Três Ateus Numa Igreja

TRÊS ATEUS NUMA IGREJA

Pedro era totalmente descrente de religiões, de alma ou de qualquer outra coisa que estivessa voltada para urna vida após a morte. O que ele não podia explicar pela psicologia, tentava pela parapsicologia,e, quando isso não era satisfatório, dizia que provavelmente no futuro a resposta seria dada por alguma ciência.

Marcos, professor de nivel superior, sofrido, revoltado com toda a humanidade e cheio de dúvidas quanto ao que aconteceria após a morte, preferia crer no hoje. Seu escrúpulo no ia muito longe: para ganhar um pouco mais, fosse dinheiro ou vantagens, ele no fazia cerimônia, topava qualquer negócio. Se aprovar determinado aluno rico nos exames finais ia valer um carro zero, ele no discutia, aproveitava a situação entre a dignidade de professor e o carro, ele ficava com o carro.

Vânia moça atraente, alta para a média das brasileiras ,educada em colég1o de freiras, dentro de urna disciplina talvez excessÍva para seu temperarnento, tendo como pais dois seres egoístas que aproveitavam a vida negando o amor que só eles poderiam dar a ela .Muitas vezes passavam meses sem vê-la, apesar das advertências da madre superiora do colégio, que tentava mostrar o perigo de tal procedimento na formação da filha. O pai viajava, na maioria das vezes a negócios, e a mãe o acompanhava, deixando ao colégioi a guarda e educação da menina. Os pais de Vânia não compreenderam que, após o nascimento dela, a vida mudara, e que a menina fazia parte integrante da família, não era um objeto que usariam quando melhor lhes aprouvesse. Muitas viagens poderiam ser evitadas, ou a mãe de Vânia poderia ter ficado com a filha O pai em várias oportunidades poderia não viajar mais, mas isso representaria menores ganhos e na realidade eles tentavam viver num luxo excessivo. Seis meses aqui, seis meses acolá, status tudo pago e a velha desculpa de que, assim que Vânia terminasse os estudos básicos, eles a levariam nessas viagens.

Pedro fracassa com sua ciência , a psicologia não pode resolver, principalmente. seus problemas emocionais. Individualista, excessivamente personalista, só pensava em si. Fracassa nas tentativas amorosas, porque tenta sempre adaptar as pessoas a ele, e, infelizmente, ele não era nenhum modelo ideal para ninguém copiar. Orgulhoso, cheio de si, dono da verdade, até a religião ele adapta ao seu modo e acabou por não crer em mais nada, pois o seu deus era tão inconsistente como ele.

Com o tempo ficou sozinho, sem amigos e um dia desesperado, entra numa igreja, como um cão vadio, em busca de abrigo.

Marcos, ambicioso, cujo objetivo mais importante era o dinheiro, mete-se num caso amoroso com uma aluna rica da faculdade em que lecionava. Pensa tirar vantagens, sem talvez precisar casar, entretanto, a moça engravida e ele não tendo opção completa o golpe do baú e casa-se.Sua situação financeira melhora de noite para o dia. Continua, porém, o mesmo, com aventuras amorosas, mil trapalhadas que chocam a esposa e a famíla dela. Ele ama o filho e com o tempo passa a adorar a esposa, que nesta época estava bastante doente do coração, graças ao comportamento de Marcos.A esposa de Marcos vem a falecer, e ele fica desesperado. Ela o mudara e ele a perdera. Para alguns, ele a “assassinara”. Após a missa de 7º Dia todos se retiram, e ele permanece na igreja sem saber o que fazer, ninguém parece perdoá-lo, e ele fica ali por mais de meia hora, sozinho.

Os pais de Vânia, quando decidem parar de viajar, Vânia ja é adulta, estando com 19 anos, época em que esta terminando o seu curso de Belas Artes, ainda em regime residencial em uma Uníversidade. Nesta época ela tem a esperança de conviver com eles e ter finalmente uma casa. Vânia é imatura para sua idade, a infância no existiu. Na última viagem dos pais, acontece uma fatalidade, o avião em que eles viajavam se despedaça a os pais de Vânia morrem. A moça vê a impossibilidade de receber aquilo que nunca tivera, o amor de seus pais e um lar.

Casa-se, super carente de amor e segurança, com um rapaz de 24 anos, de olho no dinheiro dela, e o casamento dura 3 anos. Ela, como desquitada, numa sociedade cheia de tabus e preconceitos, vê-se perdida entre falsos amores e um dia decide terminar com a vida, mas lembra-se do Deus que lhe foi ensinado, e vai a urna igreja.

Pedro, ao entrar na igreja, onde se encontra Marcos sentado num banco do lado esquerdo de um pequeno altar lateral e senta-se atrás dele. Segundos depois entra Vânia e senta-se no banco atrás de Pedro. Neste altar lateral as velas de dois castiçais estão acesas e aproxima-se um padre de cabelo relativamente longo, barba cerrada e dando as costas para o altar vira-se para eles e diz:

“Bem vindos os filhos do Senhor”. Durante a missa, uma sensação de bem estar envolve os três, únicas pessoas ali presentes. Durante a palavra, o padre com uma voz firme, calma e cheia de amor lê para eles a parabo1a do Filho Pr6digo. Após a leitura da parábo1a o padre diz : “ O Pai nos permite sofrimentos para nos despertar e assim reencontrarmos o caminho Dele. Quando lhes parecer que o Pai fechou a porta porque ira abrir uma janela.Aquilo que nos parece o pior é sempre o melhor quando vêm das mãos do Pai...”

Realrnente era impressionante as palavras proferidas pelo padre, eram tão diretas, que os três tinham a impressão que o religioso sabia dos seus problemas.

Sentiam-se confortados e novos em folha. Após a missa, o padre retira-se do altar em direção a sacristia. Quase que simultaneamente, Vânia, Pedro e Marcos levantam-se e dirigem-se a sacristia a fim de agradecer ao padre aquelas palavras que lhes haviam devolvido a vida.

Ao chegarem sacristia, não vendo o padre, dirigem-se ao pároco e perguntam pelo religioso que acabara da rezar aquele missa. Com espanto, o pároco mostras-se confuso e pede que o descrevam. Assim.Pedro descreve o padre e o pároco diz que em primeiro lugar não havia nenhuma missa naquela horário e a descrição não correspondia a nenhum padre daquela igreja.. Nisso, Pedro olha para a parede, apontando um quadro diz: - É aquele ali! Realmente Pedro tinha razão, o rosto era a mesmo. Responde o pároco:

“Mas, filho aquele é Jesus Cristo !”

(Registrado na Embrafilme sob o n 0495)