Memórias de uma Ciumenta
Memorias de uma ciumenta
O que será pior, um relacionamento escondido com uma pessoa que vemos quase todos os dias ou um namoro aberto com o cara mais popular do mundo? O homem com quem eu saio tem um pouco dos dois, queria muito dizer que era um namoro aberto com um cara que vejo quase todos os dias, mas como nada na vida é simples, tive que ficar com o escondido com o cara popular mesmo.
A principio o “escondido” eram por questões de privacidade e até mesmo um pouco de ética, afinal quando se lida com uma pessoa conhecida, é inevitável que o novo namoro va sair na primeira pagina do jornal de fofocas, e para mim, a dama, e algo que vai ser lembrado por toda a eternidade, senão com a pergunta “você não estava com o fulano??? Pq eu vi você com Cicrano ontem....” e até explicar que isso foi há anos atrás o desanimo já esgota a resposta, será como a troca de identidade, afinal seu nome será “a ex dele”.
Mesmo assim o “escondido” ainda é legal, pelo menos no começo, quando os olhares tem que dizer tudo, o MSN – mesmo se ele estiver sentado do seu lado – salva a vida e mesmo aquele friozinho na barriga quando sem querer você esbarra nele, ou senta ao seu lado – acidentalmente, é claro – no bar ou no restaurante com os amigos. Acho que o que atrai é toda a fantasia Holliwoodiana de Romeu e Julieta, que subconcientemente nos faz acreditar que ele é o príncipe encantado. Isso para falar do lado encantado, porque se formos falar de química e da febre que invade os corpos quando estamos juntos, terei que restringir a faixa etária do publico.
Apesar do ficar longe em publico deixar saudade e tornar o reencontro sozinho ainda melhor, fica ruim de conseguir administrar a vontade... a vontade de apertar a tecla “F” e dar AQUELE beijo. Mas como ficou acordado – nas entrelinhas – que o melhor era deixar entre a gente pelo menos por enquanto, tudo bem... vamos agüentando, e para agüentar bem sabendo que ele – um homem solteiro e livre para todos os efeitos - estará numa viagem cheia de outras mulheres, com muita balada e muita dança, só ocupando a mente com outras coisas.
O ditado diz “mente vazia é a oficina do diabo” o que faltou dizer é que cabeça cheia também não é sinônimo de tranqüilidade.
Mas eu, desavisada disso, fui ocupar a minha cabeça na balada, a minha balada preferida, que por uma incrível coincidência era também a dele, afinal todos os meus amigos – e os dele – estariam la. Pensei que iria ser uma ótima oportunidade para mim mesma que eu não precisava da presença dele para poder curtir, e para ver quanta saudade eu sentiria num tipo de analise de como exatamente eu me sentia sobre o talvez futuro namorado. Naturalmente que isso estava tudo preso no pscicologico, porque para todos fins e efeitos, eu so queria dançar mesmo.
Desnecessário dizer que foi entrar la e ver o balcão que já lembrei automaticamente da caipirinha que tomamos juntos naquele mesmo banco, e com aquele beijo quase roubado que rendeu muitas recordações, mas passei reto e fui para a pista dançar. Fui até bem sucedida na missão de não pensar – muito – nele, ate eu encontrar algumas das meninas que estavam na outra balada, amigas dele, e que me foram apresentadas. Por mais que fosse uma ótima estratégia curtir a balada de boa com as amigas dele, não podia ser considerado normal, a memória dele me assombrava a cada palavra que eu trocava, afinal, a memória dele me apresentando a elas com a mão na minha cintura na quarta feira passada também era muito forte. Na minha cabeça de Cinderella, a nova informação veio como se ele dissesse “tudo bem se elas pensarem que temos um caso!”, isso era o que eu queria acreditar, mas a verdade é que seria estranho se ele não me abraçasse.
