SOLIDÃO (2)
(........continuação)
O carro deslizava velozmente pelo asfalto, estrada tranqüila, pouco movimento e o homem ao volante passava os olhos pela paisagem que deixava para traz. A estrada seguia, curvas suaves, velocidade tranqüila, ar condicionado ligado, conforto e o prazer de dirigir assim. Olhar então fixo na estrada e o pensamento vagando. Final de tarde, o sol já querendo se esconder por detrás das serras distantes e uma paisagem de fazer inveja aos bons olhos. Mais um final de semana passando, acabando e este seria para lembrar para sempre. E as lembranças não eram boas.
Realmente não seriam. Tanto temeu o desfecho que acabou ocorrendo. Enquanto o sol baixava ainda mais, a estrada seguia, as curvas se aproximavam e ficavam para traz, remoia os pensamentos e as lembranças recentes, de há pouco. Sentia um aperto, uma tristeza misturada há um pouco de raiva. Tudo estava tão bem, haviam passado um final de semana fantástico, tudo dentro do que mereciam e no final, quase no final ela resolveu por cartas inadequadas na mesa. E da forma mais errada. Ela sabia o quanto a amava, o quanto a queria, o quanto lhe representava. Haviam conversado inúmeras vezes sobre isso e sempre havia muita clareza em suas conversas.
Mas doía lembrar e saber que não a teria mais. Seu riso lindo, sua boca bem feita lhe vinha à mente, via-a no para brisa, bem ali. Seu corpo esguio, seios bem feitos, os cabelos do jeito que lhe agradava e a boca........ Sentia nitidamente o gosto daquela boca. Teve a nítida impressão, a sensação do seu corpo encostado no seu peito, como gostava de fazer. É, não seria fácil passar toda a semana, sem contar com a certeza de vê-la, de tê-la na sexta à noite. Imaginava o vazio da segunda-feira, segurando os impulsos para lhe ligar, ouvir sua voz doce dizendo que já estava com saudade e lhe dizendo que o amava..
O sol então se escondeu de vez, sombra tomando conta do vale cortado pela estrada e seu automóvel vagando no asfalto. A serra se aproximava. A noite ia chegando velozmente. Carros que vinham em sentido contrário já passavam de faróis acesos. Acendeu também o seu. No gesto, olhou o celular jogado no banco ao lado. Uma vontade louca de ligar. De dizer que era uma bobagem a decisão que tinham tomado. Pedir que reconsiderasse. Ligou o CD, com certeza a música o envolveria e os pensamentos que bolinavam a dor que se fazia seriam tomados, esquecidos.
Impossível não lembrá-la. Impossível esquecer todos os momentos, o seu corpo, o corpo gostoso que tanto prazer lhe permitiu. Impossível superar as lembranças desde quanto a havia conhecido, naquele jantar chato de encontro de negócio e lá estava ela, linda, elegante, formal, já deixando transparecer a mulher doce e feminina por detrás do jeito altivo de se por. E quando a olhou, quando conseguiu encontrar seus olhos, fixar sua boca linda, exatamente naquele instante, no sorriso que obteve de volta, que lhe desnudou da armadura da formalidade, bem ali, naquele instante, concluiu que havia encontrada a mulher dos seus sonhos.
Beijou-a na mesma noite. Amou-a na mesma noite. Na mesma noite se encantou, se apaixonou. Na mesma noite sentiu o prazer de fazer sexo com a mulher que procurava há tantos anos. Na mesma noite ela dormiu linda, cálida e meiga, no seu peito e como foi bom acordar no dia seguinte e vê-la ali, nua, inteira, linda e sua. Que sábado tiveram, esqueceram o mundo, os problemas, os compromissos e se entregaram ao prazer da companhia. E assim foi, assim era e assim achavam e queriam e planejavam seria para sempre.
As mãos no volante. Olhos na estrada já escura e o farol cortando o asfalto. A estrada já era mais curva, subidas fortes e barulho do motor se esforçando serra acima. Seria alguns kilômetros de subida, estrada ruim. Mas em uma hora chegaria em casa. Difícil seria chegar e se controlar para não ligar e lhe dizer que a amava, como fazia sempre. Difícil seria ir dormir sabendo que no dia seguinte não estaria misturando saudade e certeza de abraçá-la de novo, de ver seu riso solto e gostoso a lhe olhar daquele jeito. Afastava os pensamentos e se concentrava na estrada.
O telefone tocou. O coração acelerou o batimento. Era ela, teria que ser. Seria reticente...... Ou seria receptivo? Pegou o telefone, ensaiou um alô adequado e atendeu. Não era ela. Apenas um colega lembrando do compromisso de trabalho na manhã de segunda, confirmando se estava voltando e se estaria na reunião marcada. Confirmou que sim, que já estava na estrada e que estaria sim logo cedo para ainda repassarem o combinado para debater na reunião.
A curva se aproximando, o penhasco ao lado, a atenção no telefone, a velocidade, o farol contrário e a batida forte na proteção e perdeu o volante, perdeu o sentido da estrada, perdeu o sentido do que fazer e as coisas foram acontecendo, acontecendo.
O carro virando uma vez, mais uma a batida, barulho de vidros, estilhaços o ardume na perna, nas costas, o estrondo final e os sentidos se apagando...... Silêncio. Tentou levantar o corpo e o corpo não reagiu, nem a cabeça, nem os olhos obedeciam, não via mais nada, não ouvia nada, não sabia nada. O riso dela foi se esvaindo, ela ia se distanciando, mais longe, bem mais longe......subindo, vagando no espaço e sumiu. Sumiu.
