UM BEM QUERER PARA SEMPRE

Rasalina se casou. Foi morar em uma casa de esquina. Era grande, quatro quartos, sala, copa, cozinha, banheiro e um alpendre. Sua casa era azul com janelas altas e brancas.

À tarde Rosalina sentava um pouco no alpendre e ficava a observar o movimento.

Um dia ela avistou uma senhora alta, esguia, cabelos brancos, grandes, trançados e enrolados a cima da cabeça, onde apoiava um enorme feixe de lenha. Vestia um vestido de manga comprida, discreto e uma chinela que arrastava ao andar. Seus passos eram tranqüilos. Ela tinha aproximadamente 75 anos.

A mulher parou em frente uma pequenina casa. Desceu o feixe, abriu a porta, pegou-o cuidadosamente e entrou. Ela morava na terceira casa a frente e do mesmo lado da casa de Rosalina.

A senhora do feixe de lenha sentava sempre na porta de cócoras no chão. Como o vestido era comprido dava para cobrir as pernas que ficavam juntinhas pressionadas por seus membros superiores.

Rosalina já conhecia quase toda vizinhança. Procurou saber quem era aquela senhora. Descobriu que seu nome era Maria, não tinha se casado e morava sozinha.

Em uma tarde Rosalina resolveu fazer uma visita a ela. Bateu palmas. Dona Maria convidou-a para entrar.

Era uma cazinha de dois cômodos, de chão batido. Na sala tinha caixotes forrados com forrinhos surrados mais bem cuidados onde ficavam imagens de santinhos. Em um dos cantos muita lenha. Passamos por uma abertura e no mesmo espaço era cozinha e quarto. Tinha um pequeno fogão de barro limpinho com uma vassourinha de capim de lado. Duas panelas de ferro na chapa, algumas vasilhas dependuradas. No canto um estrado que estava arrumado com se já fosse hora de dormir. Uma mala de madeira nos pés (talvez ali estivessem as suas coisas mais preciosas).

Conversaram sobre várias coisas. No final dona Maria disse: É Rosalina, eu agora não vou ficar mais com medo. Não entendendo perguntou, por quê? Agora quando céu ficar escuro, trovejando ou relampejando, sabe para onde vou? Para a sua casa. Rosalina se encheu de compaixão e se dispôs a acolhê-la.

A partir desse dia a qualquer sinal de chuva, ela ia chegando e gritando: Oh! Rosalina, tô chegano. Trazia dependurado nos braços uma blusa de frio e um guarda chuva enorme fechado.

Rosalina ganhou uma linda menina.

Três meses depois, em uma tarde de sábado dona Maria chegou pegou uma cadeira e se sentou. Rosalina estava tirando a primeira fornada de rosquinha. Sua filha começou a chorar. Dona Maria se ofereceu para pega-la. Ao ver que a filha estava em seus braços, continuou a fazer a quitanda. Algum tempo depois ao colocar o tabuleiro no forno olhou para sua filha. Que susto! Dona Maria dormia com a pequenina nos braços. Ela cuidadosamente pegou a menina e levou para o berço. Ao acordar soube do ocorrido. O tempo foi passando e sempre se lembrava dizendo: Ê Rosalina e aquele dia que eu dormi com sua filha nos braços e quase deixei sua filha cair, lembra? Ela dava risadinhas e colocava as mãos nas faces.

O marido de Rosalina comprou uma casa em outro bairro. As duas de certa forma ficaram tristes, pois iam ficar longe uma da outra. Mesmo assim a qualquer sinal de chuva, lá vinha dona Maria com sua blusa de frio e seu guarda chuva dependurados nos braços.

Algum tempo depois ela ficou doente. Como não tinha quem cuidasse dela foi levada para a vila vicentina da cidade vizinha.

Rosalina foi procurá-la. Chegou a sua casa, começou a conversar. Infelizmente observou que sua amiga estava distante. Talvez nem se lembrasse dela mais. Voltou triste para sua casa. Em suas orações nunca se esquecia dela.

Um dia, chegou a notícia de seu falecimento. Rosalina não se cabia de tanta tristeza.

Ela guarda um bem querer para sempre daquela senhora que passou pela sua vida, deixou doces recordações e uma imensa saudade.

Izabel Teodoro

Izabel Teodoro
Enviado por Izabel Teodoro em 24/12/2009
Reeditado em 11/01/2010
Código do texto: T1993686