CARREGUEI UM '' MORTO '' no meu carro

Sexta, sabado e domingo, nao vi dona Eulalia, minha visinha querida, mora no meu lado direito, da casa e do coracao, mulher boa que so' vendo, um amor, tenho um do' dela!!!, ano passado ficou viuva, seu Pedro foi embora sem dizer um ai, alias, disse sim, um minuto antes tinha dito:- nao vou vender esta casa porcaria nenhuma, se a Zelia e o Pedrinho querem dinheiro para construir a deles, que economizem como eu economizei e ja' comecou a passar mal, mais nao disse e cabumm, caiu duro, coitado!, quando escutei os gritos da dona Eulalia , corri la,' mas era tarde.

Seo Pedro , acho, quem sou eu para afirmar, esta' falando com Deus e os anjos, contando que a Zelia, a filha e o Pedrinho, o filho, viviam atormentando o pai, a mae nao, mas, coitada, por tabela ela tambem ficava atormentada,"""" para vender esta casa, e' muito grande, vale um dinheirao, voce vende , construimos duas menores e no fundo de uma delas uma pequena para voces e ""..seu Pedro um dia, escutei, gritou tal alto, coitado, que os dois '' interesseiros'' sumiram meses de la', ele e dona Eulalia sentiam, eram filhos e tinham os netos...seo Pedro e ela iam 'as vezes em frente ao Sesi ver os netinhos sairem, que as duas biscas , a filha e o filho, combinados acho que estavam, nao deixavam os avos verem os netos, que judiacao nao?

E nenhum visinho sabia onde ela estava, a Luzia, a mulher do Manoel do bar da esquina, onde vou sempre comprar meu vinhozinho chapinha, tambem tinha reparado e falou para mim:- vamos la' bater, ver se esta' tudo bem..fomos, batemos, na frente nos fundos, nem a cachorrinha latiu, estranho, ficamos cheirando, cheirando forte, fundo , para ver se nao tinha cheiro de morto, de carne podre e ainda a Luzia, sarrista falando:- nao tem nao, se tivesse ja' tinha urubus rondando...e eu ria, gargalhei, e quando consegui dizer ela tambem ria 'as bandeiras despregadas, ou seria", desfraldadas?, riamos, eu e ela, por que eu tinha dito:--e que somos nos'?, parecemos urubus rondando a carnica.

A Luzia e' metida, como eu, eu sou tambem e ainda mais nestes casos, e ela ligou para a Zelia e Zelia, a filha '' marvada'' disse que a mae tinha ido visitar uns parentes no interior e educada que so' vendo ainda teve tempo de dizer...cuidem de suas vidas xeretas e desligou na cara, na cara nao, nas orelhas da Luzia, coitada , da Luzia, quis ajudar e tomou e sobrou pra mim:- viu, voce mandou eu ligar e ela gritou comigo, porque nao ligou voce mesmo, baixei a cabeca nao disse nada, mas por dentro eu ria, coitada de mim, tambem.

Segunda cedo escutei barulho e ja' fui trepando no muro e chamando :- dona Eulalia, dona Eulalia, ela veio, conversamos e ela me convidou para tomar o cafe que tinha acabado de coar, e olha gente que cafe' gostoso que ela faz, ainda naqueles coadores de pano, compridos, tem um suporte de madeira, velho, era pintado de verde, agora parece azul sujo, o bule? um todo amassado, velho, mas que cafe'!!! ate' sequilhos tinha, mantecau tambem, comi tudo e ficamos na prosa.

E me contou o que tinha ido fazer, que eu nao aguentava mais de curiosidade:- sabe Amelia? meu avo, o meu avozinho, e comecou a chorar, tadinha, gostava do avozinho dela e eu sem conhecer e nem gostar chorava junto tambem, sou chorona!!!..e ele queria muito ser enterrado em um lugar, mas como morreu no asilo e quem cuidava era a minha sobrinha Nadir, e o marido dela, aquele burro sem coracao, se fosse cavalo ainda vai, nao, e' burro e sem arreio e nao quis nem saber, enterrou em outro lugar mesmo e eu a Nadir e outros filhos e netos agora resolvemos, vamos tirar ele de la' e levar para o lugar que ele queria, ao lado da minha avo', fui la' para isto, mas fica muito caro, quem tem tanto dinheiro assim?

