Ato número 3

Ela ficou em pé mas não sentiu seus pés tocarem o chão de pedra. Citou para si Shakespeare e voltou para a cama. Parecia brilhante se esconder atrás de um gênio antes de conseguir se levantar e enfrentar o mau humor que a atingiria depois que o chão voltasse a esfriar seus pés descalços naquela manhã de segunda-feira. Fez um pequeno esforço, lutando contra o frio que fazia, mas não conseguiu se levantar... Apenas virou para o lado e cobriu seu rosto, numa tentativa de trazer a noite de volta.

Estava então de noite, conseguia sentir o cheiro da água. Logo ela que nunca gostou de chuva... Mas já não se importava mais. O sereno que caía parecia agradável como qualquer outra coisa que marcasse aquele lugar (logo ela que nunca gostou de lá...).

A idéia da felicidade parecia algo insustentável quando se parava para analisar as histórias dos dois caminhos percorridos. Se ela então fosse seguir a razão, o sereno da noite viraria uma tempestade... Mas naquele instante parou de chover.

Tirou a coberta de seus olhos e olhou pra frente. Sentou-se na cama, e recitou Shakespeare bem baixinho.

"E nem espanta o olhar errar de susto

Se sem céu claro nem o sol enxerga.

Esperto amor, com pranto a me cegar

Pra cobrir erros quando o amor olhar."

Levantou-se e o sorriso apareceu em seu rosto. Sentia o chão e ele nunca pareceu tão convidativo quanto naquela manhã. Podia vir Shakespeare com todo o lirismo do mundo falando o contrário, mas o frio subindo pelos pés provava que a felicidade não é apenas um sonho.