Feridas do Tempo
Nina estava saindo do colégio com suas amigas, quando viu Feliphe parado no portão, esperando Camila, sua namorada. A pequena adolescente começou a suar frio. Fazia tanto tempo que não o via, esperava um sorriso, um "Olá" carinhoso, mas não foi isto que Nina encontrou:
Ao passar pelo amigo, que falava ao celular, só o que notou foi um olhar frio direcionado a ela em resposta ao doce e tímido “Oi” que falara.
Depois de um longo abraço de consolo dado por sua amiga Lílian, Nina foi para casa, triste e desapontada, sofrendo com o que acabara de acontecer.
Trancada no quarto, escutando música, Nina ouviu o telefone tocar, porém não se levantou para atender.
- Nina, telefone pra você! - Sua mãe gritou da sala.
- Quem é? - Nina respondeu, sem ao menos se levantar da cama.
- Um amigo seu, Leandro.
Ao ouvir as palavras da mãe, Nina levantou espantada, abaixando o volume do rádio, e atendeu na extensão de seu quarto:
- Léo?
- Oi Nina, tudo bem?
- Tudo, e você? - Sua voz desanimada deixava claro seu estado de espírito.
- Não parece estar muito bem, sua voz parece triste...
- Como pode saber? Faz tanto tempo que não nos falamos!
- Eu ainda conheço bem você senhorita Nina, afinal, um ano não e tanto tempo assim, não é mesmo?
- Não sei... - Cortava o assunto, apesar de estar feliz em voltar a falar com o amigo, não sentia vontade de conversar.
- O que você tem pequena?
- Não tenho nada, estou bem... - Uma pausa, silêncio por alguns segundos. - Léo, se eu te encontrasse hoje na rua, você estaria diferente?
- Como assim?
- Você agiria diferente, você teria mudado?
- Não Nina, por que você está perguntando isso?
- Porque o tempo muda as pessoas! - Dizendo isso, começou, novamente a chorar.
- Não entendo, eu mudei com você e não percebi, foi isso?
- Não, não você... Mas é que às vezes o tempo muda completamente as pessoas, amizades... - Sua voz soava cada vez mais triste.
- Mas eu não mudaria com você, e acho que somente pessoas sem personalidade alguma mudariam assim sem motivo.
- É, talvez...
Notando a tristeza e a dúvida na voz de sua querida amiga, que há tanto tempo não via, Leandro teve uma idéia:
- Posso te provar que não mudei!
- Como?
- Espera e você vai ver!
Depois de uma longa e diversificada conversa, os amigos se despediram e desligaram o telefone.
No dia seguinte, Nina teve outra surpresa ao sair do colégio: Havia um garoto parado no portão, olhando para dentro, esperando ansioso uma menina sair, e esta menina era ela. Com um abraço apertado e lágrimas de emoção nos olhos, Nina e Leandro se cumprimentaram.
- Eu não disse que ainda era o mesmo?! - Disse sorrindo.
Nina respondeu com um sorriso, e antes que pudesse dizer algo, Leandro completou:
- Que tal um passeio no parque esse fim de semana?
- Não sei...- Nina pensava em quanto aquele parque poderia se tornar romântico em um piscar de olhos, e a última coisa que ela queria naquele momento era se apaixonar.
- Só quero poder te provar que eu mudei! Pode chamar suas amigas, eu chamo meus amigos... A gente pode jogar vôlei, fazer piquenique... O que você acha? - Disse sorridente.
- Não sei, tenho que...
- Oi Nina, tudo bem? - Com um sorriso no rosto, completamente contrário ao dia anterior, Feliphe cumprimentava a amiga com um beijo na face.
- Você pode chamar seu amigo! - Você joga vôlei?
- Jogo, por quê?
- Eu e a Nina estávamos combinando de ir ao Parque da Cidade jogar neste sábado...
- Sábado não posso, tenho curso! - Exclamou Nina, revoltada pela atitude do amigo.
- Ta bom... No domingo e não se fala mais nisso! E você vai? - Perguntou para Feliphe.
- Posso levar minha namorada? - Olhava fixamente para Nina, como se precisasse de autorização para qualquer passo.
- Claro que pode! - Respondeu Leandro. - Vou levar uns amigos, e quanto mais gente melhor, não é mesmo Nina?
- É sim Léo, é... - Nina respondeu, sem nem mesmo saber com o que concordava.
- Então está combinado! Chamem seus amigos e a gente se encontra aqui mesmo, no sábado as... - nina o olhou de lado, com uma cara que até assustaria e ele se desculpou - Ok, no domingo as 9:30 da manhã aqui em frente ao colégio.
Se despediram e voltaram cada um para sua vida normal.
No domingo, Leandro foi o primeiro a chegar ao local combinado, com seu irmão Lucas e seus amigos Fernando, Evandro, Maurício e Pedro, logo em seguida saíram do condomínio em frente, Nina e sua amiga Tatiana, Lílian e Michelle chegaram em seguida, e logo depois Feliphe com sua namorada Camila e seu irmão Marcelo.
Os amigos pegaram o ônibus e logo chegaram ao seu destino. O parque estava lindo como sempre e tudo transpirava romance. Acharam um bom lugar e começaram a jogar vôlei.
Apesar de toda a forma carinhosa que Leandro a tratava, Nina não conseguiu tirar os olhos do casal Camila e Feliphe, que faziam questão de se agarrarem a cada minuto.
Depois de um tempo jogando, resolveram parar para comer alguma coisa, e Nina, não se sentindo bem com toda aquela situação, já que Feliphe era seu ex-namorado e o que sentira por ele ainda era muito mais forte do que uma simples paixonite ou coisa parecida, percebeu a distração dos amigos e saiu andando pelo parque sozinha, derrubando algumas lágrimas e tentando esclarecer algumas idéias confusas em sua mente.
- Gente, cadê a Nina? - O primeiro a notar foi o próprio Feliphe, para a revolta da ciumenta Camila.
- Não sei, ela não tinha ido comprar alguma coisa? - Respondeu Lílian.
- Estranho, ela não sairia sem falar nada! Fiquem aqui, eu vou ver se acho ela. - Disse Leandro, tentando tomar conta da situação. Saindo em seguida correndo pelo parque, tentando ligar para o celular de Nina, que estava desligado.
Logo em seguida, com uma desculpa absurda de procurar um banheiro, Feliphe saiu sozinho e apressado, para não correr o risco de que alguém quisesse o acompanhar.
Leandro procurava por Nina e Feliphe o seguia, cuidando para não ser visto. Até que Leandro encontrou, encostada em uma árvore, sua amiga, de cabeça baixa, sentada e chorando.
- Nina, o que houve? - Perguntou, sentando ao lado de sua amiga.
- Nada, nada... - Nina limpou as lágrimas, como se adiantasse.
- Não mente pra mim! Vai, diz, o que foi?
- Por favor, não quero falar agora...
- Então vem comigo! - Sem esperar resposta, Leandro levantou, puxando Nina com ele, e saíram de mãos dadas, correndo pelo parque, e Feliphe escondido, seguindo-os.
Correndo e fazendo graça para alegrar a amiga, Leandro fazia cócegas em Nina, que já começava a sorrir. Em meio a tantas brincadeiras, acabaram caindo na grama, sorrindo e falando alto. De repente, se entreolharam, e quando puderam perceber já estavam envolvidos em um longo e doce beijo.
Ao longe, Feliphe via aquela cena, e sem entender o motivo, derramava algumas lágrimas...
Teria ele se arrependido por não ser ele ali, no lugar de Leandro? Ou somente sentia medo de perder a amiga?