A Deusa do Sol e o Cavaleiro Que à Amou
Kondra era uma deusa, filha do grande deus Glandeor, que vivi na cidade de Lepus. Kondra era branca como a neve e seus olhos eram como grandes diamantes. Kondra tinha curvas perfeitas, seu corpo de mulher despertava desejo em todos os homens e inveja em todas as mulheres, mas Kondra era angelical demais para que algum deles lhe faltasse com respeito.
Kondra era muito venerada, todos passavam por ela e lhe faziam reverências e jamais se aproximavam; a deusa não devia ser tocada, não devia sequer respirar o mesmo ar dos humanos, devia permanecer sempre acima. Era uma deusa e todos acreditavam que não lhe faria bem uma aproximação com os humanos.
Contudo, os olhos de diamantes de Kondra eram infelizes, sempre que os homens e mulheres passavam por ela e não se aproximavam e lhe evitavam, seu coração doía e ela mergulhava no mais remoto mar para poder gritar e chorar de dor e solidão.
Um certo dia um caçador passou pela cidade de Lepus seguindo a trilha de um precioso cavalo selvagem que há muito tentava capturar. Apus corria pela cidade seguindo a trilha de sua caça quando por acidente deu de encontrão com a bela mulher de pele branca e olhos de diamantes, cujo corpo perfeito era coberto por um gracioso vestido de seda vermelha. Kondra caiu com força no chão e seus cabelos de fios de ouro sujaram-se com a terra. Apus porém mal olhou para trás para ver a quem havia derrubado e continuou sua perseguição.
Kondra se levantou e seus olhos se focaram naquele homem que a havia derrubado e nem se importou.
Apus corria pelos campos de Lepus, por onde seu cavalo selvagem passava deixando rastros. Mas então ele parou abruptamente, pois a alguns metros a sua frente o grande cavalo, negro como a noite, corria e Apus logo notou que ele corria em círculos. Estava rondando alguma coisa, sua crina voava com o vento e ele parecia calmo, quase domado.
Apus se aproximou cautelosamente, quem havia deixado seu precioso selvagem tão manso assim? O cavalo então parou e deitou-se na grama, Apus ficou chocado. Quando o animal se deitou ele viu então um vestido soprar com o vento e cabelos louros brilharem ao sol.
Não era aquela a mulher que ele havia derrubado? Como havia chegado ali? Como fez aquele animal que até o momento se mostrava completamente indomável, se deitar como um cão diante de seus pés?
Apus se aproximou de Kondra, que alisava o cavalo enquanto seus olhos se fixavam no caçador. Apus parou ao lado do cavalo, seus olhos no entanto estavam focados na deusa.
- Quem é você?- perguntou ele abruptamente.
- Kondra, filha de Glandeor.- respondeu a deusa com sua voz angelical.
- Glandeor, o deus?- admirou-se Apus.
- Sim.- respondeu Kondra e seus olhos baixaram, sabia que agora ele ia se afastar.
- VOCÊ NÃO DOMOU O MEU CAVALO, DOMOU??- de repente Apus parecia furioso.
- Quê?!- Kondra ficou confusa com a fúria repentina do caçador.
- Estou atrás desse cavalo a dias e não vá me dizer que você o domou!- esbravejou Apus.
- Homem insolente. Sou uma deusa!- retrucou Kondra e seus cabelos flamejaram como fogo.
- NÃO ME INTERESSA SE VOCÊ É UMA DEUSA! ESSE CAVALO É MEU, AFASTE-SE DELE AGORA!!- berrou Apus.
Kondra lançou seu olhar contra ele e Apus foi arremessado a três metros do cavalo.
Kondra no mesmo instante estava pisando no peito do caçador.
- Isso é pelo empurrão há alguns instantes atrás.- falou ela maldosamente e se sentiu estranhamente bem por estar naquela situação estranha.
Apus de repente agarrou o calcanhar de Kondra e a puxou, a deusa novamente caiu com um baque no chão.
- Uma deusa não é diferente de uma mulher.- falou Apus ainda no chão, encarando Kondra caída a seu lado.
Kondra simplesmente sorriu e seu coração, que sempre pareceu de pedra, sem vida, sem reações, batia rápido e um calor estranho subia por seu peito.
- seu cavalo não esta domado.- sussurrou ela.
Apus ficou de pé num salto, aproximou-se do cavalo negro que ainda estava deitado no chão. A cabeça do cavalo de repente se voltou pra ele, os olhos negros flamejaram e ele bufou ameaçadoramente. Apus agachou-se como se fosse um animal se preparando para o bote, mas somente encarou o animal com seus olhos firmes.
O cavalo se colocou de pé, as patas batendo com força no chão, ainda bufava e encarava Apus; o caçador deu um passo a frente, pronto para se jogar no lombo do cavalo e doma-lo. Mas o cavalo ergueu-se nas patas traseiras, chutou o ar relinchando furiosamente e então se lançou contra Apus. O cavalo disparou contra o caçador e quando suas patas dianteiras iam acerta-lo bem no peito Apus foi puxado com uma força sobrenatural para o lado e num instante estava a cem metros do cavalo, ao lado de Kondra.
