QUANDO VOCÊ FOI EMBORA

Nada naquele dia parecia fazer muito sentido. Ele chegou, sentou-se no sofá e não disse uma única palavra. Estava sério e frio.

Aquelas atitudes me assustaram e o silêncio dele me calava.

Sentei de frente para ele e fiquei observando-o.

A luz que entrava pela janela iluminava aquela face perfeita, senti-me num paraíso.

Ele ia abrir a boca, estava ensaiando pra dizer alguma coisa, mas se calou novamente.

Olhou ao redor e ficou a observar nossa foto na parede.

- Eu não te amo mais. Ele disse.

E se calou novamente.

Eu estava confusa, comecei a rir acreditando ser uma brincadeira, mas ele não estava brincando. Senti o chão me faltar e respirar parecia impossível. Minha cabeça rodava rápido e só conseguia ver lembranças de um passado feliz.

Eu tentava ser forte mas doía demais. Uma dor intensa e profunda que não me permitia falar ou agir, mas chorar.

Ainda sentado, ele assistia as cenas do meu sofrimento enquanto proferia friamente que eu ficaria bem.

Confesso que naquele momento a morte parecia a melhor opção, a melhor opção para uma tristeza eterna. Mas uni forças e me dirigi até o quarto. Deitei naquela cama onde tantos carinhos foram compartilhados, aqueles lençóis ainda tinham seu cheiro.

Fechei os olhos e tentei me concentrar em qualquer outra coisa, na minha infância, nos meus amigos, mas ele estava em toda a parte. Era o seu rosto que eu via ao abrir e fechar os olhos, era o seu cheiro que eu sentia quando respirava, ele me tirou as lembranças e a vida. De repente ouço a porta bater, era ele indo embora.

Eu gritava alto, mas aquele sentimento não passava. Era como se tirassem uma parta de mim. Encolhida na cama, eu percebi que havia perdido a razão de estar viva. Já que tudo o que fazia ou dizia era pensando nele, era pra fazer ele feliz, até esquecer completamente que devia me agradar também.

Ele já havia dito que deixara de me amar diversas vezes antes, não com palavras mas com atitudes. Quando não me atendia, quando não me ligava, quando parou de estar presente em meus aniversários e datas comemorativas em geral, quando me deixava esperando por horas, quando parou de me dar carinho, quando parou de se importar com o que eu tinha a dizer, quando começou a mentir e esconder coisas que mais tarde me machucariam quando descobertas.

Eu me ceguei. Fechei os olhos para todos esses momentos, mascarei cada mentira, acreditei em cada verdade mal contada, deixei de ouvir meus amigos e família e não me importava com as noites que passava em claro pensando nisso.

Lembrando de todos os momentos que passamos juntos eu simplesmente não consigo entender o que deu errado, talvez eu tenha começado a errar quando fiz a escolha de namorá-lo. Agora toda a culpa está sob os meu ombros.

Tudo poderia ter sido diferente se eu não me precipitasse, se eu tivesse pensado melhor, se eu percebesse que nunca poderia consertar um defeito de personalidade o qual ele carregava durante anos. Ele tinha manias, vícios, problemas e tudo aquilo era muito diferente do que eu sonhava em ter pra mim, mas ainda assim eu insisti. Toda aquela auto-confiança que ele possuía, me dominou, de modo que eu não conseguia simplesmente dar as costas e esquecer.

Ao passar dos meses eu já estava tão viciada naquele perfume doce, naquele estilo próprio e naqueles cabelos lisos que fiquei com um enorme medo de perdê-lo.

Talvez esse medo tenha me levado a aceitar todos os seus erros, todas as suas falhas, todas as coisas que me machucavam e me tornavam cada vez mais insegura.

Por inúmeras vezes eu tentei conversar, tentei fazê-lo entender o que eu sentia, mas ele sempre arranjava um jeito de mudar de assunto. Me abraçava forte e dizia que estava tudo bem, que me amava, que toda aquela conversa era inútil. É claro que eu não insistiria em um papo que o entediava, mas eu queria falar sobre os meus sentimentos, era importante para mim que ele se importasse e ouvisse o que eu tinha a dizer, aquilo não era inútil para mim.

Ultimamente parecia que tudo o que acontecia com a gente era pequeno demais para ele e tudo o que eu fazia o deixava extremamente irritado. Quando ele errava, não me pedia desculpas nem se arrependia, ainda achava um exagero da minha parte reclamar por algo tão bobo. Mas as coisas bobas para ele me deixava triste, me tirava o sono, mas ele tinha problemas demais para se importar comigo, eu era um nada para ele.

Por mais ridículo e injusto que pareça, ainda acho que a culpa por ele ter me deixado é inteiramente minha.

Talvez tenha sido o meu ciúme, a minha insegurança, a cor do meu cabelo ou simplesmente deixei de ser interessante para ele.

Como a vida é irônica. E pensar que perdi tanto tempo pensando em maneiras de ser surpreendente para ele mas todo o meu empenho me levou a perda.

Sei que com o tempo tudo vai se ajeitar, eu vou seguir com a minha vida e ele será apenas uma lembrança ruim que me fez feliz enquanto eu me iludia.

Eu aprendi da pior forma que o difícil não é amar, mas ser correspondida.

O que me conforta é saber que esse fim foi só um começo.

Fernanda Cheschini
Enviado por Fernanda Cheschini em 11/01/2010
Código do texto: T2024170
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