Na ocasião, até dançamos juntos algumas musicas, mas ficamos longe a maior parte do tempo, como o de costume, e em apenas dois momentos algum observador mais atento podia notar a mão dele com os dedos entrelaçados aos meus perto do bar ou um beijo de um segundo perto das mesas. Se fosse alguém muito atento, podia notar alguns olhares perdidos – enciumados – quando percebíamos a nossa cara metade a dançar com outra mulher. Em alguns momentos admito que tinha preferido não olhar quando a “talzinha” dançando com ele tinha um short curto demais ou quando deixava escapar a mão um pouco abaixo da linha da cintura, chegando no passante da calça, ou pior ainda, quando acabava a musica e mesmo após o tradicional beijo no rosto e abraço para agradecer a dança, ela cismava em segui-lo ou em continuar abraçada por mais um segundo.
Nós mulheres sabemos que aquele segundo a mais que passamos abraçando um homem, não é só agradecimento... e é quase comprovado que eles sabem disso...
Hoje era diferente, por mais que ele ficasse pairando na minha mente, eu não estava procurando por ele – nem por um substituto, e estava mais do que contente em aproveitar a noite na companhia de pessoas que eu gosto, dançando, batendo papo no bar, rindo, bebendo uma cerveja – ou qualquer outra coisa que não fosse uma caipirinha. Mas a tal bebida que eu evitava para não lembrar dele, me perseguiu e logo estava com um copo de um amigo na mão, com as mesmas meninas da outra balada, com o mesmo estilo de musica e no mesmo banco que uma vez estivera com ele. A saudade era inevitável.
Nós estávamos ficando fazia um mês e pouco, e apesar de toda a discórdia com a minha família, dele as vezes não agir como eu esperava, dele morar longe e de não ser como o príncipe encantado que eu tinha imaginado desde menina, não posso negar que estava me apaixonando. Vejo isso claramente quando só lembro das qualidades dele, e que sem querer me deixam escapar os defeitos, ou quando a memória dele – pairando como sempre no pensamento, como um aplicativo minimizado no computador – voltavam a ativa quando ouvia uma musica romântica. Me lembro claramente de caçar assunto para falar com ele so como desculpa para ouvir sua voz, e quantas vezes não me senti boba por isso me arrependendo logo que desligava.
Não! Não sou uma adolescente! Sou uma adulta completamente capaz de lidar com essa carência incontrolável!
Não queria dar muito na cara que estava em outra dimensão ou perdida nos meus pensamentos, mas é visível que estava aérea, quando uma pergunta me vez voltar a realidade, ou melhor, cair no chão duro e frio da balada como um saco de batatas:
- Você está namorando com o Pedrinho?
Fiquei pasma. Não sabia como reagir, e demorei um quarto de segundo para entender o ar de questionamento e os olhos castanhos claros daquela loira aguada me encarando ávidos por uma resposta. Como o meu relacionamento com ele era de algum interesse para ela a não ser que ela tivesse interesse por ele? Como aquela pergunta simples saiu mais com um tom de cobrança do que de pergunta?
Desejei mais do que nunca te-lo ao meu lado para que eu pudesse olhar naqueles lindos olhos castanhos e perguntar a ele o que dizer numa hora dessas, esperançosa que ele dissesse um mero “sim”, sem dar mais atenção àquela abelhuda. Mas ele não estava, e tive que lidar sozinha, e ao procurar o rosto dele sabendo que não encontraria, olhei para o vazio do copo de caipirinha sentindo os olhos dela me fuzilando enquanto pensava numa resposta. Devo ter demorado cerca de três segundos para responder, e nesse tempo aquela pergunta ecoava na minha cabeça centenas de vezes, pensando em cada palavra, em cada possível interesse que ela poderia ter na vida dele, no jeito que foi falado e em todos os significados que aquilo pudesse ter e nas conseqüências que a minha resposta poderia desencadear. O meu tempo tinha acabado e eu precisava responder ou falar alguma coisa antes que ela pensasse que eu era insegura ou que tinha alguma coisa a esconder. Eu tinha que falar. Eu tinha que pensar numa resposta que transpirasse autoconfiança para ela sentir que ele estava comigo, e por mais que ela usasse aquela saia mega curta – parecida com a minha – ele nunca iria olhar para ela enquanto tivesse comigo.