- Acho que ele não gosta de você.- disse Kondra com desdém.
Dessa vez foi Apus quem bufou de raiva.
- Eu não lhe pedi ajuda.- reclamou Apus encarando Kondra com raiva.
- Seu ingrato, o cavalo ia pisoteá-lo.- indignou-se a deusa.
- Um animal só confia em um homem quando este homem não foge dele.- falou Apus por entre dentes.
- Bem, ele confia em mim.- Kondra deu de ombros.
Apus voltou na direção do cavalo que agora corria pelo campo. O animal parou a certa distancia dele, o encarando, e de repente disparou. Apus permaneceu imóvel enquanto o cavalo vinha velozmente em sua direção, Kondra tinha certeza de que o cavalo iria arremessa-lo longe, mas se Apus achava que a fera iria parar no ultimo instante e se curvar, então ela não ia se intrometer.
O cavalo estava a um metro de Apus, mais um longo galope e sua cabeça se investiu contra o peito do caçador que caiu a metros do animal. O cavalo continuou seu galope, seu corpo se lançou com força para sempre, suas patas iam aterrissar em cheio no rosto de Apus, mas ele foi puxado novamente.
Desta vez ele não ficou furioso, se jogou no chão arfando e esfregando o peito, tinha uma nota de pânico em seus olhos.
Ele se virou para Kondra, mas Kondra de repente virou sua cabeça para o céu com uma nota de preocupação. Uma grande nuvem negra vinha na direção deles.
- tenho que ir.- disse Kondra de repente e no segundo seguinte Apus estava sozinho.
Sendo filha de deus, Kondra é claro não podia se envolver com humanos, não que fosse acontecer alguma desgraça, mas Glandeor jamais aceitaria sua filha com um humano, não quando ela poderia se unir a algum outro deus poderoso e quem sabe até se tornar à deusa de todos os céus. Kondra então não poderia ser vista com Apus, não se não quisesse provocar a fúria de seu pai.
Mas Kondra não pode evitar se alegrar com Apus. Ele não só ignorava o fato de Kondra ser deusa, como também a tratava como uma igual e não fazia questão de ser gentil ou delicado, como os outros homens, que raramente se referiam a Kondra, faziam. Era quem o coração de Kondra esteve esperando por todos os longos anos de sua existência. Era o homem que fez seu coração bater pela primeira vez.
Quando o sol seguinte se ergueu no horizonte, Kondra procurou Apus pela cidade. Não o encontrou em parte alguma e procurou então no campo, sem sucesso também. Apus não apareceu por dias e Kondra se entristeceu, Apus devia ter partido. Partira atrás de sua caça preciosa e ela nunca mais o veria. Voltaria a ser uma estatua de mármore.
Num certo dia, vários dias após o encontro com Apus, Kondra estava em seu templo em Lepus, sendo venerada pelos habitantes da cidade. Estava imóvel e sem vida, queria mais que tudo que alguém se aproximasse dela e a abraça-se ou mesmo empurra-se como Apus fez naquele dia. Mas todos simplesmente a reverenciavam e a passavam a vários metros dela, de cabeça baixa, não se atrevendo a olhar a deusa nos olhos.
- Você esta morta?
Os olhos de kondra se ergueram para a entrada do templo. Parado a porta estava Apus, com os olhos roxos e inchados, hematomas nos braços e no rosto. Parecia cansado e abatido.
- Ainda não.- sussurrou Kondra enquanto seu coração voltava a bater descompassado e um longo sorriso se espalhava por seu rosto.
Apus deu alguns passos em direção a kondra quando dois homens enormes o pararam.
- Não se aproxime da deusa!- bradou um deles.- faça reverencia!
E com uma mão enorme jogou Apus no chão.
- PARE!- berrou Kondra, erguendo-se.
Os dois homens jogaram-se de joelhos no chão na mesma hora.
- Perdões minha deusa. Só queremos protege-la.- sussurrou o outro homem.
- Então afastem-se.- sibilou Kondra com uma voz ameaçadora.
Os dois homens ergueram-se, com a cabeça ainda baixa e saíram do templo.
Apus então se levantou e foi na direção de kondra, os sacerdotes, sacerdotisas e fiéis que ainda estavam no templo, olharam para Apus boquiabertos, algumas mulheres tamparam os olhos dos filhos diante do tamanho absurdo.
- por que esta aqui?- perguntou Apus a Kondra.
- Este é o meu templo.- respondeu Kondra.
- Pensei que preferi-se o campo e os animais selvagens.- disse Apus dando de ombros.
- Prefiro.- confessou Kondra.- mas estou presa nesta vida infeliz.
- Por que infeliz? Você é uma deusa, pode fazer o que quiser.- perguntou apus sem entender.
