O Outro Menino [Conto Yaoi]

Aviso: Este é um conto YAOI (como os japoneses chamam relacionamentos homossexuais entre meninos), mas aviso logo que não é nenhum conto erótico, nem pornô! É o 1º conto que fiz com essa temática, focando mais no romance e nos conflitos internos dos personagens. O texto não é preconceituoso, nem ofensivo.

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O Outro Menino

(Parte 1)

Eram sete horas da manhã e os primeiros raios de sol nasciam por trás das montanhas, refletidos na vidraça da antiga janela de madeira. Em seu quarto, Kawabe terminava de empacotar os últimos pertences e lacrava as grandes caixas de papelão, organizadas pelo chão do quarto, que agora estava vazio. Ele segurou um porta retratos com a foto de uma mulher atraente, de cabelos loiro acobreados e um sorriso cativante. Então guardou com cuidado entre a pilha de roupas em uma das caixas. A porta se abriu e alguém pôs a mão em seu ombro.

- Já está pronto, Kaw? – perguntou seu irmão, Taylor.

Taylor era quatro anos mais velho que ele, e quase não se parecia com o irmão. Era mais alto, tinha cabelos claros e olhos castanho vivo. Kawabe era menor, tinha cabelos e olhos escuros e uma aparência infantil. Havia uma semana que tinha feito quinze anos de idade.

O irmão menor fez que sim com a cabeça e juntos saíram do quarto, seguindo para o carro estacionado na calçada em frente a casa no subúrbio.

Taylor sentou no banco do motorista, enquanto Kawabe se ajeitava com várias caixas no banco de trás.

- Tenho certeza de que fará amigos legais. Você vai gostar, é um lugar melhor. Vai esquecer... O que aconteceu...– ele olhou para a casa com um pesar e com um ronco de motor o carro partiu, deixando para trás apenas poeira e fumaça na manhã nublada.

Eram oito horas da manhã e Kawabe andava por um corredor, cheio de outros jovens, mais ou menos da sua mesma idade. O falatório aos poucos ia se dissipando e os alunos entrando nas salas de aula. Parado num canto, Kawabe observou um garoto mais alto que ele, de cabelos pretos e um rosto que ele achou ser estranho, porém bonito. Ele olhou para Kawabe de relance e o garoto sentiu seu estômago gelar. Então, o pequeno seguiu depressa até a última porta do corredor e entrou na sua nova sala de aula. Não era muito diferente da sua antiga escola. Ele se apossou da mesma carteira que costumava sentar. Ao seu lado sentou uma menina, seguida por duas amigas e na sua frente, um garoto de óculos mais novo que ele.

A professora entrou e todos se calaram.

Eram seis horas da tarde e Kawabe estava sentado na carteira. A sala estava vazia. Ele havia pedido a professora para ficar e terminar de copiar o cronograma das aulas. Levou bastante tempo para anotar tudo no caderno e assim que terminou, se levantou e saiu sozinho pelo corredor que estava vazio. De repente, a porta à sua esquerda se abriu com um grande estalo e um grupo de alunos mais velhos saiu de outra classe.

- Nunca vi você por aqui, minitatura. – disse um deles examinando Kawabe.

- Er... eu sou novo... – disse Kawabe encabulado.

- Um novato é? – perguntou outro garoto

- Hmm... Interessante.

- Nessa escola temos regras para novatos como você.

- O que você... Desculpe, eu estou atrasado, tenho que ir pra casa. Até amanhã – mas antes que Kawabe saísse, foi agarrado pelo braço e jogado no chão.

- Quanto você tem aí, novato? – perguntou um dos garotos – Peguem a mochila dele.

Kawabe segurou a mochila com força, mas foi empurrado e a mochila tomada. Eles abriram sua mochila e sacudiram espalhando seus livros pelo chão.

- Esse cara não tem um tostão. – disse o maior, e chutou a mochila longe – Escuta novato. Pede grana pro papai e trás amanhã – e jogou uma pilha de livros no chão, ao lado de onde ele estava caído.

- Eu não vou trazer nada. – Kawabe se levantou e correu, mas foi arrastado por um dos garotos.