Por mais que eu quisesse falar “estamos sim! Então pode tirar os olhos dele, pois ele já tem dona”, não podia mentir, se depois ele viesse a desmentir a mentira isso iria acabar comigo. Não podia mentir. Não podia pensar ela pensar que ele estava disponível. Analizei quem poderia ter ouvido a pergunta, mas ninguém mais estava esperando uma resposta.
- Namorando? Não exatamente...
Foi o melhor que pude pensar. Isso foi dito com certa firmeza, em alto e bom som – meio tumultuado em meio a musica alta do ambiente – mas um pouco tremido no final. Não porque o olhar dela estivesse me afetando, mas porque senti a flecha do ciúmes me atingindo no coração e me fazendo sangrar. Contrai todos os músculos do corpo me fazendo apertar ainda mais o copo vazio na minha mão. Fingi tomar mais um gole para ganhar tempo ao ver que ela ainda esperava uma resposta mas ela foi mais rápida.
- Ficando pelo menos?
A insistência dela fez a flecha ainda mais funda, e percebi que o interesse dela por ele era obvio demais para ser ignorado. Tinha que ser mais firme para que ela entendesse o recado, eu sou uma mulher e tenho que saber lidar com esse tipo de situação se quero ter um homem bom ao meu lado. Sempre há concorrência, so que nesse caso, estava quase declarando guerra. O jeito inquisitivo dela permaneceu, e eu estremeci de raiva, primeiro por estar quebrando o nosso pacto de silêncio, e ainda mais por pensar se ele tinha dado algum motivo a ela pra que ela pudesse pensar que tinha uma chanse com ele. Pensei no que ele estaria fazendo agora, decidi que ele estaria a dançar com uma menina ainda mais bonita do que a adversária que eu enfrentava agora, definitivamente não um pensamento agradável e nada que fosse me dar força para enfrentar a galinha que me encarava no momento.
- Sim, ficando....
E antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa o contrato de confidencialidade com ele me impediu, uma vez que outras pessoas estavam chegando perto e já vieram me chamando para me unir a eles na pista.
Eu fui, mas o pensamento ficou la com ela. Ela sabia – ou imaginava – que estávamos juntos, podia jurar que era ela que na quarta passada tinha chamado a atenção da amiga dela com o jeito que falava com o Pedro na minha frente, ela viu que tinha algo entre nós. Será que eu estava tão presa a ele que fui capaz de confundir uma loira com outra? Como o dito popular fiquei com uma “pulga atrás da orelha”, afinal qual o possível interesse dela nele? Será que era pura curiosidade mesmo?
Dancei fazendo uma breve reflexão das conseqüências agora que tinha admitido com todas as letras que estava ficando com ele. Será que ela iria espalhar para todo mundo? Não que eu realmente me importasse em assumir um relacionamento com ele, ia achar até bom para poder me libertar um pouco, sem precisar ficar me policiando sobre como olho para ele ou como o toco sempre que estamos juntos. De um lado até gostaria que a historia viesse a publico, para ver se ele se animava para algo mais serio, mas por outro o medo de que ele so quisesse curtir comigo mesmo me deixava muito insegura. Se a verdade fosse curtição mesmo, acho que eu não estava pronta para descobrir ainda, queria mais tempo para sonhar.
A musica acabou e eu não agüentei, fui tirar satisfação.
- Por que você tinha perguntado o lance com o Pedro? - Eu estava seria, mas ainda sim informal.
- Por nada... só para saber...
Eu queria prolongar o assunto, ver se era so curiosidade mesmo, mas não consegui pensar em nada que eu pudesse falar. Ela acabou por virar e continuar falando com outras pessoas depois de alguns segundos que eu passei sem dizer nada. Não tinha mais o que falar. O assunto estava encerrado, pelo menos para ela, porque eu ainda estava condenada a mais alguns minutos para processar as informações.
No outro dia, quando o encontrei não disse nada, mas estava decidida a “marcar o território” falando para algumas pessoas chave que tinha algo entre nos. Não com palavras, mas com pequenos gestos que sabia que outras pessoas veriam, para que na próxima vez que alguém tiver duvidas não precisem vir perguntar, vai bastar olhar para nós para saber que existe algo maior que amizade, para que o fogo que arde toda vez que nos encontramos se torne maior e mais poderoso.