(continua.......)
(........continuação)
O carro deslizava velozmente pelo asfalto, estrada tranqüila, pouco movimento e o homem ao volante passava os olhos pela paisagem que deixava para traz. A estrada seguia, curvas suaves, velocidade tranqüila, ar condicionado ligado, conforto e o prazer de dirigir assim. Olhar então fixo na estrada e o pensamento vagando. Final de tarde, o sol já querendo se esconder por detrás das serras distantes e uma paisagem de fazer inveja aos bons olhos. Mais um final de semana passando, acabando e este seria para lembrar para sempre. E as lembranças não eram boas.
Realmente não seriam. Tanto temeu o desfecho que acabou ocorrendo. Enquanto o sol baixava ainda mais, a estrada seguia, as curvas se aproximavam e ficavam para traz, remoia os pensamentos e as lembranças recentes, de há pouco. Sentia um aperto, uma tristeza misturada há um pouco de raiva. Tudo estava tão bem, haviam passado um final de semana fantástico, tudo dentro do que mereciam e no final, quase no final ela resolveu por cartas inadequadas na mesa. E da forma mais errada. Ela sabia o quanto a amava, o quanto a queria, o quanto lhe representava. Haviam conversado inúmeras vezes sobre isso e sempre havia muita clareza em suas conversas.
Mas doía lembrar e saber que não a teria mais. Seu riso lindo, sua boca bem feita lhe vinha à mente, via-a no para brisa, bem ali. Seu corpo esguio, seios bem feitos, os cabelos do jeito que lhe agradava e a boca........ Sentia nitidamente o gosto daquela boca. Teve a nítida impressão, a sensação do seu corpo encostado no seu peito, como gostava de fazer. É, não seria fácil passar toda a semana, sem contar com a certeza de vê-la, de tê-la na sexta à noite. Imaginava o vazio da segunda-feira, segurando os impulsos para lhe ligar, ouvir sua voz doce dizendo que já estava com saudade e lhe dizendo que o amava..
O sol então se escondeu de vez, sombra tomando conta do vale cortado pela estrada e seu automóvel vagando no asfalto. A serra se aproximava. A noite ia chegando velozmente. Carros que vinham em sentido contrário já passavam de faróis acesos. Acendeu também o seu. No gesto, olhou o celular jogado no banco ao lado. Uma vontade louca de ligar. De dizer que era uma bobagem a decisão que tinham tomado. Pedir que reconsiderasse. Ligou o CD, com certeza a música o envolveria e os pensamentos que bolinavam a dor que se fazia seriam tomados, esquecidos.
Impossível não lembrá-la. Impossível esquecer todos os momentos, o seu corpo, o corpo gostoso que tanto prazer lhe permitiu. Impossível superar as lembranças desde quanto a havia conhecido, naquele jantar chato de encontro de negócio e lá estava ela, linda, elegante, formal, já deixando transparecer a mulher doce e feminina por detrás do jeito altivo de se por. E quando a olhou, quando conseguiu encontrar seus olhos, fixar sua boca linda, exatamente naquele instante, no sorriso que obteve de volta, que lhe desnudou da armadura da formalidade, bem ali, naquele instante, concluiu que havia encontrada a mulher dos seus sonhos.
Beijou-a na mesma noite. Amou-a na mesma noite. Na mesma noite se encantou, se apaixonou. Na mesma noite sentiu o prazer de fazer sexo com a mulher que procurava há tantos anos. Na mesma noite ela dormiu linda, cálida e meiga, no seu peito e como foi bom acordar no dia seguinte e vê-la ali, nua, inteira, linda e sua. Que sábado tiveram, esqueceram o mundo, os problemas, os compromissos e se entregaram ao prazer da companhia. E assim foi, assim era e assim achavam e queriam e planejavam seria para sempre.
As mãos no volante. Olhos na estrada já escura e o farol cortando o asfalto. A estrada já era mais curva, subidas fortes e barulho do motor se esforçando serra acima. Seria alguns kilômetros de subida, estrada ruim. Mas em uma hora chegaria em casa. Difícil seria chegar e se controlar para não ligar e lhe dizer que a amava, como fazia sempre. Difícil seria ir dormir sabendo que no dia seguinte não estaria misturando saudade e certeza de abraçá-la de novo, de ver seu riso solto e gostoso a lhe olhar daquele jeito. Afastava os pensamentos e se concentrava na estrada.
O telefone tocou. O coração acelerou o batimento. Era ela, teria que ser. Seria reticente...... Ou seria receptivo? Pegou o telefone, ensaiou um alô adequado e atendeu. Não era ela. Apenas um colega lembrando do compromisso de trabalho na manhã de segunda, confirmando se estava voltando e se estaria na reunião marcada. Confirmou que sim, que já estava na estrada e que estaria sim logo cedo para ainda repassarem o combinado para debater na reunião.
A curva se aproximando, o penhasco ao lado, a atenção no telefone, a velocidade, o farol contrário e a batida forte na proteção e perdeu o volante, perdeu o sentido da estrada, perdeu o sentido do que fazer e as coisas foram acontecendo, acontecendo.
O carro virando uma vez, mais uma a batida, barulho de vidros, estilhaços o ardume na perna, nas costas, o estrondo final e os sentidos se apagando...... Silêncio. Tentou levantar o corpo e o corpo não reagiu, nem a cabeça, nem os olhos obedeciam, não via mais nada, não ouvia nada, não sabia nada. O riso dela foi se esvaindo, ela ia se distanciando, mais longe, bem mais longe......subindo, vagando no espaço e sumiu. Sumiu.
(continua.......)