Amor aos 70

Amor aos 70.

Carlos tinha mais de 70 anos e era um advogado aposentado. Perdera a esposa Marisa há um ano. Fôra casado com ela durante mais de 40 anos, tiveram 3 filhos e 5 netos.

O casamento foi bastante feliz, um respeitando sempre o outro. Mas no seu interior ele guardava um grande segredo: nunca foi apaixonado por ela realmente. Ela foi apenas um prêmio de consolação, uma companheira que viera em boa hora para ele conseguir esquecer Lívia, o grande amor de sua vida.

Os dois sempre foram grandes amigos, mas ele tinha medo de contar o sentimento que sentia por ela e perder a sua amizade. Alguns anos depois Lívia se casou, e ele também.

Ela continuou morando na cidade mas ele preferiu se mudar para tentar esquecer de vez aquele amor secreto e proibido.

A amizade entre os dois continuou, mas não era como antes, quase não se viam ou se telefonavam

Certo dia arrumando seu armário, Carlos achou uma foto de Lívia. A em fotografia preto e branco mostrava uma Lívia de 50 anos atrás, sem rugas, sem sinas do tempo no rosto, era uma Lívia linda, de cabelos claros, olhos castanhos e um sorriso quente que nem o mais rigoroso dos invernos conseguiria desfazer.

Aquela era a Lívia por quem Carlos sempre foi apaixonado.

Ele pegou a fotografia olhou durante um longo tempo, como se aquele sorriso pudesse consolá- lo. Lavar a sua alma, tirar a culpa de nunca ter tido a coragem necessária de dizer que a amava.

Algumas semanas se passaram e Carlos recebeu um telefonema. Era o filho mais velho de Lívia dizendo que ela estava internada e que queria vê-lo.

Carlos pegou o primeiro voo para São Paulo.

Chegando no hospital, foi levado para o quarto onde ela estava.

Já não era aquela Lívia de 50 anos atrás. Seu corpo já estava cansado, o rosto castigados pelo tempo, suas mãos já não eram macias e bonitas; elas já estavam enrugadas, e com as velhas veias verdes afloradas. Mas seu olhar nunca mudara. Aqueles olhos ainda guardavam a essência da Lívia de 50 anos atrás.

Carlos sentou do lado dela e segurou sua mão dizendo:

- Mandou me chamar minha querida amiga?

- Sim Carlos, eu queria vê-lo antes de partir.

- Não diga isso, garota. Você ainda tem muito tempo de vida!

Lívia deu um sorriso, olhou nos olho de Carlos e disse:

- Carlos, há muito tempo que eu não sou mais uma garota, já não sou mais aquela Lívia de 15 anos, nem aquela de 20, nem a de 40... Os anos se passaram, estou velha.

- É verdade, nem eu sou mais aquele Carlos de antigamente, que ia com você para as festas, que ia com você ao cinema, que foi seu padrinho da casamento...

Ao dizer essa última palavra Carlos abaixou a cabeça e hesitou em falar tudo o que sentia por Lívia.

- Carlos, eu tenho que te falar uma coisa, algo que eu guardei durante toda a minha vida.

Ele levantou a cabeça e fitou os olhos de Lívia.

- Eu não estou com muita coragem, mas não quero morrer com esse fardo, não quero levar esse peso junto comigo.

- Então diga...

- O que eu quero te falar é que eu te amo, que sempre te amei e sempre vou te amar.

Carlos sentiu seu coração bater mais forte, sua testa suava e suas mãos apertaram as mãos dela com mais força.

Parecia que os dois haviam voltado ao passado e ele era aquele Carlos jovem e bonito, aquele rapaz que deseja apenas ser amado.

Ele segurou as mãos dela com suavidade e disse tudo o que guardara durante mais de 50 anos:

- Lívia eu também tenho que te falar que eu sempre te amei, mas nunca tive coragem de te falar.

Os dois se abraçaram. Não era aquele abraço de amigos que os dois sempre davam ao se encontrar. Aquele era um abraço apaixonado. Por pelo menos um minuto um foi do outro, os dois se pertenceram.

Naquela junção de dois corpos, Lívia entregou- se à morte e partiu para a outra vida nos braços de seu eterno amado.

No dia do enterro dela, Carlos levou aquela fotos dos dois que ele guardava há anos e colocou-a entre os dedos frios de Lívia. Ela levou junto de si aquela foto, cuja imagem imortalizava a figura de dois jovens apaixonados que para manterem a amizade, renunciaram ao amor.

Depois daquele dia, Carlos retirou- se para a uma fazenda que possuía no interior.

Lá, ele passava o dia inteiro escrevendo cartas e poemas em homenagem á sua eterna musa. Esperava com ansiedade o dia em que o anjo da morte viria buscá- lo e levá-lo ao encontro de sua amada.

A morte visitou- o numa impiedosa noite de inverno. Apesar de não Ter terminado algumas poesias ele foi sem levar nenhum ressentimento deste mundo.

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Igor P Gonçalves
Enviado por Igor P Gonçalves em 16/01/2010
Reeditado em 12/01/2014
Código do texto: T2033546
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