LEMBRANÇAS DE UM GRANDE AMOR

-- Quer casar comigo?

Foi essa a única pergunta que ele fez. Eu deveria ter simplesmente respondido sim ou não, mas preferi repetir todo aquele discurso novamente (De que vamos viver? Onde vamos morar?...). Joaquim tentou dizer tudo o que pode para me impedir de partir, falou de todo o nosso amor, de todos os sonhos que desejava realizar ao meu lado, apelou até para nossos futuros filhos, mas nem todos os seus argumentos foram capazes de me convencer, pois se tratava de uma viagem muito importante para meu futuro, eu havia ganhado uma bolsa de mestrado na faculdade de Santa Cruz, o curso duraria dois anos, mas ele não se conformou, pois desde o principio percebeu que este tempo custaria caro para nós, naquela época não percebi isto.

No momento em que eu repetia mais uma vez que era melhor esperarmos, o ônibus, que me levaria para longe dele se aproximava. No mesmo compasso em que a buzina soava, avisando-me que era hora de disser adeus, eu sentia um aperto forte no peito e uma vontade louca de abraçá-lo e ficar para sempre ao seu lado, mas eu tinha que partir. Olhei fundo nos olhos de Joaquim e falei: -- me espera!

Entrei no ônibus e pela janela eu via o seu rosto lindo e aquele sorriso que era só meu, embora naquela ocasião ele estivesse tão triste, tão magoado. Com lágrimas o deixei.

Durante toda a viagem não parei de pensar nele. Ao chegar à rodoviária de Santa Cruz tia Penélope me recebera com seu melhor sorriso e foi logo tratando de me acomodar em sua casa. No dia seguinte fui conhecer a faculdade, fiquei mais animada ainda, a escola era muito bem estruturada, um sonho para todo pesquisador. Após o primeiro dia de aula, ganhei mais forças para suportar a saudade, pois valeria a pena. Os projetos, cobrados pelos professores eram trabalhosos, por isso passávamos a semana na escola, só nos fins de semana retornava para a casa da tia Penélope.

Passaram-se mais de um ano e durante esse tempo todos os fins de semana eu o escrevia, contava todas as novidades e tudo o que acontecia na faculdade durante a semana. Ele não escrevia muito, apenas dizia que estava com saudades e pedia que eu voltasse logo. Quando faltava apenas uma semana para finalmente vê-lo de novo, escrevi a mais linda carta de amor.

O dia mais esperado da minha vida havia chegado, lá estava eu descendo do ônibus, olhei para um lado e outro, mas não o vi. Avistei apenas minha prima Ana que veio me receber com um abraço forte, quando perguntei por que Joaquim não estava ali ela começou a chorar, pois ele havia morrido há duas semanas, naquele momento meu mundo desabou, fiquei totalmente descontrolada sem saber o que fazer. Tudo naquela pequena cidade me trazia lembranças dele, lembranças do passado e também do amor que a vida nos impediu de viver. Comecei a sentir muito remorso por não esta ao lado dele, por não ter lhe dado forças quando mais precisou, então decidi voltar para Santa Cruz, mais uma vez titia foi logo tratando de me acomodar em sua casa, todos ficaram comovidos com meu desespero. Passaram-se três meses e eu aos poucos fui retomando minha vida normal.

Um dia fui até a portaria do prédio pegar as correspondências, como fazia sempre, e descobri que um rapaz tinha lido uma delas por engano. Peguei a carta da mão do rapaz e li, era a carta que eu tinha mandado para Joaquim declarando todo meu amor, nela finalmente eu dizia sim para o pedido de casamento, eu dizia sim para todos os nossos sonhos, mas era tarde demais, ele não pôde esperar, só hoje entendo porque ele tinha tanta presa para viver comigo.

Após um ano da morte dele eu ainda estava em Santa Cruz, não mais na casa de titia, eu já estava trabalho e morando na minha própria casa. Tinha conseguido tudo o que eu queria, mas não me sentia feliz, pois ele não estava comigo. Liguei o rádio enquanto dirigia no transito, assustei ao ouvir a musica que tocava, era a minha carta de amor. Fiquei chateada, mas depois percebi que seria uma linda homenagem ao nosso amor.

Kayre Carvalho
Enviado por Kayre Carvalho em 29/12/2009
Reeditado em 29/12/2009
Código do texto: T2001460
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