Lembranças que a vida traz – Cap. II
Era o que pensava mesmo...
Garoto insistente este!!
Fez amizade com sua família só para ter uma desculpa de freqüentar a casa com mais liberdade. Tornou-se amigo de seu irmão para que este lhes aproximasse.
E algo dizia que esta insistência traria problemas. Passou a encontrá-lo onde estivesse, na rua, na praça, até mesmo na ponte quando ia à fazenda. Das duas uma: ou ele sabia de todos seus passos ou a seguia mesmo.
Seu namorado já estava ficando incomodado com a presença do garoto. Mas o que fazer se ele não queria entender que ela já tinha alguém em seu coração? Os desentendimentos com o namorado estavam sendo freqüentes por causa do assunto. Engraçado!! Como se a culpa fosse dela...
Ao lembrar desta frase, parece despertar de um sonho, percebe que já havia remado para bem longe, estava afastada da cidade. Logo a maré iria baixar novamente, então era chegada a hora de deixar a canoa voltar livremente, como fizera durante anos que mergulhara naquelas águas.
Sente-se tranqüila, aquela paz, o silêncio que havia ali a deixava nostalgicamente enlevada em seus devaneios. Deita-se no fundo da canoa e deixa que as águas a levem de volta ao local de onde saíra algumas horas antes.
Deitada, observando as nuvens que pareciam brincar no céu tão azul, deixa-se levar nas recordações que insistem em voltar à mente em um turbilhão de emoções que ficaram guardadas por longos anos.
Ele voltara a fazer parte de seus pensamentos assim que decidira regressar à cidade. Era difícil andar por aquelas ruas e não se lembrar de cada momento ali vivido.
Já havia se passado vários anos desde o último encontro e a sensação era de ser um acontecimento recente.
Sim, seu coração batia descompassado ao lembrar dele, pensar no que poderia ter sido e não foi...
Ouvindo o cantar do Bem-te-vi nas árvores que margeiam o rio, resolve parar um pouco e mergulhar, vivera ali tanto tempo, conhecia bem aquele rio, cada cantinho dele estava em sua memória. Hora de ir embora, pega novamente a canoa e segue seu caminho.
Já estava terminando mais um dia, o belo pôr-do-sol naquela ponte, deixara-a emocionada, quantas vezes tivera a oportunidade de estar ali naquele mesmo local e deslumbrar-se com paz e liberdade tão grande que mal cabia em seu coração.
Ao retornar, deixa a canoa que alugara para o passeio na ponte. Sobe a pé a rua que lhe levaria de volta a sua antiga casa, agora pertencendo a amigos. De repente, sente uma vontade enorme de desviar o caminho pela praça onde antigamente se encontravam. Ainda guardava as fotos que ali foram tiradas, ainda lembrava dos abraços de saudades que ficaram marcados nela.
Escolhe o mesmo banco onde costumava sentar-se para pensar e apreciar a vista do rio. Uma imagem volta a lhe trazer recordações...
O garoto novamente, aproxima-se dela em uma das vezes que vai a sua casa, aproveita uma distração do amigo e diz a ela que gostaria de conversar. Seria possível?
Só havia uma maneira de descobrir, permitir que ele volte depois e diga o que pretende...
Continua...