Eu não te amo Sonia!

Aquele seria o dia definitivo, ele iria partir. Arrumara as malas desde cedo quando Sonia saiu para o trabalho. Teria que tomar uma decisão em sua vida. Não agüentava mais fingir que a amava . Para quê fora levar a história tão adiante? Já não se interessava mais por ela desde a época do noivado. Não tinha coragem de desistir. Ela demonstrava tanto amor! Ela era a mulher perfeita!Mas faltava algo. Este algo estava sendo preenchido por Rita. Não conseguia mais imaginar ficar longe dela. Sentia falta do seu olhar, do seu sorriso , do jeito que arrumava os cabelos.Coisa tão simples e que o faziam tão feliz.

Há tempos decidira que iria abandonar Sonia e só agora que lhe vinha coragem. Tinha um compromisso com ela. E ele? Se fosse arcar com o compromisso a vida inteira por pena, ou sei lá por respeito, não poderia sentir tudo o que sentia quando ficava com Rita.

Os amigos da família o achariam um cafajeste. Iria ter que brigar com o mundo, mas por Rita valeria a pena. E seu filho? Deixaria o pequeno Érick. Não o veria crescer. Ah, mas seria melhor assim. O menino ainda bebê não sentiria tanta falta do pai. Depois teria outros filhos. Constituiria uma família com Rita. Érick nem se lembraria dele.

E a carta? O que deixar na carta? Carta de despedida é sempre difícil de escrever. Não precisaria entrar em detalhes. Já imaginava Sonia lendo a carta. Seus olhos cheios de lágrimas e seu desespero momentâneo. Ela era assim, primeiro se desesperava com as situações críticas, depois com sabedoria resolvia tudo. Coitada de Sonia! Ela não merecia um homem como ele. Um homem que não a amava . Que tinha uma amante há três anos, que para sentir tesão fechava os olhos pensando em outra mulher.Quanta tortura! Não seria muito mais simples dizer a verdade? “Eu não te amo Sonia.” Sonia olharia para ele perplexa pois sempre acreditara num amor eterno. O amor deles seria eterno.Todos os achavam um casal perfeito. Só ele sabia que não eram. Como conseguirá mentir por tanto tempo. Agora era a hora. Pegou um papel, uma caneta e escreveu simplesmente: Não me espere Sonia, tive que partir.

Que covardia! E o menino? O menino perguntaria um dia : cadê meu pai? Sonia não saberia responder,ou quem sabe diria : ele morreu.

De repente o celular toca;

___Alô , Raul!

__Oi Sonia.

__Raul eu tive um pressentimento de que você estava me deixando.

___Bobeira, Sonia.

___Diz que você nunca vai me abandonar.

___Você sabe que jamais faria isto.

___Promete.

___Prometo.

__Tchau meu amor se cuida.

___Se cuida também.

Raul rasgou o bilhete. Desfez as malas e decidiu não partir.