INCOERÊNCIA PARADOXAL - A NOVA FILOSOFIA

Caro leitor, vou adverti-lo desde já, pois não quero enganá-lo, não queira encontrar neste his-conto alguma revelação inesperada, algo do tipo epifânico que lhe traga durante a leitura o prazer da descoberta. Nada disso você encontrará aqui, assim, será de responsabilidade sua a opção de continuar a me ler.

Mais uma vez eu sei que irei quebrar as leis gramaticais, entretanto sem querer questionar a importância desta para a escrita, mesmo sem querer ou poder me justiçar, preciso pelo menos ser entendida. De sobremaneira, que eu possa lhe contar Tim-Tim por Tim-Tim sem que esteja o tempo todo preocupado com algo que foge a lógica coesiva, ou a lógica das idéias.

Vamos ao que interessa, afinal, sentimentos não se explica, mesmo porque o nome já diz tudo, sentimentos – Os SENTIMOS, apenas. Não há como explicá-los. Então vamos aos fatos. Nem sei quando tudo começou, pois se há algo neste mundo que nos pega de surpresa é amor. Sei que vou mais uma vez querer explicar o que afirmei anteriormente, mas não fui eu quem o fez, pois acredito que você mais uma vez concordará comigo, que por ser universal, o amor é divino. Entretanto esse que estou tentando lhe contar terei eu que dar mil voltas ao mundo para poder descrevê-lo.

Não por fugir a regra ou qualquer coisa do tipo, mas, sobretudo pela forma como tudo aconteceu. É nisso que estar o grande mistério: - Não sei como aconteceu, só aconteceu. E quando dei por mim ele já se encontrava instalado dentro de meu peito. E pensando contemporaneamente posso comparará-lo a uma dessas invenções novas que por pura acaso, salvará o futuro da humanidade.

O “objeto” desse hist-conto: Uma figura morena, nada possuindo de imediato que pudéssemos considerar que pudesse chamar a minha atenção. Mas, chamou. E eu com a minha timidez que morro de mostrar aos meus amigos, que a possuo, mas, eles não acreditam. Tentei logo me aproximar. Pedi licença sem haver nenhuma necessidade, e ela em sua onisciência a respeito a despeito do resto do mundo, apenas levantou um pouco a vista e depois voltou ao seu trono de deusa terráquea.

Nem tudo que brilha ou querendo enfeitar um pouco, que reluz é ouro, pensei: - inocente! Pensa que irá fugir... Passei por ela, em seguida voltei. Alguém me indicou uma cadeira atrás da figura. Sentei quase contente, porque o lugar era estratégico. Contudo, calculei mal, ela possuía ombros mais largos do que o natural para uma pessoa com sua estatura.

Assim, o plano, que não era plano, porque para ser um plano é necessário algum tempo e tudo havia se passado em questões de segundos, estourando um minuto, e eu já me fazia dona de um: - Precisava ver se ela tinha o conteúdo das aulas anteriores, eu estava atrasada mais de três semanas, quase um mês, pois já que estávamos no terceiro dia da quarta semana.

Não conseguia realmente saber se ela tinha mais do que a página que escrevia no momento, porque também eu estava atrasada praticamente vinte minutos do horário da primeira aula. Não por culpa minha, mas por conta da tal burocracia... O colégio no qual eu estivera matriculada até aquele período fechara da noite para o dia. Eu tivera à noite as aulas normais, e no dia seguinte, não sei por qual carga d’água, o Colégio fechara, sem aviso prévio, assim de repente, feito coisa de um país sem lei, ou para atenuarmos um pouco a situação, vamos colocar a culpa da “coisa toda” na conta do destino. Ficará melhor para mim, para o país e para ela, que ainda não sabe que fará parte de minha vida.

