computador, desligava os telemóveis, e antes do amor físico acontecer, fazia a coisa que ela mais apreciava nele:
Ele lia-lhe Poesia…