Heroína

O toque das mãos.

Um sorriso.

O simples fato de procurar formas nas nuvens.

Rápidas conversas sobre o horizonte, sobre a pequenez do ser humano e sobre tantas outras coisas.

As brincadeiras, muitas vezes irritantes.

Coisas como essas foram suficientes para fazer crescer a vontade de revelar algo que, há muito tempo, é mantido em segredo.

Entretanto, nada saiu como o planejado e outras situações o desencorajaram, fazendo com que se encolhesse diante de suas vontades. Para ele, o importante era ver a felicidade dela e estar sempre por perto. Tinha medo.

E as coisas mantiveram-se como sempre foram.

O toque de outras mãos, que não fossem as dela, não o faziam se arrepiar.

Podia andar quilômetros e quilômetros por dia que não encontrava um sorriso como o dela.

Não via formas peculiares nas nuvens. Todas as nuvens tinham, para ele, o formato do rosto dela.

As brincadeiras só eram realmente divertidas quanto tinham o objetivo de irritá-la.

Ela havia voltado a ser o horizonte sobre o qual conversaram: por mais que ele tentasse chegar perto, nunca conseguiria.

E sempre seria assim.

Quem sabe, se ele tomasse uma atitude, um dia alcançaria seu horizonte, podendo, enfim, flutuar nas nuvens.

Ou não. E essa opção o aterrorizava.