Perfume
O êxtase percorria os meus sentidos. De olhos fechados, cada toque traduzia a essência de toda a vontade, de todo o momento. A essência. Essência de jasmim, de rosas, de eucalipto. “Tudo numa coisa só”.
O perfume agradável transcende. Sentidos pulam, gritam, enlouquecem. Tentam fugir impelidas pelo olor que os excita frente à composição quimicamente perfeita de cada elemento.
As sensações olfativas o guiavam a um transe hedonístico, sobrepunham a audição e potencializavam o prazer tátil. Em suma, sintetizavam toda a sinestesia do momento, traduzindo os aromas em cores, cores em sons, sons em sensações.
Minhas mãos tocaram seu rosto, este de um aroma doce, azul claro. A pele macia refletia o amarelo cítrico do dia e cada segundo passado intensificava o rubro prazer de estar ao lado dela.
Dediquei-me então a notar os acordes que me cercavam, admirando a harmonia das notas, equalizadas cuidadosamente a fim de embriagar-me com a melodia de seu cheiro. Era som traduzido em perfume.
Em uma tentativa de relacionar os elementos de tal aroma, listei amor, desejo, carinho, confiança, pouquíssimos ciúmes. Errei. Passado algum tempo, o ciúme potencializou-se, embora não fosse mais forte que o fixador, repleto de saudades e de compreensão.
Abri os olhos. Todos os detalhes tornaram-se visíveis. A beleza ofuscante dos olhos, do sorriso, da felicidade. Tudo era mágico. Era como a certeza de um grande sonho realizado. Tudo o que sempre quis diante de meus olhos atentos. Mas tornei a fechá-los. Não precisava vê-la para admirá-la. Em verdade, era no momento em que se desfazia das aparências que o sentimento aflorava. Era em seu perfume que sua verdadeira essência tornava-se visível.