Hoje é o dia!...

Acordou um pouco mais cedo do que de costume, e com todo cuidado dirigiu-se para o outro quarto e lá ficou olhando sua criança que dormia e vez por outra meio que sorria...

Hoje era o dia...pela primeira vez ele ficaria algumas horas com pessoas que não conhecia e sem comunicação com ela...

Embora trabalhasse fora, seu menino ficava na casa de seus pais, e ela sabia noticias a toda hora. Quando ele começou a falar - aos 11 meses - o telefone passou a ser a testemunha desse amor ... Agora, ali parada, olhando para sua cria lembrava a emoção da primeira vez que ouviu no telefone sua voz e, o quanto chorou quando seu pai descreveu a perplexidade risonha dele em reconhecer a sua voz... Depois, durante o período de trabalho dela, nenhum dos dois ficava longe de um aparelho...

É, hoje será um dia difícil, pensou... Acordou-o e ele, pulou da cama alegre, feliz e juntos partiram para os preparativos para sair.

Ela, com muito medo da reação dele, continuou a conversa que já se estendia por mais de uma semana - a ESCOLA!... Ele parecia ouvir atentamente, mas não fazia nenhuma pergunta, o máximo que dizia, às vezes, era: você vai me levar ou é o papai? Seu coração quase saltava da boca, ele não vai gostar... não vai querer ficar... pensava apavorada.

Profissionalmente tudo estava correto, a hora era esta -dois anos e meio-, a preparação era importantíssima - e ela esmerou-se -, sua presença neste momento era vital - e ela cancelou todos os compromissos de trabalho -. Mas a insegurança continuava a deixá-la aturdida...e se der tudo errado?

Preferiu ir a pé para ficar mais um pouquinho com ele e foram caminhando, conversando, rindo, brincando... Chegaram... e como ele muitas crianças ... vendo o número de crianças ela teve vontade de levar seu filho embora...será que a professora saberia quando ele tivesse sede, fome, vontade de ir ao banheiro... ele era bem independente, mas sei lá...pensou ela. Nesse momento veio até eles uma moça bem jovem e após cumprimentá-la, dirigiu-se direto a sua criança, com quem entabulou uma conversa e ele sem qualquer problema deu a mão à moça e sem se virar, acompanhou-a.

Ela ficou ali, sozinha, dando adeus para ninguém... toda suada... com os olhos cheios de lágrimas...pensando...ele não se despediu de mim...

(Maria Emilia Xavier)