O andarilho que não morreu pelas mãos da morte.

Era natural, talvez perante uma fria tarde, os viajantes caminharem até a exaustão e quando a noite caísse, o fogo ser aceso e a música ressonar dedilhada pelos acordes do bandoleiro bardo do grupo.

Na vida de Trajano, o guerreiro exagerado em força e extremamente possuidor de sorte (assim como qualquer guerreiro de qualquer conto), era muito comum se deparar com criaturas horríveis e extremamente perigosas pelo caminho.

Porém, nenhum bicho de sete cabeças, ou nem mesmo um trasgo fedendo a repolho velho e mal cozido sequer superava o maior desafio, talvez o único, que houvesse feito o herói tremer dos pés até a ponta do ultimo fio de cabelo mais longo: A mulher que “arrancara-lhe a cabeça” e o deixara loucamente apaixonado.

Há alguns meses atrás, ao saírem de um reino monótono, pouco povoado, sendo que as únicas pessoas que restavam pela cidade eram menos belas (feias).

Trajano e seus dois amigos, Thor, o arqueiro e Franco, o bardo, seguiram para um reino próximo. Não estavam em busca do ouro que proporcionava a aventura, mas sim da aventura que proporcionava ouro.

O primeiro encontro de Trajano com o “monstro” havia acontecido no castelo do rei, com as festas de boas vindas. Em meio a multidão que passava ele a enxergou e se apaixonou, não pela princesa (que estava sentada no seu trono entediada,olhando a festa fazendo cara de sapo, reparando que o herói nem olhava para ela), mas pela dançarina tatuada com um dragão nas costas e adornada de uma roupa cheia de badulaques.

Horas depois da festa, eles se encontraram bem atrás da muralha do castelo, Trajano e o monstro.

Na opinião dele, o “monstro” ao contrario dos outros, era belo, exalava um cheiro doce de lavanda e suas “armas letais” eram os olhos tocantes, os lábios carnudos e as mãos macias que pudera jurar ele, por experiência própria, eram “armas” que fariam um homem entrar em estado de devaneio e logo depois “perder completamente o pescoço”.

Mais dois dias pelo reino e o monstro dava-lhe frutas na boca e também ósculos de açúcar.

Quando chega então a noite de partida, com todas as missões ao rei cumpridas, o herói implorou que o “monstro” lhe acompanhasse perante as colinas e soubesse Deus, por toda vida. Todavia, o “monstro” se recusou a partir dizendo que seu reino era a coisa mais importante de sua vida e que nenhum “filho de adão” poderia retirá-la dali.

O homem se abateu e caiu em tristeza profunda. Aquela mulher insana, chamada por ele de monstro havia dado seu golpe final (que por acaso era não mais usar as suas “armas letais”).

Portanto, naquela noite, onde o fogo havia sido aceso e a musica dedilhada em canções nórdicas românticas, ao acordarem, o bardo e o arqueiro, pelo cheiro e o silencio da morte, se depararam com a imagem do companheiro enforcado, o herói que vencerá enormes e poderosos monstros, mas não vencera um: O amor.

“Mais vale o poder da luxuria de uma dançarina exótica e até mesmo o interior poderoso de uma mulher, do que as garras mais afiadas do dragão mais irritado da face da Terra”.