Ele foi jogado dentro de um armário e trancado. Estava escuro e entrava pouca luz pelas pequenas frestas na porta de ferro.

- Me tirem daqui! Socorro! – Kawabe gritava, mas sua voz não era alta o bastante. O corredor estava deserto e parecia que todos haviam saído da escola. – Socorro!!

Kawabe socou a porta do armário, mas se surpreendeu quando ela foi aberta e ele quase caiu de cabeça no chão, a sua sorte é que foi segurado por alguém. Levantou o rosto para ver, e viu que era um garoto do sétimo ano. O mesmo que tinha visto de manhã. Kawabe permaneceu parado, olhando com medo, e o garoto o colocou de pé no chão.

- Você tá legal? – perguntou o garoto com uma voz sombria.

- Sim... – respondeu Kawabe, ainda o olhando. – Valeu.

O rapaz se virou e caminhou pelo corredor.

- Tenha mais cuidado, moleque.

Pela primeira vez na vida, Kawabe não sentiu raiva ao ser tratado como pirralho. Pelo contrário, se sentiu protegido.

O garoto voltou carregando algo nas mãos e então entregou a Kawabe.

- Seus livros...

Kawabe segurou a mochila, sem tirar os olhos do garoto.

- O-obrigado... ?

- Aiky. – respondeu o garoto, sério, sem olhá-lo.

- Obrigado, Aiky. – e o pequeno estendeu a mão para cumprimentá-lo – Meu nome é Kawabe.

- Não foi nada. – Aiky abriu a porta ao lado e saiu do corredor, sem apertar a mão ou mesmo olhar para ele, este que permaneceu calado, visualizando a porta aberta, onde Aiky tinha acabado de passar.

- Aiky... – Kawabe repetiu seu nome num sussurro.

Por dentro ele sentia uma agonia estranha e confusa. Fechou os olhos e sacudiu a cabeça, saindo apressado para longe do local.

Cinco horas da madrugada.

A chuva castigava a estrada e a lataria dos carros estacionados na calçada.

O barulho da chuva incessante transpassava a vidraça encharcada, assim como o som dos trovões longínquos.

Escuridão.

Kawabe estava caindo. Não sentia o chão sob seus pés. Um forte frio na barriga. Estava caindo para a morte. Era o fim.

Claridade.

Calor.

O chão estava sólido e ele estava salvo.

Ele segurava sua mão... Aiky. Ele o salvara.

- Aiky...

Então um novo relâmpago e novamente a escuridão. Ele soltara sua mão. Ele ria.

Kawabe descia cada vez mais fundo, Aiky o olhava com desprezo e Kawabe pode ler em seus lábios lentamente: “Morte”

Escuridão.

- Nããããão!!!! – Kawabe pulou da cama de um salto.

Sua cabeça estava doendo. Suava bastante e seu coração parecia querer saltar pela boca. Estava chorando.

O pequeno quarto era iluminado pelos relâmpagos da tempestade. Kawabe acendeu o abajur na cômoda e viu o porta retrato. A mulher encantadora. Segurou-o nas mãos, as lágrimas pingando na pequena armação de vidro.

- Mãe... – sussurrou, enxugando os olhos.

Estava morta.

Estava sozinho.

Nunca mais a veria. Nunca mais...

Ela morreu há dois anos. Seu pai, nunca o conheceu. Nunca quis saber dele, nem da mãe e nem do irmão, Taylor.

Taylor...

Era quem cuidava dele. Era o único que se importava com ele. Mas nunca o dissera isso. Nunca foi grato ao irmão.

“- Será melhor sair daqui... Essas lembranças não farão bem a você. E nem a mim.

- Eu não quero sair daqui! – gritou Kawabe – Eu não quero ir a lugar nenhum!

- Kaw... Eu ganhei uma bolsa na universidade e preciso... Ah, você não entende.

- Eu entendo sim! Ela está morta! E eu estou sozinho agora! – gritou Kawabe, jogando os enfeites da mesa no chão para se partirem em mil pedaços, com um estardalhaço. – Eu não quero, Taylor... – e saiu, escondendo o rosto molhado.”

Glaucio Viana
Enviado por Glaucio Viana em 16/01/2010
Reeditado em 30/01/2010
Código do texto: T2032191
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