O Coração, o anjo, e a menina
Encontrei um coração triste, vagando pelas ruas, ele estava muito abatido. Eu fiquei um bom tempo olhando, vigiando, reparando em cada atitude dele, e ele não fazia nada, nem parecia bater, pobre coração, quanta compaixão tive naquele momento, o coitado sentou-se no banco da praça, eu me inquietei e quis saber o motivo de tanta tristeza, como podia um coração tão bonito, vermelho, jovem, em plena forma física, ser tão triste?
Aproximei, e cumprimentei-o cordialmente, ele olhou meio que sem saber o porquê de minha presença, mas não esboçou nenhuma indiferença, eu sentei-me ao seu lado, engoli seco para tomar coragem e perguntei-lhe:
- Coração por que andas tão triste?
E ele reagiu como eu temia, caiu em prantos depois se levantou e saiu correndo, eu comecei a segui-lo, mas ele tinha muito disposição, eu já estava me cansando quando ele entrou em uma casa, e era uma casa que eu conhecia bastante, era simplesmente a minha casa, ele se trancou em uma caixa que nada poderia abrir. Foi então que eu senti uma profunda tristeza tomar conta do meu ser, eu nem sabia explicar tamanha dor, cai de joelhos no chão, e até a lua teve pena do meu ser, pude vê-la chorando, as estrelas se apagaram e tudo ficou escuro, eu fiquei só, só como sempre estive, não havia nada nem ninguém por perto, eu gritava, mas ninguém me ouvia.
Então veio um Anjo, um anjo de verdade, desses que a gente encontra no teto de uma igreja, ele me ajudou a levantar e disse com sua doce voz:
- Não se angusties assim, pobre mortal, você não imaginava que suas atitudes fariam mal ao seu coração, vocês são todos muito tolos para pensar nisso. Quando todos estavam ao seu lado, você os ignorou, e pensou somente em ti, esqueceu-se de amar.
- Mas...
Não havia palavras eu não conseguia formular uma frase inteligível.
- Ainda há tempo – disse o anjo.
O Anjo, dizia tudo com maestria e firmeza, de quem sabe do que está falando, ele olhou nos meus olhos e prosseguiu.
- Tudo que você precisa é de um pouco de amor
Então o Anjo sumiu de repente e as estrelas começaram, a se acender uma a uma, a noite foi ficando mais clara, como se as estrelas tivessem caindo, e a rua brilhava como pedras de diamante, então eu escutei uma canção que lembrou minha infância, e era uma voz de menina, tão linda e encantadora:
Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Só pra ver
Só pra ver meu bem passar
Nessa rua
Nessa rua tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração...
Ela estava com a chave do meu coração, chegou perto e continuou a cantar:
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Tu roubaste
Tu roubaste o meu também
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
É porque
Só porque te quero bem