E a prosa proseguiu e eu me ofereci:- dona Eulalia eu levo ele para senhora, de um lugar para o outro e

E quando vi a cara dela, parei, tinha os dois olhos arregalados e parado de chorar e me olhava de um jeito, como se eu fosse a toda poderosa mulher maravilha

Leva mesmo Amelia?, vai ficar caro e nos

Nao tem nos e nem no'. se tiver no' desatamos e ela aceitou. Meu carro era um fusca azul calcinha, ano 1979, puf..puf..batendo biela, assim me dizia o Uilson, o mecanico, lindo,''' Amelia, (ui quando ele falava meu nome eu arrepiava) Amelia nao pegue estrada, nao va' longe, o '' zur'' nao guenta"".Guentou!!

A Margo, a Margarete ficou na loja para mim, e numa quarta 'as cinco da manha, oia nois na estrada, eu, Eulalia, e o fuscao ''zur'' calcinha, eu sou media, falsa magra, Eulalia e' gorda, o fusca '' zur'' pendia do lado direito e ia..puf puf, soltando fumaca pelo rabo do escapamento, chegamos la', primeira parada, casa da Nadir, o burro dormindo, seguimos..eu, Eulalia e agora Nadir, atras, gorda tambem , o fusca '' zur' agora pendia do lado direito e para tras, quase levantando o capo, e fomos no cemiterio, o rapaz nos levou no tumulo, ja' estava aberto e o '' vovozinho'' dentro de um saco de cimento, coitadinho, seguimos, deixamos Nadir de volta na casa dela, o burro acordado, dei uma espiada de canto de olho e vi, '' que burro!! burro bao pro meu pasto, pensei, mas nao parei, seguimos..

Casa do neto Nico, o Nicanor, foi com a gente ao novo cemiterio, queria ver enterrar o vovozinho, e eu de olho no Nico, que Nico, caipirao mas dos baos, maozona mesmo, manoplona de fazer gosto, , tirando o vovozinho do saco e colocando em uma caixa, mais arrumada, limpa, dona Eulalia tinha comprado so' para isto e eles dois, sem luva mesmo colocando os restos mortais do vovozinho na caixa e o coveiro colocando terra por cima, adeus vovozinho , fica em paz agora com sua '' veiinha linda, lindo os dois'' e seguimos para a lugar que ia fazer uma daquelas fotos de colocar em tumulo.

Deixei que eles conversassem com o homem da foto e fiquei no carro, e fui xeretando um album de fotos de familia e vi vovozinho e vovozinha de maos dadas , e tinha uma deles trabalhando na roca, no campo, carpindo, capinando mato com sol alto e pensei:-

Eta vida, tanto trabalho para acabar assim mas logo melhorei e pensei, "" vida boa isto sim, viveu, valeu"", fiquei com uma do' deles, do vovo e da vovo', ate' chorei, acreditam? pensava no meu dia, quem vai carregar esta '' MORTA '' aqui?, no caso a morta e o aqui sou EU..e pergunto QUEM? QUEM?

Eu carreguei um morto no meu carro, pela primeira vez na minha vida estive bem perto dos mortos, fiz com gosto e pensar que tinha dito para dona Eulalia," faco, faco tudo so' nao quero olhar e nem tocar no morto ", ela , coitada, boa que e', ria, eu nao, tinha medo e nojo , agora nao tenho mais, tenho AMOR.

E sabe que sempre que me deito na minha cama, solitaria, so' e abandonada, fico lembrando deste caso e do '' Burro'?e do '' Nico ""?..me da' uma coisa, quase que convido dona Eulalia para ir por la', na casa dos parentes dela, tomar um, um,

CAFE'?....prefiro uma boa dose de chapinha, disse eu para o Burro e para o Nico quando '' vortei'' por la' estes dias, finados, dona Eulalia e Nadir, tinham ido ao cemiterio com a mulher do Nico, eu nao fui, fiquei fazendo sala, sala nao, quarto pro dois, o Burro, e que Burro!! e o Nico, que Nico!!!, poem Burro e Nico nisto gente.

E' bao, foi bao!!!!

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 20/02/2010
Código do texto: T2097430
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