Então, no ritmo de atraso no qual eu me encontrava, mal havia sentado, a sineta tocou indicando o intervalo. Quase não saio do meu lugar, um cara de proporções avantajadas meteu-se em meu caminho e me impediu totalmente a saída. Mas, uma vez fiquei em desvantagem em relação a ela que conseguira sair rapidamente. Quando me desfiz do tal nó, e corri a sua procura não consegui encontrá-la. E a decepção foi maior quando retornei a sala de aula e a sua cadeira não só estava vazia dela, como também de seus objetos pessoais.

Quase perdi a compostura e lasquei um impróprio. Sobressaltada com o tal pensamento inadequado ao local, que quase jurei ter visto alguém concordando comigo, mas, claro - era loucura, porque fora apenas um pensamento infeliz. Entretanto, como acredito no acaso, e em destino, e em coisas sobrenaturais, guardei a minha dúvida entre ser real ou fantasia e me enfiei nas tarefas e obrigações de estudante. Mesmo por que o Professor parara um pouco a explicação do teorema pitagoriano, se é que existe a expressão, e olhou atravessado para mim.

Caramba! - Atravessada mesmo estava eu, com aquele não sei o quê a gritar dentro de mim. Era um incompreensível quase compreensível latejando e pinicando feito tumor maduro, prestes a estourar. Sei que você irá achar a comparação exagerada, contudo acredite era a ponta do aisibergue que iria me atingir, ou melhor, que já me atingira, pois sentimento é assim mesmo, nasce não sei de onde, se instala você sabe onde, mas não quer acreditar. Principalmente os meus e os dela, que poderá desafiar os preceitos morais. Hipócritas, mas morais.

Contudo, eu tinha que começar a conviver amigavelmente com aquele sentimento, mesmo porque quem não conhece a estrofe da canção de Djavan que diz: Por ser amor invade e fim. Não era o fim da história, era apenas o começo, entretanto, não havia por onde correr já que o amor uma vez sentido se vale de seu poder universal e é mesmo o fim.

Estava apaixonada sem saber, e gestando a semente universal. Não sabe qual é? Volte ao começo desse relato e compreenderá. Eu já não era um eu apenas, agora o plural impusera a sua presença resultando em um NÓS. Mas, paradoxalmente esse Nós, tão plural dentro de mim, nela ainda era singular. Para ser mais exata, eu era sintaticamente falando, comum demais para o refinado gosto dela.

Era o caos literalmente instalado dentro de mim. Dizem que possuímos o poder do livre arbítrio. É mentira, pura enganação do destino, essa premissa serve apenas para você se castigar ainda mais com a tal da “Minha máxima culpa” e retirar do destino totalmente o ônus que no futuro seria atribuído somente a ele. Caindo na filosofia existencialista de Sartre, de que não adianta não escolher, pois ao escolhermos não escolher, já estaríamos escolhendo. Aquilo que para o filósofo era liberdade, para mim, era considerado como uma prisão.

Assim, os dias iam se passando e eu ia seguindo, vivendo a tal liberdade sem liberdade, já que no final, o resultado de minhas escolhas serão todas atribuídas a minha incondicional responsabilidade. Não sei se para você, caro amigo, se você me permite usar a minha liberdade para lhe chamar de amigo, já que a praticamente a duas páginas que você acompanha a minha íntima “não revelação” por ter lhe revelado desde o começo que não haveria nenhuma.

È paradoxal, mais também você já estava ciente disso desde o inicio e só lhe resta aceitar e viver a sua condição de leitor, sem lhe ser concedido o direito ao tal livre arbítrio. Então, não há como fugir, você terá simplesmente o direito de ter conhecimento de causa, sem jamais poder participar ativamente da história. Entretanto, sem jamais ser eximido totalmente de uma parcela no ônus da minha máxima culpa, mesmo porque não haverá inocentes nesta história, nem ela, que ainda não sabe nada do que lhe falo, nem você que “escolheu” ler-me.

