A CABLOCA E O PRETINHO
Faustina morava na roca, num sitio no final do nada, mas perto do tudo, tao linda era a paisagem que a rodeava.
Acostumada a viver cercada de bichos, aprendeu a conviver com eles, mecanicamente, sem olha-los nos olhos.
Certa manha, de costume ao romper do dia, la estava ela, enxada em punho, chapeu de palha na cabeca, pronta pra capinar a terra fertil daqueles sitios.
Ja estava a carpir, quando ouviu um gemido estranho, vindo do mato mais alto, rente a onde estava.
Curiosa avancou na direcao em que vinha tao dolorido gemido, e o que viu, foi um cachorro preto como a noite, deitado sobre a terra, com um ferimento enorme em sua pata esquerda dianteira.
Faustina olhou, e pensou vai ficar ai, nao serve pra nada, nao da leite, nao da banha, nao da carne, nem mesmo ovos.
Quando ia se afastar, o cao voltou a uivar, um choro dolorido, que entrava na alma de qualquer um.
Ela, entao disse ao pobrezinho, "oia, tenho muito trabaio, se quise espera ate a hora do armoco, ai te levo e te cuido"
E como se entendesse, o animal aquietou, e resignado esperou, a hora do almoco.
Assim prometou, assim cumpriu, era cabloca de palavra, e levou o cachorro pra casa, quando comecou a lavar o ferimento, viu q era serio, o coitado havia posto a pata numa armadilha de cacador, ela o cuidou como pode, e com os recursos que tinha, com ervas, amassadas e amarrada ao ferimento com trapos velhos.
Por dias e dias, Faustina, deu comida, agua, e trocou o curativo no ferimento do cao.
Ele sempre quietinho, mesmo com toda dor, que representava tocar naquela grande e funda ferida.
Olhava a mulher, com um carinho sem fim.
E ela nao entendia bem, porque tava fazendo tudo aquilo, alias muitas vezes o cuidou, resmungando, "oce nao me da nada em troca, minhas galinhas poe ovo, minha cabra da leite, meus porco da banha, e oce....so me da trabaio, quando fica bom, trate de pica mula"
Chegou o dia, que o cachorro, pode se levantar, percebeu que a perna ferida, nao poderia mais ser usada, tinha ficado manco, mas tava feliz e agradecido, porque ja nao mais doia, e podia caminhar.
Faustina, quando o viu em pe, foi logo falando, "muito que bem, agora e mio toma o caminho da roca, num tenho como alimenta, quem num tem o que da"
O pretinho, assim ficou seu nome, pois era assim que Faustina o chamava, a olhou, e abaixou a cabeca, com olhar triste.
Ela seguiu em frente, tinha muito mato pra capina, e o dia ja ia alto.
Pretinho, nem pestanejou, e atras de sua querida dona seguiu, ela quando o viu, ainda tentou afugenta-lo, mas ele humilde se deitou a poucos metro dela, olhar cheio de ternura.
Como a implorar que o deixasse ficar.
Faustina, seguiu em frente, nao podia perder tempo, com cao sem utilidade.
O dia ja ia cedendo seu lugar ao entardecer, quando Faustina, resolveu juntar suas coisas e voltar pro seu rancho.
Quando ia pegar a sacola com as ferramentas, eis que uma venenosa cobra lhe mostra o pote, a coitada tomou um susto que se desequilibrou e caiu pro lado, estava agora, vulneravel ao ataque. Foi quando, valentemente, o pretinho se jogou em cima da cobra e a mordeu ate conseguir mata-la.
Ao final todo contente, traz entre os dentes o perigoso bicho, como a dizer pra sua dona, "olha, agora ja posso ficar, pois tenho serventia"
E assim Faustina, voltou pra casa naquele dia, a pensar, que a cabra dava leite, a galinha punha ovo, o porco dava banha e o pretinho matava cobra, e salvava sua vida.
Serventia maior nao poderia ter.