POSSUO VOCÊ!
11/01/05
22:45

O vento bate de leve em meu rosto. Sinto o fechar de meus olhos...
Por um momento pude ver a verdade que sempre se escondeu de mim.
Agora ela estava bem ali: visível e letal.
Eu desejei matar esta verdade, mas já não se faz tempo.
Este vento agora insistente chega a me perturbar.
Bate forte e impiedoso, mas não impede o cair de minhas lagrimas.
Deixo a janela pra trás... deixo um pedaço de mim também.
Num instante meu corpo transpira um medo tocável e que foge de meu controle. Sinto-me indefesa, mas motivos aparentes para me perturbar.
Procuro seus doces braços, mas estes distantes não me amparam não me apertam não permitem que minhas marcas perfurem você.
É como se nada mais me pertencesse:
Nem o poder do autocontrole, nem o descontrole total.
Não tenho mais o sabor de tão voluptuosa boca nem olhos grandes perturbando minha paz.
Não tenho minha batida perfeita, nem o cheiro que antes morava arduamente em meu corpo.
Penso no começo, viajo nos meios, adoeço no fim.
Penso nas possibilidades e odeio-a por longos instantes, mas já sei que devo amá-la para todo o sempre.
Pois agora ela carrega consigo o que já foi a razão da minha fé e de minha busca. Ela tem um pedaço que já foi meu e tudo o que já vivi.
Diante do espelho sorrio para mim, mas reverencio a ela.
Sei que do outro lado deste espelho os mesmos medos a consome. Os mesmos pavores a segue por onde quer que vá.
Eu abençôo o seu presente, mas você carrega o meu passado.
Saberá que meus dedos estão na face de meu amado.
Saberá que meu cheiro eternizará no seu corpo.
Beije sua boca e lá estará meu mel. Leve-o ao céu e toque as minhas asas.
Não há lugar que você esteja que eu não estarei.
Dou-te um breve adeus...
Dê-me um longo olá...
Não há aquele que possa deixar de sentir meu ar após respirá-lo.
Não haverá aquele que possa esquecer meu toque após senti-lo.
Não houve uma partida que não se transformou em arrependimento.
Ela saberá disso em todos os momentos que olhar no seu olhar...
Eu ainda possuo você!


Nota da autora: este é um filho crescido (risos).
O original é bem meigo e bondoso. Tive que fazer algumas modificações, haja visto que fazem cinco anos que o escrevi. E Carmen mudou muito neste tempo.
Já “perdi” muito e ganhei também. Quando olho para as perdas vejo que colhi frutos melhores. Alguma coisa aprendi com elas. Talvez tenha algo a ver com a doçura. Talvez este mel que tanto tive deva ser recuperado. Há algo para salvar em mim: meu romantismo! (será?)
Carmen Locatelli
Enviado por Carmen Locatelli em 27/01/2010
Reeditado em 04/02/2010
Código do texto: T2054720
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