Estou confusa nesse momento. Já não me lembro se lhe prometi contar tudo. Estou cansada e resolvi omitir alguns detalhes, não fique triste, eles não lhe farão falta. Porque a falta, a ausência, a saudade, estas pertencem somente a mim. Não há alguém neste mundinho de meu Deus, que possa mensurar o tamanho dessas dentro de mim. Elas vão corroendo a minha alma, invadindo os meus sentidos, aprisionando o meu ser inteiro a mulher de minha vida.

Essa que hoje lhe apresento é apenas um arremedo daquilo que fui. Creia-me! Faz tempo que não sou mais eu. Posso lhe afirmar que já nem lembro como eu era e se algum dia eu poderia ter sido alguém sem ela.

Com ela em minha vida, meu amigo, não havia noite sem estrelas, nem tão pouco essa cama vazia que me maltrata a alma como se me inervasse a minha coluna. É isso mesmo, minha cama dói. Meu universo se resumiu nesse quarto, onde tremo; choro, e vez por outra, ponho em risco minha própria existência. Não, não se assuste - Você nem ninguém poderão ser acusados Lembre-se, tenho o livre arbítrio, pelo menos por enquanto.

Não me olhe com essa cara de susto, eu já o faço todos os dias, além do que eu para você sou apenas uma ficção, não existo. É como ela agora em minha vida. Ontem não chorei ou se o fiz foi por apenas alguns minutos, passei pelo dia quase imperceptível. Não para mim, claro, que sinto, vivo essa dor quase que vinte e cinco horas por dia. Não me lembre que o dia tem apenas vinte quatro horas, é desnecessário. Eu já lhe disse que minha historia é paradoxal. Pensando bem deve ser tão comum quanto a sua, talvez esteja aí o paradoxalmente que se instalou nessas linhas mal escritas!

Entretanto, sei e sinto que a dor para você e eu é diferente, assim também como é diferente para ela. No começo ela me consolava quase todos os dias, agora estar começando a rarear, contudo, quando o faz me fala que tudo isso que estou passando é para o meu próprio bem, faz parte de meu crescimento como ser humano.

Talvez ela esteja criando uma nova filosofia. E eu que pensei que a filósofa da relação era eu. – O que diz a nova Filosofia? – ah, você ainda não entendeu – ela se fundamenta no fato de que eu devo ser feliz por tê-la perdido. Que os meus sentimentos deverão ser engolidos - Por falta de endereço – ela mudou-se! Ela e o seu coração mudaram, têm outro endereço.

A quem essa premissa conforta? A mim ou a ela? Talvez isso a faça livre da máxima culpa. Pois a mim nada conforta. Porque nada estancará o sangue que escorre de meu coração ferido. Nem mesmo em outros lençóis. Não existe cura para a dor da saudade. Ouvi dizer que num país bem distante daqui existe uma promessa de cura, mas há quem fale que é boato. Pretendo verificar. Quem sabe, eu me cure. Então serei minha novamente.

Mas, ainda não sei. Mesmo porque me sussurraram ao pé do ouvido que tudo nessa vida é passageiro, menos o motorista e trocador. Que piada sem graça. Só os idiotas riem. Talvez por não compreenderem.

Que absurdo.

Estou sendo indelicada. Contudo, me compreenda – Não existe delicadeza na dor. A dor só sabe doer - e mais nada.

E os sentimentos? Esses são somente meus. Estou cansada, não quero mais falar. Sei que decepcionei você. Não contei o meio da história. Talvez porque lá eu tenha sido verdadeiramente feliz. E o escritor só se vale da dor. Momentos felizes não dão ibope. Contudo, você não poderá me acusar de desonesta. Ah! Ela diz sempre que me vitimiso. Ela me fala isso porque mudou de endereço. Estar de casa nova. Feliz.

E eu? Eu lhe disse que ainda estava feito água viva. Linda, mas perigosa. Não tente me pegar! Posso lhe queimar. Ah, “o linda”, é grifo meu. kkkk...

Djavan continua tocando... Por ser amor invade e fim...

Fim.