Mensagem Enviada com Sucesso
Ele caminhava pelas ruas iluminadas de Amsterdam, cambaleava e tropeçava nas pessoas que andavam no sentido contrário. Os cabelos negros bagunçados, os olhos marcados por noites sem dormir. Vez ou outra abria caminho com um dos braços, a outra mão segurando forte algo que lhe parecia muito valioso, embora na verdade não fosse – achava engraçado como atribuía significados especiais a coisas materiais sem muita importância, nesse caso, seu celular.
Embora estivesse em movimento, estava, na verdade, em espera. Imaginava-se parado e estático na frente de um desses pubs de iluminação avermelhada, parede de tijolos, onde Chet Baker provavelmente esteve algum dia bêbado e vomitando no chão. A música na sua cabeça, como não podia deixar de ser, era um trompete triste e depressivo de blues. Queria gritar, estava ansioso, não podia esperar, queria esperar, não sabia esperar. Não importavam-lhe os fusos e a distância, queria poder fazer com que tudo fosse perto, um piscar de olhos, um bater de asas.
Hora ou outra abria o celular e observava o LCD como se fixando o olhar sobre ele e desejando muito, alguma coisa fosse acontecer. Esbarrou em um homem pouco mais alto que ele com alguma força e achou que o celular fosse voar de suas mãos para dentro de um dos largos canais da cidade, imaginou-o escapando-lhe por entre os dedos, quicando uma vez no chão e pode escutar o som da água espirrando e engolindo o aparelho. Via sua cara de desespero, sua cara covarde de quem não pode fazer nada para impedir. Segurou o aparelho mais forte e respirou fundo. Pediu desculpas já a muitos passos do homem com o qual trombara e que pareceu pouco se incomodar – ou se quer notar – absorto também na sua espera.
Acreditava que todos esperavam por alguma coisa. Que todos, em seu íntimo, tinham alguma coisa por acontecer, alguma coisa que eles almejavam e aguardavam, que sabiam que aconteceria em algum momento – um momento que eles não possuíam o controle, mas que desejavam com toda a intensidade que fosse logo. Acreditava também que todas essas pessoas, como ele, temiam não estar prontos para esse acontecimento. Que ele chegasse em hora malquista ou que por algum motivo eles não pudesse lidar com ele, ou até mesmo percebê-lo chegar.
Parou em frente a uma loja de conveniência vinte e quatro horas, toda iluminada e bastante movimentada. Jovens entravam e saiam, ele observava. Sentou-se em um banco de madeira em frente a ela. Encostou a cabeça atrás e observou o céu cinzento e repleto de nuvens, ouvia o som dos passos, das bicicletas, do canal. Do celular. Ele vibrava entre seus dedos a alguns segundos, mas ele não sentira antes. Um momento de expectativa eterna precedeu o movimento das suas mãos, abrindo o celular, clicando automaticamente no aviso de “Nova Mensagem Recebida” e levando-o até os olhos.
“Não se preocupe, meu amor. Estou te esperando. Te amo, sinto sua falta. Volta logo. Beijos.”
Ele sorriu aliviado conforme os primeiros grãos de neve começavam a cair.