Inocentes
Santa Luzia
Hoje é três do 1
Não sei por onde começar... Era puro e inocente. Ainda hoje também é assim. Apesar dos desejos infinitos que guardo em pensamentos.
Ela se foi já há quase oito dias. Disse que iria voltar, só precisava de um tempo pra si.
- Vou sentir sua falta.
- Eu também, mas não há outro jeito.
- Eu sei. Por um lado vai ser bom!
- Vai?
- Sim, acho que sim.
- Por quê?
- Não sei, mas as coisas são assim. Sempre há um lado bom e outro ruim, por mais um deles se destaque.
- Aonde quer chegar?
- Não sei anjo. Já disse que não sei.
Ficou um silêncio que fazia com que nós pensássemos cada vez mais. Vinha tanta coisa na cabeça que eu estava perdida.
- Mas de qualquer jeito vou sentir a sua falta. Ela disse.
- É por isso que precisa ir?
- Não sei.
Nós já não sabíamos de mais nada. Havia alguma coisa nova existindo em nós.
- Talvez o lado bom da sua ida seja isso. Nem se foi e já sabe que irá sentir a minha falta. Estamos ficando dependentes.
- Isso me vinha à cabeça, mas não saberia como dizer-te. Não posso ficar assim. De uns tempos pra cá você está sendo a minha vida. E não acho bom ficar dependente de você... Quer dizer, é bom. Mas como você disse a pouco, tudo tem seu lado bom e ruim. Entende?
- Perfeitamente. E quando vai?
- Amanhã.
- Não devo te ver antes de ir, certo?
- Creio que não. Queria te ver, mas acho que não será possível.
- Tudo bem.
Mudamos de assunto. Voltamos à rotina de todos os dias, como todas as nossas conversas virtuais.
As horas foram passando num piscar de olhos e nem percebemos, só quando o sono bateu em nossas portas e fez com que nos despedíssemos.
Hoje ela está chegando. E como a saudade era tamanha de ambas decidimos nos encontrar o mais rápido possível. Como ela chegara de manhã, poderá descansar até a tarde e assim poderemos nos encontrar a noite. Foi justamente isso que fizemos. As horas passaram tão devagar, o relógio deveria estar com raiva de mim. Mas quem esperou tantos dias consegue esperar algumas horas.
Combinamos de nos encontrar em um dos locais que os adolescentes sempre iam para distrair e se divertir. Chamamos mais duas amigas também, pois estávamos todas morrendo de saudade umas das outras.
Chegamos. Revê-la foi tão bom, foi como um alívio. Tanto tempo sem vê-la, sem saber se ela estava bem, sem ouvir a sua voz.
Assim que nossos olhares se cruzaram me brindou com um sorriso lindo e eu, claro, retribui. Aproximamos-nos o mais rápido possível, nos olhamos nos olhos por alguns segundos.
- Estava morrendo de saudades, anjo.
- Eu também estava, amor.
Quando ela me chamava de amor me soava aos ouvidos como uma melodia suave, que tocava meu coração de um jeito tão simples mas tão marcante.
Abracei-a bem forte e ela retribuiu o abraço. Ficamos ali, abraçadas por algum tempo, pouco tempo, pois as outras amigas também queriam abraçá-la.
- Vem aqui, dêem-me um abraço. Então elas a abraçaram.
- Ah, estava com saudades de todas vocês.
- Nós também, amiga. Disseram a duas juntas.
Nos sentamos e pedimos algo para beber. Sentei ao lado dela, de frente para as outras meninas. Conversamos sobre tudo, ela contou como foi a viajem e nós contamos o tédio que estávamos passando por aqui. Conversa vai, conversa vem, e o desejo de tê-la estava cada vez maior. Olhávamos-nos diversas vezes, com uma forma bem diferente. Ela perecia me desejar também. As duas amigas começaram a notar, e como já havia dito-as que estava sentido algo especial por Amanda elas não ligaram e continuaram conversando.
A mão dela estava em cima da mesa, e coloquei a minha bem próxima a dela. E fui cada vez chegando mais perto. Até ela perceber o que eu estava querendo e então pegou em minha mão e me olhou, eu sorri sem jeito e ela também. Mas continuamos ali, conversando e agora de mãos dadas. Fiquei fazendo carinho em sua mão, e ela parecia gostar. Nossas mãos começaram a soar, e a vontade de beijá-la a cada olhar que se encontrava era cada vez maior. Peguei minha mão e coloquei nas pernas dela, não fiz nada demais, só queria sentir melhor o seu corpo, já que meu desejo só aumentava. Ela me olhou e deu um sorriso malicioso e colocou sua mão sobre a minha por debaixo da mesa. Comecei a acariciar suas pernas com um toque de desejo, creio que ela sentia cada vez mais e estava compreendendo o que eu queria. Olhamos-nos inúmeras vezes, até que o mundo parou. Ficamos nos olhando por muito tempo, e como ela não desviava o olhar dessa vez, eu continuei olhando-a. Fui me aproximando até ficar bem juntinho a ela. Nossa respiração foi ficando ofegante, e já não sabíamos o que fazer. Comecei a fazer carinho em seu rosto e ela fechou os olhos como quem estava gostando de receber aquele afeto. As meninas logo perceberam o que estaria por vir. Mas ela estava com medo apesar de me querer também, dava pra sentir perfeitamente. Então ela desviou o olhar mais uma vez e começou a conversar com as meninas, ainda de mãos dadas comigo. E ficamos ali trocando carinhos por debaixo da mesa. Passou algum tempo e já estava na hora de irmos embora, cada uma para sua casa. Pagamos a conta e fomos andando pela praça que havia perto do point onde ficamos, já que era caminho de todas. Continuamos de mãos dadas, por todo o caminho. Eu já não sabia o que fazer, mas desejava a beijar ali mesmo e naquele instante. Estava com um pouco de medo por não saber a reação dela, mas eu teria que arriscar de alguma forma. Chegando a um determinado lugar a chamei.
- Anjo!
- Que foi ?
Fiquei sem jeito, a coragem havia me deixado de mãos atadas.
- Nada não, é que você está tão linda.
Foi então que ela sorriu. Aquele sorriso de alguma forma me deu a segurança e a coragem que havia me faltado antes. Então a puxei para bem perto, e ficamos corpo a corpo. Eu conseguia sentir sua respiração. Seu coração desesperado, assim como o meu também estava, não sabia se batia cada vez mais rápido ou se parava. Ficamos ali nos olhando e ela não desviou o olhar. Sorriu e em seguida mordeu os lábios, como quem pede beijo. Então me aproximei e finalmente nos beijamos. Foi como se meu mundo parasse ali, naquele instante. O coração estava transbordando de felicidade por estar ali, beijando a minha menina.