- Não é exatamente assim.- disse kondra sentando-se novamente em seu trono.- os humanos não se aproximam de mim, não falam comigo, acham que não devem se relacionar com os deuses porque tirariam nossa graça.
- Besteira!- disse Apus olhando a volta. Os outros ainda olhavam impressionados.
- É horrível.- confessou então Kondra, pela primeira vez.- não ter com quem falar, não poder jamais ser tocada, não sentir emoções, não ter aventuras, simplesmente existir, sem nunca viver.
Apus a encarou, apesar de roxos, seus olhos castanhos ainda tinham aquele tom selvagem.
- Me ajude.- disse ele desviando o olhar de Kondra.
- Que?
- Me ajude a pegar aquele cavalo e.....e então....
- O quê?!- o coração de Kondra de repente galopava desembestado como aquele cavalo selvagem.
- E... a levo comigo.- disse Apus como se cuspisse algo que o incomodava na garganta.
Os lábios de Kondra tremeram quando ela foi falar.
- Me leva? Com você? Para onde?
- Não sei.- disse Apus sem olha-la ainda.- não tenho casa, não tenho destino ou rota. Simplesmente ando pelo mundo. Vivo, não existo.
Kondra se levantou num salto, um sorriso que brilhava como o sol ia de uma orelha sua a outra.
- vamos! – gritou ela puxando apus pelo braço e saindo correndo do templo.- ele esta no rio.
Kondra e Apus correram de mãos dadas até um grande rio ás portas de Lepus, onde o grande cavalo negro e selvagem se refrescava.
- quando eu o distrair você pula nas costas dele.- disse kondra a Apus e correu para o cavalo.
Apus queria dizer que já havia pulado uma vez nas costas do cavalo e acabou com os olhos roxos, mas preferiu confiar na deusa.
Kondra alisava o focinho do cavalo, Apus se aproximou pé-ante-pé pelas costas do animal e então, num salto, montou o cavalo agarrando-o pela crina.
O cavalo então guinchou como louco e começou a pular feito um louco, chutando o ar,chacoalhando a cabeça descontrolado tentando derrubar Apus. Ele disparou para dentro do rio, causando uma agitação de água, Apus se agarrava com toda sua força ao pescoço do animal. O cavalo ainda berrava, saiu de dentro d’água e disparou a galope pelo campo, correndo mais rápido do que qualquer outra coisa que Apus já havia visto, até que então parou e se largou no chão, cansado e rendido. Apus respirou fundo e alisou a cabeça do cavalo, beijou-lhe a testa e o cavalo baixou a cabeça.
Kondra apareceu ao lado de Apus, seu sorriso ainda brilhava.
- você é o mais incrível dos homens.- disse ela.
- E você a mais bela das deusas.- respondeu Apus cujos lábios machucados também se abriam num sorriso e seus olhos agora eram diferentes. Não mais selvagens, mas sim calorosos.- venha, vamos partir.
Kondra montou o cavalo atrás de Apus e neste momento um trovão estrondou o céu, tudo se escureceu e um raio atingiu a terra à frente deles. O cavalo relinchou de medo, mas Apus o acalmou com um carinho na cabeça.
- essa não.-murmurou Kondra.
Da fumaça do raio surgiu um homem austero, alto e forte, coberto por uma linda capa azul escuro, seu rosto era severo e seus olhos de um cinza nublado estavam fixos em Kondra.
- Desça deste cavalo Kondra, deusa do sol.- falou Glandeor o deus dos trovões e sua voz era forte e alta como os mesmos.
- Não.....papai.- sussurrou Kondra com medo.
- És uma deusa, e não irá partir com um homem que não doma seu cavalo sozinho.- falou Glandeor.
Apus se mexeu querendo responder Glandeor, mas Kondra o cutucou com o dedo.
- Não irei mais é passar minha existência sentada num trono frio onde não tenho vida, onde todos me temem e meu coração não bate.
- Você é uma deusa, esta é sua vida.
- ISSO NÃO É VIDA!- berrou Kondra e pela primeira vez Apus percebeu como sua voz parecia com a música dos pássaros. Mas naquele momento era como um raio estridente, como a do pai.- HÁ MILHARES DE DEUSES QUE AMAM E VIVEM E SEUS OLHOS BRILHAM COMO TODAS ÁS MANHÃS E ELES SÃO FELIZES!! VOU-ME EMBORA, VOU AMAR E SER AMADA!!
Apus novamente se mexeu, mas dessa vez não era por incomodo, era por surpresa.
- Então perderá sua graça.- sentenciou Glandeor.
- Fique como ela.- respondeu Kondra e batendo os pés nos lados do cavalo ela e Apus partiram.
As manhãs em Lepus foram mais bonitas, Kondra, a deusa do sol não estava mais lá, mas seu coração batia feliz e o sol nascia mais belo. Agora ela amava e era amada. Nas terras por onde passou com Apus, seu amado e Trovão, seu cavalo negro, não foi tratada com diferença, era deusa, mas ao mesmo tempo humana. Vivia, não apenas existia.